15 Julho 2024
Teologia moral e formação da consciência: por um pensamento crítico e pela construção da utopia é o tema do Congresso Brasileiro de Teologia Moral 2024 promovido pela Sociedade Brasileira de Teologia Moral – SBTM. Entre os dias 14 e 16 de agosto, na cidade de São Paulo, teólogos e teólogas moralistas de todo o Brasil, juntamente com convidados de outras disciplinas, se reunirão no ITESP–Instituto São Paulo de Estudos Superiores, para refletir sobre questões pertinentes à realidade nacional e internacional.
Texto escrito pela diretoria da SBTM e enviado ao Instituto Humanitas Unisinos — IHU.
A diretoria da SBTM é composta por:
Mario Marcelo Coelho – professor de teologia moral na Faculdade Dehoniana em São Paulo e presidente da Sociedade Brasileira de Teologia Moral.
Alexandre A. Martins – graduado em Teologia pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo e pela Pontificia Studiorum Universitas Salesiana, de Roma, mestre em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Teologia Moral.
Lúcia Eliza Alburquerque – secretária da Sociedade Brasileira de Teologia Moral.
André Boccato de Almeida – doutor em Teologia Moral e tesoureiro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral.
Gostaríamos de aproveitar a oportunidade dada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU para iniciarmos essa reflexão crítico-dialogal, coletiva e plural que será promovida pelo congresso e convidar você, leitor, a se juntar a nós nesse processo.
Vivemos em tempos de contradições e paradoxos, entre o avanço tecnológico e o isolamento em bolhas ideológicas que privam de ver o mundo como ele de fato é. Se, por um lado, a informação se tornou mais acessível, por outro, as bolhas limitam o que é acessado, criando uma realidade paralela. Com o avanço da inteligência artificial, passamos do problema das fake news para o das deep fake, isto é, um nível mais profundo de manipulação, que faz parecer real o que não existe; ou pelo menos não existe na realidade concreta cotidiana, mas passa a existir como uma fantasia com impacto real em indivíduos e sociedades.
O mundo nunca foi tão rico economicamente como hoje; contudo, nunca experienciamos tamanha pobreza e desigualdades socioeconômicas, pois tal riqueza é cada ver mais concentrada nas mãos de poucos bilionários, chegando ao dado escandaloso de que o valor econômico controlado pela pessoa mais rica do mundo é maior do que o PIB de vários países. Outro exemplo é que cada vez mais aumenta a consciência sobre a desvantagem de populações e grupos historicamente marginalizados e oprimidos como uma das consequências do colonialismo histórico e da imposição de uma suposta supremacia de um povo – o europeu branco – sobre o outro, especialmente indígenas e negros. Contudo, a reação a essa consciência e a resistência à mudança são ainda mais fortes que o próprio movimento de descolonização de sociedades e mentalidades, visto claramente em políticas de censura de conteúdos sobre racismo em escolas e no crescimento de movimentos de ultradireita que abertamente pregam a supremacia branca.
Foto: Reprodução
Esse é um snapshot dos nossos tempos, claramente marcado por contradições e paradoxos. A realidade é muito dinâmica. A velocidade desse dinamismo deixa qualquer um perplexo e, mesmo aqueles e aquelas que se dedicam a analisar os desafios que dele derivam e buscam desenvolver alternativas de esperança, têm dificuldade de acompanhar tal dinamismo, quando não enlouquecem diante da velocidade dos fatos e das transformações. Por isso, precisamos nos perguntar: como fica a teologia e, especificamente a teologia moral, diante dessa realidade?
Falado sobre a teologia e o papel dos teólogos e teólogas, o Papa Francisco afirmou:
A promoção da teologia no futuro não pode se limitar a propor abstratamente fórmulas e esquemas do passado. Chamada a interpretar profeticamente o presente e a vislumbrar novos itinerários para o futuro à luz da Revelação, a teologia terá de enfrentar profundas transformações culturais, consciente de que ‘o que vivemos não é simplesmente uma era de mudança, mas uma mudança de época’ (Ad theologiam promovendam 1).
E acrescenta:
A reflexão teológica é, portanto, chamada a uma transformação, a uma mudança de paradigma, a uma revolução cultural corajosa que a compromete, antes de mais nada, a ser uma teologia fundamentalmente contextual, capaz de ler e interpretar o Evangelho nas condições em que vivem diariamente os homens e as mulheres, nos diferentes ambientes geográficos, sociais e culturais, e tendo como arquétipo a Encarnação do Logos eterno, a sua inserção na cultura, na cosmovisão e na tradição religiosa de um povo. A partir daqui a teologia não pode deixar de evoluir para uma cultura de diálogo e de encontro entre diferentes tradições e formas de conhecimentos, entre diferentes denominações cristãs e diferentes religiões, confrontando abertamente todos, crentes e não crentes (Ad theologiam promovendam 4).
Para o Papa Francisco, os desafios da realidade contemporânea exigem respostas adequadas. Não há fórmulas prontas, especialmente vindas do passado, para responder às questões do presente. Há um caminho de busca por respostas e esse se faz em diálogo e no encontro entre os diferentes. Para tal, precisamos romper as bolhas que nos separam, de modo que cultivemos a “paciência da escuta e do confronto (...) [em busca] de soluções comuns que reconheçam e garantam o respeito pela sacralidade de cada vida.” Nesse caminho, “é preciso evitar dinâmicas extremistas de polarização, mais típicas do debate mediático do que de uma investigação científica e teológica saudável e fértil” (Discurso do Papa Francisco aos participantes no congresso da Academia Alfonsiana, 23.03.2023).
Os teólogos e teólogas moralista da SBTM, por mais de quarenta anos, têm promovido esse caminho dialógico, coletivo e plural, de ler a realidade contemporânea e seus desafios para, então, se colocar em um fazer teológico capaz de oferecer elementos na busca de respostas para questões que desafiam o desenvolvimento humano pessoal, comunitário e socioeconômico. Os congressos brasileiros de teologia moral e suas subsequentes publicações, promovidos anualmente pela SBTM, atestam esse compromisso. A última edição do congresso, realizada em 2023, com o tema: Neonazismo, manipulação moral e resistências: um grito profético diante dos distintos rostos de violência na América Latina e a publicação do livro com o mesmo título pela Editora Santuário mostram o caminhar dialógico, coletivo e plural dos teólogos e teólogas da SBTM, juntamente com parceiros de outras disciplinas, em busca de perspectivas para iluminar a realidade em que vivemos e seus desafios atuais.
Foto: Reprodução
No congresso de 2023, focamos nas formas de manipulação e no crescimento de grupos neonazistas e intolerantes. Neste ano, a proposta é refletir sobre os desafios para a formação da consciência dos sujeitos em tempos de perplexidade diante das contradições dos nossos tempos, sobretudo no contexto brasileiro. Dos muitos temas propostos pelos membros da SBTM para esse Congresso, percebeu-se que eles se cruzavam, prevalecendo como perspectiva transversal a emergência do pensamento crítico. Após longos debates, pensamos em vários cenários – como o religioso, o social, o virtual e os promotores de conhecimento – nos quais se percebem algum tipo de promoção, seja por narrativas ou por ações, da perda de liberdades, da autenticidade e da verdade sobre si. Dessa forma, como horizonte possível, vislumbrou-se o exercício do pensamento crítico como despertar das consciências manipuladas e um potencial reconstrutor de valores humanizantes, comprometidos com a verdade e com os direitos dos outros, especialmente das minorias, através da educação libertadora e proporcionadora de justiça. A partir disso, optamos pelo tema: Teologia Moral e formação da consciência: por um pensamento crítico e pela reconstrução da utopia.
A construção desse tema foi coletiva, considerando a realidade contraditória e paradoxal que vivemos, e em resposta ao apelo do Papa Francisco por uma teologia profética e contextual que se estrutura na “cultura de diálogo e de encontro entre diferentes tradições e formas de conhecimentos”. Dessa forma, o Congresso desse ano, estruturado em torno de um tema que fosse abordado a partir da ética-teológica e de forma interdisciplinar, provoca-nos a pensar sobre os desafios no processo de formação da consciência; o ambiente digital como mecanismo manipulador e de exclusão; as novas formas de colonialismo; as epistemologias de resistência frente à hegemonia eurocêntrica; os conceitos decolonialidade e interseccionalidade; e a educação como prática formativa. Junte-se a nós!
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O papel da teologia moral na formação da consciência e do pensamento crítico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU