14 Mai 2021
Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu, na Amazônia brasileira, disse que há uma decepção marcante na região em relação à exortação apostólica pós-sinodal “Querida Amazônia”, fruto do Sínodo Amazônico realizado em Roma de 6 a 27 de outubro de 2019 e que foi publicada no dia 12 de fevereiro de 2020.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por The Tablet, 12-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Kräutler, que foi um participante proeminente no Sínodo, disse ao jornal Rupertusblatt, da Igreja de Salzburgo: “Estou convencido de que, para a maioria dos bispos da Região Amazônica, foi uma surpresa e até uma decepção que, na ‘Querida Amazônia’, não se disse nenhuma palavra sobre a abertura do sacramento da Ordem aos homens casados e sobre a ordenação de mulheres ao diaconato”.
Muitos bispos “estavam e ainda estão” procurando uma explicação plausível para a razão pela qual as duas questões acima não foram mencionadas. Alguns deles são da opinião de que o papa queria evitar um “cisma”, e ele “certamente esteve sob grande pressão da Cúria” na época, destacou Kräutler.
“Isso já estava muito claro nas sessões sinodais e durante as nossas conversas com a Cúria. Encontramos muito pouco entendimento sobre os problemas e as questões da Amazônia que vivemos no dia a dia.”
Referindo-se aos detalhes do documento, Kräutler disse ter notado imediatamente que havia uma “ruptura marcante” no quarto capítulo da “Querida Amazônia” – o capítulo intitulado “Um sonho eclesial”.
O Papa Francisco começa explicando que deve ser encontrada uma forma de levar a Eucaristia às comunidades remotas, relembrou Kräutler, citando o parágrafo 89: “Os leigos poderão anunciar a Palavra, ensinar, organizar as suas comunidades, celebrar alguns Sacramentos (...). Mas precisam da celebração da Eucaristia, porque ela ‘faz a Igreja’, e chegamos a dizer que ‘nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da Santíssima Eucaristia’. Se acreditamos verdadeiramente que as coisas estão assim, é urgente fazer com que os povos amazônicos não estejam privados do Alimento de vida nova e do sacramento do perdão”.
Mas, no parágrafo seguinte, destacou Kräutler, “Francisco pede apenas orações pelas vocações e diz que deseja ver a presença estável de lideranças comunitárias leigas maduras que receberam a autoridade necessária para liderar as comunidades. Há anos já temos tais lideranças leigas, mas elas não estão autorizadas a celebrar a Eucaristia com as suas comunidades. É disso que se trata”.
No entanto, só porque o Papa Francisco não mencionou as questões da ordenação de homens casados ao sacerdócio e da ordenação de mulheres diáconas em sua exortação pós-sinodal, isso “certamente não significa que essas questões estão fora da mesa”, sublinhou Kräutler.
Ele lembrou que, logo no início da “Querida Amazônia”, o Papa Francisco deixa claro que não iria abordar todas as questões que o Sínodo havia abordado e pede que as pessoas leiam o documento final do Sínodo com muita atenção.
E o documento final, destacou Kräutler, enfatizou a importância do diaconato permanente para as mulheres na Região Amazônica.
Ele estava pessoalmente convencido de que o ponto de partida de toda discussão sobre o ministério presbiteral não podia ser a tradição da Igreja primitiva, mas sim as necessidades de hoje.
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Bispos da Amazônia se dizem “decepcionados” com o resultado do Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU