17 Janeiro 2024
O novo estudo Desigualdade S.A. foi lançado durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne lideranças políticas e econômicas globais.
A reportagem é publicada por Oxfam Brasil, 14-01-2024.
Os cinco homens mais ricos do mundo mais que dobraram suas fortunas desde 2020 – de US$ 405 bilhões para US$ 869 bilhões -, a uma taxa de US$ 14 milhões por hora, enquanto quase cinco bilhões de pessoas ficaram mais pobres, revela o novo relatório da Oxfam, Desigualdade S.A., lançado nesta segunda-feira (15/1). O relatório, que discute a relação das desigualdades e o poder corporativo global, mostra ainda que se a tendência atual continuar, o mundo terá seu primeiro trilionário em uma década, mas a pobreza não será erradicada nos próximos 229 anos.
O relatório Desigualdade S. A., publicado no início do Fórum Econômico Mundial, que reúne a elite do mundo corporativo em Davos, na Suíça, informa que sete das 10 maiores corporações do mundo têm um bilionário como CEO ou principal acionista. Essas empresas valem US$ 10,2 trilhões, mais do que o PIB combinado de todos os países da África e da América Latina.
Clique aqui e baixe o relatório.
“Os super-ricos concentram cada vez mais riqueza e poder. Isso agrava as desigualdades globais de maneira absurda”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “No Brasil, a desigualdade de renda e riqueza anda em paralelo com a desigualdade racial e de gênero – nossos super-ricos são quase todos homens e brancos. Para construirmos um país mais justo e menos desigual, precisamos enfrentar esse pacto da branquitude entre os mais ricos”.
“O poder corporativo e monopolista desenfreado é uma máquina geradora de desigualdade. Pressiona trabalhadoras e trabalhadores, promove a evasão fiscal, privatiza o Estado e estimula o colapso climático”, diz Katia.
“As empresas estão canalizando a maior parte da riqueza gerada no mundo para uma ínfima parcela da população, que já é super-rica. E também estão canalizando o poder, minando nossas democracias e nossos direitos. Nenhuma empresa ou indivíduo deveria ter tanto poder sobre nossas economias e nossas vidas. Ninguém deveria ter um bilhão de dólares!”, afirma Katia.
Alguns dos destaques do relatório:
O aumento acelerado da riqueza extrema dos últimos três anos solidificou-se, enquanto a pobreza global permanece em níveis pré-pandêmicos. Os bilionários estão US$ 3,3 trilhões mais ricos do que em 2020 e sua riqueza cresceu três vezes mais rápido do que a taxa de inflação no período.
A exemplo dos super-ricos, as grandes empresas deverão quebrar recordes de lucros em 2023. As 148 maiores empresas do mundo arrecadaram US$ 1,8 bilhão em lucros totais até junho de 2023, 52% a mais do que média de lucro líquido observada entre 2018 e 2021. Os chamados ‘lucros extraordinários’ chegaram a US$ 700 milhões. O relatório Desigualdade S. A. informa que a cada US$ 100 de lucro obtido por cada uma das 96 maiores empresas do mundo, entre julho de 2022 e junho de 2023, US$ 82 foram pagos a seus acionistas mais ricos.
“Monopólios podem prejudicar a inovação e prejudicar trabalhadoras e trabalhadores e pequenos negócios. O mundo não esqueceu como os monopólios farmacêuticos privaram milhões de pessoas das vacinas contra a Covid-19, criando um apartheid vacinal, enquanto criava um novo clube de bilionários”, afirma Behar.
As pessoas pelo mundo estão trabalhando mais e mais, muitas vezes por salários baixos e empregos precários e inseguros. Os salários de quase 800 milhões de trabalhadoras e trabalhadores não vêm acompanhando a inflação e perderam US$ 1,5 trilhão nos últimos dois anos (ou 25 dias de salários perdidos por cada trabalhador).
A análise feita pela Oxfam dos dados do World Benchmarking Alliance em mais de 1.600 grandes corporações em todo o mundo revela que 0,4% delas estão publicamente comprometidas com o pagamento de salários justos e apoiam o pagamento de um salário justo em suas cadeias de fornecimento. Levaria 1.200 anos para uma mulher que trabalha no setor de saúde ganhar o que um CEO médio de uma das empresas da lista de 100 maiores da revista Fortune ganha em um ano.
O relatório da Oxfam também mostra como a “guerra contra a tributação” pelas corporações resultou numa redução significativa do imposto sobre corporações, para um terço do que era praticado nas últimas décadas, enquanto essas corporações privatizaram o setor público, segregando serviços como educação e de água.
A Oxfam requer que os governos reduzam drasticamente a diferença entre super-ricos e o resto da sociedade, por meio de:
Para baixar o relatório Desigualdade S. A. e a nota metodológica, clique aqui.
Levará quase 230 anos para reduzir a zero o número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza estipulada pelo Banco Mundial (renda abaixo de US$ 6,85).
De acordo com o FMI, o PIB combinado das economias da África em 2023 foi de US$ 2,8 bilhões e da América Latina e Caribe foi de US$ 6,5 bilhões, totalizando US$ 9,4 trilhões.
A Oxfam define ‘lucros inesperados’ como aqueles que excedam em mais de 20% a média verificada entre 2018 e 2021.
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Riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo dobrou desde 2020, enquanto a de 5 bilhões de pessoas diminuiu, revela novo relatório da Oxfam - Instituto Humanitas Unisinos - IHU