08 Agosto 2024
“As emissões globais de metano, um poderoso gás que aquece o planeta, estão ‘aumentando rapidamente’ no ritmo mais rápido em décadas, exigindo medidas imediatas para ajudar a evitar uma escalada perigosa na crise climática”, alertou um novo estudo publicado no final de julho (1).
A reportagem é de Robert Hunziker, historiador e jornalista ambiental, publicada originalmente por CounterPunch e reproduzida por Voces del Mundo, 02-08-2024. A tradução é do Cepat.
O novo estudo de Drew Shindell, et al, The Methane Imperative, Frontiers in Science, 29 de julho de 2024, examina o problema do metano e as medidas que devem ser tomadas para mitigar as suas emissões. Estas medidas são consideradas essenciais para cumprir os tão anunciados objetivos de limitar o aquecimento global, que não foi suficientemente limitado para que se observe qualquer efeito positivo. Pelo contrário, fica mais quente a cada ano.
Outro novo estudo destaca as falhas na resolução do problema do metano: “Novas medições aéreas exaustivas mostram que os produtores de petróleo e gás natural nos Estados Unidos estão emitindo metano para a atmosfera a uma taxa quatro vezes maior à estimada pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) para essas mesmas regiões com base nos dados reportados pela indústria. Os resultados também mostram que os operadores estão excedendo oito vezes as suas próprias metas de emissões amplamente alardeadas” (2).
“Independentemente das razões, as taxas de emissão são muito altas. As novas regras da EPA, há muito esperadas e finalizadas no início deste ano pela administração Biden-Harris, que aproveitam soluções amplamente disponíveis e econômicas, juntamente com os incentivos à redução do metano incluídos na Lei de Redução da Inflação (IRA), são vitais para reduzir os números. É essencial que os estados e a EPA avancem com a rápida implementação destas normas de proteção” (3).
Trump declarou publicamente que revogará a Lei de Redução da Inflação de Biden, caso for eleito, e fará com que os produtores fiquem livres e instituirá políticas que aumentem os gases de efeito estufa. Nesse sentido, de acordo com a Bloomberg News: “As políticas da Casa Branca impulsionaram planos de mais de 200 bilhões de dólares em investimentos, na sua maioria, de fabricação de tecnologia limpa (editor: 161 bilhões de dólares) em distritos com legisladores republicanos contrários (editor: todos se opuseram) à agenda” (4).
Os últimos dois anos de calor, além de mais calor recorde, são um sinal claro de fracasso no controle dos gases de efeito estufa produzidos pelos humanos, como o CH4, mas ainda mais preocupante é que o derretimento do permafrost, que se retroalimenta lenta mas continuamente, e o derretimento dos glaciares contribuem para aumentar os níveis de CH4 como se estivesse no piloto automático, alimentando-se do aquecimento global que cria, liberando CH4. Este é um perigo real e está piscando no vermelho. O controle das emissões de CH4 sempre que humanamente possível não pode ser feito no curto prazo. O aquecimento global não está esperando. Se as emissões não forem interrompidas, a situação poderá complicar-se muito em breve.
No momento em que as notícias globais já ecoam o sobreaquecimento generalizado do planeta, causado por níveis excessivos de gases de efeito estufa, as novas notícias de que o metano (CH4) disparou deveriam ser manchetes mais ousadas porque, de forma mais insidiosa que o CO2, aumenta o termostato, causando todos os tipos de problemas para a sobrevivência humana. Já existem várias regiões do mundo que estão na corda bamba, sentindo níveis perigosos de calor. “O corpo humano só suporta temperaturas acima de 35 ºC com alta umidade durante curtos períodos de tempo” (5).
Os humanos perdem 80% do calor corporal através do suor. Quando a umidade e o calor combinados são muito altos, a transpiração torna-se cada vez mais difícil até que se torna impossível livrar-se do calor. De acordo com um estudo da Universidade Estadual do Arizona, um jovem adulto saudável pode morrer depois de exposto durante seis horas a 33,3 ºC e 50% de umidade (6).
De acordo com o Global Methane Tracker 2024: “A concentração de metano na atmosfera é agora mais de duas vezes e meia superior aos níveis pré-industriais. O aumento acelerou nos últimos anos e dados preliminares indicam que houve outro aumento anual significativo em 2023”.
Earth System Research Laboratories (em 5 de julho de 2024). Médias mensais globais de CH4:
Março de 2024 – 1930,75 ppb (partes por bilhão);
Março de 1983 – 1645,00 ppb (quando as medições oficiais começaram).
O estudo de Shindell aponta claramente para os combustíveis fósseis, principalmente a produção de petróleo e gás, e para o aumento das taxas de decomposição das áreas úmidas devido ao aquecimento global, o que naturalmente acelera os níveis excessivos de CH4, ou seja, se retroalimenta. Isto é evidente na vastidão do permafrost ártico que cobre aproximadamente 20% do Hemisfério Norte. É uma bomba-relógio que já foi acionada. E é enorme.
Esperamos que os países do mundo ajam rapidamente para tomar medidas de mitigação, porque a maldição do metano não se limita à produção de petróleo e gás e às zonas úmidas em certas regiões de fácil acesso. Vários estudos expuseram ameaças até agora ignoradas onde o CH4 está armado e carregado e pronto para acelerar. Por exemplo, (1) um estudo recente descobriu a migração de gás metano abaixo da base do permafrost em Svalbard, na Noruega, o que tem “implicações significativas para as mudanças climáticas”. (2) o Arctic News, 14 de janeiro de 2024, relatou o impacto do aumento da temperatura dos oceanos no Hemisfério Norte: “… ameaça provocar uma rápida desestabilização dos hidratos de metano no fundo do mar do Oceano Ártico e desencadear erupções explosivas de metano, uma vez que o seu volume se multiplica entre 160 e 180 vezes ao sair do hidrato”.
De acordo com alguns estudos, há a possibilidade real de que se desencadeie uma catástrofe climática com potencial de acabar com a humanidade: “As bombas de metano – campos de gás em que apenas fugas resultantes da plena exploração dos recursos dariam origem a emissões equivalentes a pelo menos um bilhão de toneladas de CO2 – representam uma enorme ameaça para o clima e têm o potencial de liberar níveis de metano equivalentes a três décadas de todas as emissões de gases de efeito estufa dos EUA, segundo revelou uma nova pesquisa do The Guardian” (7).
Implícito nestes estudos recentes está uma perturbadora e incompreensível sensação de fracasso humano no enfrentamento dos riscos de extinção da humanidade. Quando os sinais se tornarem mais claros, será tarde demais. Na verdade, há rumores de que o “tarde demais” pode estar chegando, mas isso é muito pessimismo, não é? Em todo caso, a contrapartida do pessimismo em relação às mudanças climáticas é que ninguém sabe ao certo quando irão acontecer, mas as tendências contam uma história, como as mudanças radicais nos ecossistemas, como as dezenas de milhares de lagos termocársticos emissores de CH4 que aparecem repentinamente nas regiões árticas de permafrost da Sibéria e do Alasca como bolhas de metano que são inegavelmente factuais e impossíveis de medir com precisão, mas que rapidamente sobem à superfície e desaparecem na atmosfera, definindo um futuro nublado e incerto.
1. Global Methane Emissions Rising at Fastest Rate in Decades, Scientists Warn, The Guardian, 30 de julho de 2024.
2. New Data Show U.S. Oil & Gas Methane Emissions Over Four Times Higher Than EPA Estimates, Eight Times Greater Than Industry Target, Environmental Defense Fund, 31 de julho de 2024.
3. Idem, ibidem.
4. Bloomberg News, 20 de junho de 2024.
5. Americares.
6. Hottest Survivable Temperatures Are Lower Than Expected, Scientific American, 12 de dezembro de 2023.
7. Methane Bombs’ Release 30 Years Equivalent of US Greenhouse Gas Emissions, Risk Triggering Climate Catastrophe, Earth.org, 8 de março de 2023.
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Emissões de metano, “as mais rápidas em décadas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU