11 Fevereiro 2019
O Pontífice espera que os estudos de teologia moral sejam capazes de acompanhar uma Igreja "em saída" e de encontrar a vida e as pessoas de modo concreto. E pede este compromisso aos cerca de 400 presentes, entre professores e estudantes da Academia Alfonsiana - Instituto Superior de Teologia com sede em Roma, recebendo-os em audiência nesta manhã, na Sala Clementina no Vaticano.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 09-02-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.
O motivo da audiência é o 70º aniversário da Academia, fundada em 1949 pelos Padres Redentoristas e dedicada a seu fundador, Santo Afonso Maria de Ligório. Este aniversário, destaca Francisco em seu discurso, oferece a oportunidade de dar graças a Deus por tudo o que se fez até agora, mas também de olhar para frente, redesenhando e renovando a própria missão de uma maneira "sábia e corajosa", para responder melhor às expectativas do povo de Deus.
É um caminho, disse Francisco, ao qual são chamadas todas as estruturas acadêmicas da Igreja, e para alcançá-lo é indispensável assumir um "critério prioritário e permanente": o de contemplar e tornar próprio, do ponto de vista espiritual, intelectual e existencial, "o coração do querigma", ou seja, "a sempre nova e fascinante alegre notícia do Evangelho de Jesus". E o Papa continua, referindo-se à Constituição Apostólica Veritatis Gaudium: Então será possível realizar um "amplo diálogo: não como uma mera atitude tática, mas como uma exigência intrínseca para fazer a experiência comunitária da alegria da Verdade e para aprofundar seu significado e suas implicações práticas".
Francisco destaca a necessidade de que as instituições eclesiais de todo o mundo aprendam a se "conectar" entre si, mas também com as realidades acadêmicas dos diversos países e com "as que se inspiram nas diferentes tradições culturais e religiosas", para encontrar, juntos, soluções adequadas aos "problemas de importância da época, que afetam a humanidade hoje". Referindo-se em particular à Academia Alfonsiana, o Papa destaca a perspectiva – em fidelidade a suas próprias raízes – de um compromisso ainda maior "com uma teologia moral animada pela tensão missionária da Igreja ‘em saída’". E citando a Exortação Apostólica Amoris Laetitia, recomenda: "Como Santo Afonso, devemos evitar sempre a postura de nos deixar fechar em posições escolares ou em juízos formulados ‘distantes da situação concreta e das possibilidades reais’ dos indivíduos e das famílias. Da mesma forma, precisamos nos proteger de uma ‘idealização excessiva’ da vida cristã, que não é capaz de despertar confiança na graça".
Trata-se, pois, de escutar sem temor a realidade concreta e a voz do Espírito, para "ajudar todos a caminhar com alegria pelo caminho do bem". Seguindo o exemplo do próprio Santo Afonso, afirma o Papa: "As realidades que devem ser escutadas são, sobretudo, a dos sofrimentos e das esperanças daqueles aos quais as múltiplas formas de poder do pecado continuam condenando à insegurança, à pobreza e à marginalização. Santo Afonso compreendeu logo que não se tratava de um mundo do qual era preciso se defender, e muito menos a ser condenado, mas um mundo para curar, curar e libertar, à imitação da ação de Cristo: encarnar-se e compartilhar as próprias necessidades, despertar as expectativas mais profundas do coração, fazer experimentar que cada um, por mais frágil e pecador que seja, está no coração do Pai celestial e é amado por Cristo, inclusive até a cruz".
A misericórdia é, portanto, para Francisco, a palavra chave da teologia moral. De fato, Jesus disse a seus discípulos: "não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo". A integridade do ensino moral da Igreja deve ser sempre cuidada, mas os valores mais elevados do Evangelho devem ser evidenciados, em primeiro lugar, a caridade. E cita o apóstolo Paulo, segundo quem o Espírito trazido por Jesus liberta "da lei do pecado e da morte" e nos faz filhos de Deus, filhos livres do temor.
Então, o Papa olha para o nosso mundo cada vez mais globalizado e com desafios globais que requerem a superação da ética individualista e a disposição para responder. E assinala três deles em particular, começando por aquele que ocorre devido "ao domínio crescente da lógica da competitividade e da lei do mais forte, que considera o ser humano como um bem de consumo". Depois cita a emergência ecológica, "o grito da terra, violada e ferida de mil maneiras pela exploração egoísta". E acrescenta espontaneamente: "Me chama a atenção o fato de que quando exercito o ministério da reconciliação, ou o exercitava, inclusive antes, raras vezes alguém se acusa de ter violado a natureza, a terra, a criação. Ainda não somos conscientes deste pecado. É seu trabalho fazê-lo".
“As novas possibilidades que o desenvolvimento das ciências biomédicas põem à disposição da humanidade” continuam sendo campo de investigação moral. E precisa: "No entanto, o testemunho franco do valor incondicional de cada vida não deve se perder nunca, reiterando que a vida mais frágil e indefesa é aquela da qual somos chamados a tomar partido de maneira solidária e com fé".
O Papa conclui seu discurso convidando a Academia Alfonsiana a continuar seu compromisso "de uma teologia moral que não hesita em ‘sujar as mãos' com a concretude dos problemas", "testemunhando com franqueza o Cristo caminho, verdade e vida".
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Francisco pede que os teólogos “sujem as mãos” para resolver os problemas concretos dos fiéis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU