Produção de alimentos gera 45% das emissões de gases do efeito estufa na Ibero-América

Fonte: Wikimedia Commons

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06 Abril 2023

Os países da Ibero-América têm uma oportunidade para lutar contra a mudança climática por meio de uma guinada substancial no paradigma da produção de alimentos. O desafio é significativo se considerarmos que abastecer de alimentos seus 22 países gera 45% das emissões de gases do efeito estufa da região, segundo informou o III Relatório do Observatório La Rábida sobre Desenvolvimento Sustentável e Mudança Climática para a Ibero-América, apresentado nas vésperas da Cúpula Ibero-Americana.

A reportagem é de Sonia Corona, publicada por El País, 23-03-2023. A tradução é do Cepat.

O estudo demonstra os problemas que a Ibero-América já enfrenta em suas cadeias alimentares e o impacto que está causando em seus ecossistemas, mas, ao mesmo tempo, propõe soluções para que os membros implementem planos que ajudem a mitigar os efeitos ambientais. Na Ibero-América, a produção de alimentos, por meio da pecuária e da agricultura, é altamente poluente e seus efeitos, por sua vez, contribuem para colocar em risco a segurança alimentar da população.

A melhora nas cadeias de distribuição dos produtos agrícolas, cada vez mais globalizadas, aprofundam o problema das emissões necessárias para que um produto chegue ao consumidor. “Os sistemas alimentares ibero-americanos deixaram de ser tradicionais - com cadeias curtas de produção e consumo - para se tornarem modernos, com maior quantidade de alimentos processados, que percorrem em média 3.000 km e são armazenados, refrigerados e vendidos em grandes comércios”, explica o relatório.

Às altas emissões, sugere a pesquisa, somam-se dois opostos sofridos pela população da região: a fome e a obesidade. O acesso a alimentos de baixa qualidade nutricional reduz o estado de saúde dos ibero-americanos, desde muito cedo. Ao mesmo tempo, cerca de 60 milhões de habitantes da América Latina e o Caribe não possuem comida necessária para passar um dia.

“Além da falta de acesso aos alimentos, grande parte da população ibero-americana também não tem acesso a uma alimentação saudável, já que seu custo pode ultrapassar 3,60 dólares na América do Sul e 4 dólares nos países do Caribe. Mais de 50% da população não pode pagar, seja pelo nível de renda, a desigualdade ou a incidência da pobreza”, aponta o estudo.

O cálculo é que 30% desses alimentos, que já geraram emissões em seus processos de produção e distribuição, não chegarão aos consumidores e acabarão no lixo. “Na América Latina e no Caribe, as perdas ocorrem nas etapas de colheita, transporte e armazenamento, ao passo que nos países da Península Ibérica, o desperdício de alimentos é maior na venda e no consumo final”. A organização aponta que se produz uma cadeia que não prejudica apenas o meio ambiente, mas também acaba impactando na saúde dos habitantes da região.

“A solução para a crise climática passa pela Ibero-América e não devemos esquecer isto”, comentou Andrés Allamand, secretário-geral ibero-americano, durante a apresentação do relatório. O ex-chanceler chileno afirmou que, nas últimas cinco cúpulas dos 22 países, debateu-se recorrentemente a preocupação com o impacto que a cadeia alimentar possui na mudança climática. Allamand destaca que o papel da Ibero-América em contribuir para a mitigação global das emissões de gases do efeito estufa pode começar com a criação de um “círculo virtuoso” que ataque cada um dos fatores que prejudicam a segurança alimentar dos ibero-americanos.

O relatório propõe uma série de soluções que os países podem implementar. Entre elas, estão o planejamento de cadeias curtas de produção e consumo; a implementação de dietas sustentáveis e saudáveis para a população, apoiadas pelos Estados; a inclusão dos povos indígenas nos processos agrícolas e a implementação de medidas dentro dos mesmos ecossistemas para evitar maiores intervenções e danos ao meio ambiente.

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