19 Março 2024
- O arcebispo de Kinshasa considera que "temos a impressão de que o Ocidente está perdendo suas próprias raízes", fazendo referência ao documento do Vaticano que está sendo alvo de críticas por parte dos setores mais conservadores da Igreja Católica.
- A declaração de Ambongo, em nome de toda a Igreja africana, logo seria contestada, entre outros episcopados, pelos do Norte da África e da África do Sul, e respondida com silêncio por grande parte das conferências episcopais do continente, que evitaram entrar no que parece ser uma guerra de legitimidade (ou cultural, como parece indicar o purpurado) entre parte da hierarquia eclesiástica africana e a Santa Sé.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 18-03-2024.
A possibilidade de a Igreja abençoar casais do mesmo sexo é, para o cardeal Ambongo, "uma colonização cultural do Ocidente". O cardeal congolês, presidente das Conferências Episcopais da África e membro do Conselho dos Cardeais (C9), é um dos grandes opositores no continente à declaração Fiducia Supplicans e deixa isto claro sempre que tem a oportunidade.
Assim, em uma entrevista concedida à cadeia de televisão católica francófona KTO, citada por Katholisch, o arcebispo de Kinshasa considera que "temos a impressão de que o Ocidente está perdendo suas próprias raízes", fazendo referência ao documento do Vaticano, que é objeto de críticas por parte dos setores mais conservadores da Igreja Católica.
#FiduciaSupplicans « Le continent #Africain l’a vécue comme une colonisation culturelle de l’#Occident » constate le cardinal #Ambongo, archevêque de #Kinshasa et président du SCEAM.
— KTOTV (@KTOTV) March 17, 2024
👉Entretien exceptionnel, présenté par @pdesaintpierre : https://t.co/9icRe3zibX@TataCardinal pic.twitter.com/dMY4zqd9hD
E é que, para Ambongo, a declaração vaticana é um verdadeiro problema para os cristãos na África, embora, na verdade, a maioria das dioceses e bispos do continente não tenha se pronunciado sobre a polêmica. Na África, segundo dados do Anuário Vaticano (2022), existem 57 países, mais de meio milhar de circunscrições eclesiásticas e 781 bispos.
No entanto, em janeiro, o próprio Ambongo se tornou porta-voz de todos os episcopados africanos, enviando uma pesquisa para todas as dioceses cujos resultados apontavam, segundo ele, que os bispos africanos rejeitavam, por ampla maioria, a bênção de casais homossexuais.
"Nós, os bispos africanos, não consideramos apropriado abençoar uniões homossexuais ou casais do mesmo sexo. Porque, em nosso contexto, isso causaria confusão e estaria em contradição direta com as normas culturais das sociedades africanas", disse Ambongo, em uma declaração que logo seria contestada, entre outros episcopados, pelos do Norte da África e da África do Sul, e respondida com o silêncio por grande parte das conferências episcopais do continente, que evitaram entrar no que parece ser uma guerra de legitimidades (ou cultural, como parece apontar o purpurado) entre parte da hierarquia eclesiástica africana e a Santa Sé.
No entanto, como se recordará, após a declaração de Ambongo, e em diálogo com o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, dom Víctor Manuel Fernández, houve uma declaração consensual em que Ambongo garantia não querer entrar em conflito com Roma e admitia que "cada bispo tem o direito de decidir se quer permitir esse tipo de bênçãos em sua diocese", embora acrescentasse que "as conferências episcopais africanas como um todo preferem não oferecer bênçãos a casais do mesmo sexo". Algo que, pelas reações posteriores de vários episcopados, não parece ser totalmente verdadeiro.
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Ambongo acusa os homossexuais de tentar uma “colonização cultural” da África - Instituto Humanitas Unisinos - IHU