04 Junho 2024
"Se renunciarmos a procurar a funda que mata o filisteu, podemos tecer uma rede cada vez mais densa, que aqui e ali pode se tornar o tecido da história", escreve Elsa Antoniazzi, em artigo publicado por Setimanna News, 31-05-2024.
O seminário da Coordenação das Teólogas Italianas (CTI) deste ano, realizado em Roma em 18 de maio, teve como título "Limite Justo. Estratégias da Violência. Possibilidades da Paz". Uma expressão capaz de evocar os muitos limites ultrapassados neste tempo: a violência contra as mulheres, os limites ultrapassados e as modalidades de conflito, que se apresentam hoje como males necessários, mas não o são – como lembrou a presidente Lucia Vantini na introdução.
Diante de uma série de alternativas rígidas, que parecem bloquear a possibilidade do raciocínio, as teólogas ainda se apoiaram nas palavras, procurando aquelas que podem gerar energia (Vantini).
Isso para transformar o próprio termo limite: de um impedimento a uma realidade que ocorre como evento de justiça. A referência a Simone Weil por Vantini merece ser relatada: "Simone Weil diz que a violência é sempre ilimitada, se expande, devasta, mata, humilha; e o limite que podemos tentar viver não vem de uma força contrária de contenção, mas de algo infinito que está em nós e que opera uma mudança que rompe todos os limites que consideramos injustamente naturais. É assim que se dissolvem os campos de tantos alinhamentos absurdos em que nos engajamos em batalhas que não são nossas".
Daqui se articularam as relações da manhã dedicadas a categorias fundamentais para a teologia – como sacrifício, kenosis, martírio, limite e vínculos. À tarde, o foco foi a paixão pela justiça: para que a violência não seja a última palavra – ou melhor, para que seja uma palavra não pronunciada.
Palavras de Emanuela Buccioni sobre o sacrifício ajudou a superar a alternativa rígida entre sacrifício de oferta (portador de morte) ou não sacrifício. Abraão interpretou o convite para subir ao monte como uma ordem para o sacrifício de Isaque, obscurecendo assim o outro sentido possível da subida – o de ir rezar. Dessa forma, a palavra de Deus podia ser compreendida como a injunção de ensinar Isaque a rezar. Em vez disso, Abraão compreendeu o comando à luz de um contexto por ele próprio internalizado em que a oferta exige destruição. Assim será também para o voto de Jefté que deverá sacrificar a filha.
A palavra profética repetirá várias vezes o convite a um sacrifício do coração: que é sacrifício, mas de louvor. Assim, a nota conclusiva: a sacralidade com que revestimos a violência não é neutra e, por outro lado, o consagrar pode ser a abertura de espaços em que Deus pode agir, engajando-nos em um sacrifício de louvor, de bênção da vida.
Cristina Simonelli partiu do termo travessia: que indica o ponto da costa onde a tempestade pode chegar de qualquer direção. A inédita imagem não foi usada por Simonelli para descrever tempestades, mas para indicar a necessidade e a possibilidade de estar nelas. O discurso de ódio exige palavras que saibam silenciar a violência. Os termos kenosis e cruz podem carregar violência e facilmente se aliaram ao patriarcado. No entanto, podem ser pronunciados deixando emergir o hapax que é Jesus na interpretação dessas palavras. A mesma dinâmica vale para as políticas discursivas em torno do martírio – esta última palavra só pode ser pronunciada se não replicar a própria violência. Em todos esses casos, trata-se de palavras que sabem fazer um vazio, que é energético porque as torna palavras "de poder com" e não sobre. Daqui o método indicado no movimento por lugar.
Se acima o mal-entendido do limite era o excesso, aqui é o fechamento: portanto, o limite deve ser atravessado para extrair energia do buraco negro que é a violência produzida pela história. Assim, Antoine Leiris, jovem marido e pai que perdeu a esposa no Bataclan, poderá dizer: meu filho não crescerá no ódio, vocês não terão meu ódio. Nesse compromisso de atravessamento, o fracasso não é excluído, sua sustentação. Somente em uma prática coletiva a não-violência pode ser dita e feita, parafraseando Butler, e aqui ver um antídoto – apoio para que essas palavras permaneçam realidade.
Letizia Tomassone denunciou os vínculos das palavras teológicas com a realidade socioeconômica: seguindo muitas teólogas (Rita Segato, Donna Haraway, Sally McFague) que estudaram o capitalismo a partir de uma perspectiva de gênero, mostrou como sacrifício e voto são palavras que retornam.
O capitalismo propõe o sacrifício de si para que cada um se torne exclusivamente consumidor; e só com as paixões, como diz Elena Pulcini, podemos escapar do capitalismo "apocalíptico" diante do qual parecemos não ter possibilidade de resposta.
O vazio, poderíamos dizer, é a categoria resultante da ausência do capitalismo, do retorno a uma economia de subsistência respeitosa da natureza, na clara consciência de que assim como é dito é quase impossível. Em cada gesto nosso, somos produtores e produtoras de plástico, verdadeiro signo do consumismo capitalista.
Mas ainda nascimento, relacionalidade e dependência tornam-se os caminhos principais para iniciar a retomada de uma vida natural – começando por incluir também os corpos do que chamamos natureza. O bom fim não é garantido: Stella Morra nas conclusões lembrará que nenhuma vida será perdida, mas do barco em que estamos todos não temos seguro.
Pela manhã, portanto, a reflexão das diversas teólogas feministas ofereceu os pontos de partida para descobrir mais uma vez os vazios do texto, mostrando também toda a capacidade transformadora da teologia feminista.
Justiça e regeneração O tema da tarde parecia mudar de página, porque dedicado ao tema da justiça e da construção de um ambiente comum. No entanto, as palavras ouvidas pela manhã encontraram aqui caminhos de práxis, oferecendo a interessante impressão de ouvir um eco, ou melhor: o prazer de identificar um horizonte performativo.
Donata Horak abordou a justiça, indicada como direito pelo artigo 3 da Constituição italiana e garantida por ela, com o compromisso de remover os obstáculos para que cada cidadão seja respeitado em sua dignidade. E aqui está o ponto importante, porque todo direito vive apenas se alguém o garante. No Código de Direito Canônico, por outro lado, no cânone 208, a igual dignidade é afirmada, mas não se indica quem deve garanti-la.
No entanto, tanto em âmbito estatal quanto eclesial, o conceito de justiça parece não sentir a injustiça. Para fazer justiça, no entanto, é preciso estar na luta; mas – como se dizia pela manhã – sem replicar e multiplicar violência e injustiça. Sob esse ponto de vista, a justiça regenerativa, e não reparativa, criada por uma mulher (Jaqueline Morineau), é uma justiça de proximidade equânime, mas que também exige uma comunidade.
Nessa perspectiva, pareceu importante o destaque sobre as novas normas do Direito Penal Canônico, que, em caso de abusos, se preocupa em isolar os culpados sem ainda lidar com a situação de desequilíbrio que favorece a triste proliferação dos abusos.
A relação de Vincenzo Rosito confirmou como a reflexão feminista é capaz de interceptar e ativar processos de enriquecimento mútuo com qualquer reflexão que tenha como foco principal não fazer do fundamento um recinto mortífero.
Na esteira de Bruno Latour, ele nos ofereceu palavras eficazes que podem acompanhar a análise dos discursos como das práticas: irredutibilidade, não reduzir tudo a um esquema já conhecido e rotulável, mas explicar a rede de mediações possíveis; de dois eventos semelhantes não procurar o que os une, mas as diversidades; menor – termo emprestado da arquitetura, é tal o lugar pensado sem uma conotação precisa, apenas o uso lhe dará uma sem que esta seja predefinida; corresponder, que não é fundar. Antes, é pensamento e gesto que exige improvisação e ajuste, porque cada um é um ator-rede capaz de fazer algo, mas não de determinar tudo. Mais uma vez, apenas a atenção mútua pode esperar ampliar o pensamento e a ação.
No conjunto, assim se consegue entrar em contato com a obra viva, expressão marítima para dizer da parte do barco que está debaixo d'água, e captar assim a obra morta, a parte visível da embarcação, em conexão. A metáfora foi transposta no debate para a eclesiológica, com deslizamentos de significados. E a coisa é interessante pelo testemunho da necessidade de proceder sem separar razões, disciplinas, perspectivas – como procurou fazer todo o seminário.
A incerteza A Stella Morra coube a difícil tarefa de reunir e entrelaçar ainda mais os percursos. A citação de Bonhoeffer, quase como título da intervenção, não era superficial, mas previsora: etsi deus non daretur: o retirar-se de Deus permite a maturidade e, ao mesmo tempo, nos ensina nosso verdadeiro estar diante de Deus marcado por um limite a ser vivido e descoberto.
É dessa situação que surge o tema do discernimento entre uma ética da responsabilidade e uma da justiça. As duas são superadas, não de forma hegeliana, por uma ética da radicalidade que ultrapassa o registro oposicional; mas sobretudo ajuda a estar seriamente na dimensão da incerteza, que define nossa realidade. Mais uma vez, é um caminho possível se for comum, porque na dimensão comunitária estão envolvidos todos, mesmo aqueles que se situam em um pensamento binário. A primeira ênfase apresenta um pensamento feminista capaz de dar voz e assumir responsabilidade por cada um, mesmo que não em imediata sintonia.
A indicação, por outro lado, é a assunção da incerteza que faz desta quase uma categoria política, fazendo da teologia feminista uma palavra política que se propõe oferecer um lugar para pensar a paz que seja comum, para todos. Para aprofundar, pode-se ouvir novamente as relações no site do CTI; lembrando que o CTI não é um congresso, mas um seminário em que a cada um é pedido participar, produzindo pensamento.
A título de simples exemplo, foi ouvindo o apelo a uma economia de subsistência que veio à mente a análise de Ivan Illich sobre o mundo industrial, de que ele bem mostrou o engano. Este de fato empobreceu os sujeitos, mesmo quando traz consigo efeitos "positivos". Pensemos na crítica do estudioso ao sistema médico, ou à escolarização. Também para Illich não se trata de voltar atrás, sonhando com uma idade de ouro. No volume "Gênero", nos anos oitenta, ele criticava a modernidade pela construção do sujeito abstrato. Diante disso, Illich propunha a pessoa e a comunidade convivial, cuja condição é a austeridade para evitar excessos que oprimam os outros.
Se renunciarmos a procurar a funda que mata o filisteu, podemos tecer uma rede cada vez mais densa, que aqui e ali pode se tornar o tecido da história.
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Teólogas italianas: limite justo. Artigo de Elsa Antoniazzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU