12 Junho 2024
"As finalidades expressas pela Nota da Congregação da Fé em 2005 e recordadas também no Documento Universal sobre a Formação de 2016 (“O dom da vocação presbiteral”), são uma primeira e – pela primeira vez – orientação educativa explicitada sobre o celibato daqueles que têm uma orientação homossexual. Os critérios essenciais permanecem válidos, mas devem ser lidos à luz de uma compreensão cada vez mais aprofundada dessa orientação", escreve Lello Ponticelli, padre e psicoterapeuta, em artigo publicado por Avvenire, 09-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O desafio educativo vale também para os candidatos ao sacerdócio. Parece algo óbvio, mas não é, especialmente quando se aborda o argumento da homossexualidade. O risco é que, como acontece com outros temas eticamente sensíveis, o debate seja facilmente dificultado por preconceitos de vários tipos. Todos deveríamos fazer um esforço para ter uma visão mais aberta, aprofundada e racional. Sobre a homossexualidade, como sobre a sexualidade em geral, o Papa Francisco disse e escreveu palavras que dão uma linha esclarecedora, a partir de um olhar de fé, sem nunca descuidar da preocupação com atitudes imaturas ou manipuladoras dos candidatos ao sacerdócio e dos próprios padres. É claro que não é positivo para ninguém subestimar a complexidade do tema da homossexualidade ou esquecer o quanto, mesmo na comunidade científica, o caminho para a compreensão da sua realidade, da sua gênese e das suas dinâmicas, foi e continua complicado.
O esforço do discernimento na escolha dos candidatos ao sacerdócio permeia a vida da Igreja, que nunca como neste momento tenta mostrar a todos o seu rosto materno, sinodal e samaritano. No esforço por um realismo saudável, portanto, certamente deve ser evitado o risco de seguir estratégias extremas que simplificam demais ou ingenuamente passam por cima. A séria questão do discernimento sobre a escolha do celibato para o Reino, partilhado pela maioria formadores, não se trata tanto de compreender a orientação sexual do candidato: trata-se, efetivamente, de quanto a sexualidade está integrada na sua personalidade e nos seus valores. Isso vale tanto no caso de pessoas heterossexuais como de pessoas homossexuais. Nos cursos de formação, portanto, apelar apenas para a norma segundo a qual uma pessoa homossexual não poderia ser aceita no Seminário nem receber o sacramento da ordem, empobrece o sentido que a própria norma deveria ter e avilta o dom do chamado, subestimando a primazia teológica da experiência espiritual e vocacional. A Igreja, especialmente a partir do Concílio, aperfeiçoou cada vez mais os seus critérios de discernimento, solicitando uma atenção especial à formação humana, à maturidade afetiva e à qualidade das relações interpessoais (PDV 43), para que o candidato, futuro padre, fosse “ponte e não obstáculo” ao encontro com Cristo. Com o tempo eu critérios, por meio de um diálogo profícuo com a psicologia, num horizonte de antropologia cristã (GS 62), tornaram-se cada vez mais específicos.
No processo de formação, portanto, não se pode deixar de prestar constantemente atenção ao conjunto da personalidade do candidato. Para todos, trata-se de encontrar e favorecer ainda mais um suficiente equilíbrio, uma maturidade global e as premissas para continuar a crescer em todos os aspectos da vida, ao longo de toda a vida, num discipulado e numa formação permanente. Como o candidato vive a sua orientação sexual? É ciente dela, entende as suas possíveis raízes, muitas vezes não sexuais? A gerencia de forma cada vez mais madura? Consegue integrá-la com o sentido e o estilo relacional próprio da vocação ao sacerdócio?
É preciso recordar que todos aqueles que empreendem um caminho rumo ao sacerdócio devem dar prova da capacidade de acolher e viver o celibato de modo suficientemente livre e sereno, como dom e como uma forma de amar mais e não menos. Não se trata apenas de aprender o autocontrole sobre os impulsos sexuais; de particular importância, de fato, é sobretudo a capacidade de relação com os outros (PDV 43), a capacidade de amar cada um de forma casta e “a castidade é a liberdade da posse em todos os âmbitos da vida... [porque] o amor que quer possuir, no final torna-se sempre perigoso, aprisiona, sufoca, torna infelizes”, como recorda o Papa Francisco a propósito da paternidade de São José (PC 7). É importante tornar-se pessoas que não se deixam aprisionar por competições, desconfiança e ciúme (NMI 43), respeitando os limites pessoais e alheios de forma saudável.
As finalidades expressas pela Nota da Congregação da Fé em 2005 e recordadas também no Documento Universal sobre a Formação de 2016 (“O dom da vocação presbiteral”), são uma primeira e – pela primeira vez – orientação educativa explicitada sobre o celibato daqueles que têm uma orientação homossexual. Os critérios essenciais permanecem válidos, mas devem ser lidos à luz de uma compreensão cada vez mais aprofundada dessa orientação. Além disso, pode-se imaginar realisticamente que, no contexto atual, os jovens e os jovens adultos apresentarão cada vez mais elementos de confusão, incerteza e fluidez na aquisição da sua identidade, especialmente na identidade sexual; mas o Senhor continuará a chamar ao sacerdócio e alguns, mesmo entre eles, sentirão querer sinceramente responder.
Trata-se, então, de nos dotarmos cada vez mais de presenças e propostas formativas também novas, formar cada vez melhor os formadores e despertar nos candidatos o desejo de continuar cuidando de si e dos irmãos mesmo depois do Seminário. Não será fácil responder a essas exigências, mas negligenciá-las ou simplificá-las poderá, talvez, impedir o sopro do Espírito e o primado da graça.
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Não basta apelar apenas às normas, são precisos caminhos para favorecer a maturidade. Artigo de Lello Ponticelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU