14 Agosto 2024
Fazer todo o necessário, mas se abster de terapias fúteis. Devemos estar sempre do lado dos doentes. Quem está no Parlamento deve evitar fazer leis que tornem tudo mais difícil para as pessoas doentes que se gostaria de ajudar. As leis para evitar o sofrimento já existem. É preciso aplicá-las", diz Giuseppe Remuzzi, diretor do Instituto de Pesquisa Farmacológica Mario Negri Irccs.
Giuseppe Remuzzi é direto como sempre. Muito prudente sobre a hipótese de uma nova lei sobre o fim da vida, preocupa-se com uma coisa apenas: os pacientes e sua dor. Que pode ser tratada. "Os casos de fim de vida", diz ele, "são diferentes uns dos outros, a lei não é o instrumento para lidar com tudo o que diz respeito ao doente e à sua situação concreta. As leis já existem, mas se realmente uma nova lei vier a ser criada, eu a faria muito simples: quando já se fez tudo, mas realmente tudo que pode ser feito, e nada, mas realmente nada, consegue evitar o sofrimento daquele doente, o médico está ali justamente para evitar que ele sofra, naturalmente de acordo com ele e com os familiares".
A entrevista é de Francesco Ognibene e publicada por Avvenire, 11-08-2024. Tradução de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Como se faz "para evitar que ele sofra"?
O que está previsto na lei de 2017, a 219, "Normas relativas ao consenso informado e Diretivas antecipadas de tratamento", que prevê a sedação profunda contínua em determinadas circunstâncias para pacientes em uma condição de sofrimento refratária a qualquer tratamento e quando a morte é iminente.
Qual sua opinião sobre o debate sobre o fim da vida?
Acredito que não há nada mais hipócrita do que falar de suicídio assistido: é uma forma de eutanásia praticada não pelo médico, mas pelo próprio paciente. A nossa função como médicos é saber como aliviar ou remover a dor quando ela se torna insuportável. Precisamos de médicos treinados que conheçam seus pacientes e saibam como fazer as escolhas necessárias em casos difíceis.
O que deve ser feito diante de casos de sofrimento extremo?
Acredito que o que Pio XII disse em 1957 continua muito atual, quando enfatizou a importância de aceitar a morte como parte do plano divino e disse que, embora seja lícito usar meios proporcionais para preservar a vida, não é obrigatório prolongá-la artificialmente recorrendo a meios extraordinários ou desproporcionais se forem demasiado onerosos, dolorosos ou caros, ou se oferecerem poucas possibilidades de sucesso. Portanto, não à eutanásia, o sofrimento deve ser aliviado. Foi isso que a Igreja disse há quase 70 anos. Isso é o que eu também penso e o que os bons médicos nos hospitais fazem.
Você sempre pede para estar do lado dos pacientes e de suas necessidades. De que forma?
Acho que enquanto nos perdemos em debates abstratos, os doentes estão lá com sua dor: o que fazemos para aliviá-la? Se for preciso criar uma lei, que seja a mais simples possível. E não se entre em tecnicalidades que são de responsabilidade exclusiva dos médicos responsáveis pelo tratamento.
Qual deve ser o critério de referência no final da vida?
O bom senso. Eu me reconheço em uma expressão do Papa Francisco, que em 2017, dirigindo-se à Associação Médica Mundial, disse que é preciso "um suplemento de sabedoria, porque hoje é mais insidiosa a tentação de insistir com tratamentos que produzem efeitos poderosos no corpo, mas às vezes não beneficiam o bem integral da pessoa". Tudo o que é necessário deve ser aplicado, mas sem práticas fúteis. O que ele define como "suplemento de sabedoria" eu chamo de bom senso.
Francisco nos diz que podemos e devemos sempre cuidar "comprometendo-nos a combater tudo o que torna a morte mais angustiante e dolorosa, ou seja, a dor e a solidão". Essas são as coisas importantes, qualquer bom médico sabe.
Como o médico deve se comportar?
O princípio que sempre norteou minha vida é que ser médico é reanimar, mas também saber como suspender os tratamentos quando são inúteis. Isso faz parte das nossas responsabilidades e é proteger aqueles que não têm mais esperança, para que não tenham de se submeter a tratamentos inapropriados.
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"Nós, médicos, contra todo sofrimento", diz Giuseppe Remuzzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU