O retorno de Ivan Illich

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06 Janeiro 2023

A 20 anos de sua morte, Ivan Illich “está de volta”. E é um retorno de interesse – para aquele que havia sido “um herói para a geração dos baby-boomers”, mas que depois foi rejeitado ou esquecido –, intimamente ligado ao momento que a humanidade está atravessando: um período em que, como afirma seu discípulo e amigo Gustavo Esteva, “o colapso climático e o sociopolítico deixam-nos sem palavras”, enquanto “colapsaram os pilares intelectuais do nosso pensamento”.

A reportagem é de Claudia Fanti, publicada em Il Manifesto, 27-12-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Como destaca o livro de Aldo Zanchetta, “In cammino con Ivan Illich” [A caminho com Ivan Illich] (Ed. Hermatena, 196 páginas), o grande teólogo e filósofo austríaco já havia visto meio século atrás “as tendências que depois nos levaram ao desastre atual”. Por isso, “na escuridão que nos cerca, Illich é uma luz que ilumina o caminho possível”, escreve Zanchetta, propondo, junto com sua biografia, alguns pontos de um pensamento intolerante com cada divisão, alguns de seus textos mais significativos e uma série de testemunhos.

A caminho com Ivan Illich (Ed. Hermatena, 196 páginas) | Foto: Reprodução

Dotado de “um saber amplo que lhe permitia percorrer com agilidade muitos mundos culturais diversos, de uma memória prodigiosa, de uma boa intuição e de uma inteligência fora do comum”, Illich certamente foi uma figura profética. Não por acaso, o Cidoc, o Centro de Documentação Intercultural que ele criou em Cuernavaca, México, se tornou um ponto de encontro fundamental “de uma parte consistente da intelectualidade crítica internacional da época”.

Se um profeta, como ele mesmo repetia, não é aquele que vê o futuro em uma bola de cristal, mas aquele que “sabe ler corretamente o presente e descobrir suas linhas de força mais profundas”, Illich soube antecipar com surpreendente lucidez as ameaças e as contradições ocultas na mitologia do desenvolvimento, oferecendo uma “caixa de ferramentas” intelectual para enfrentar a atual crise global nas suas diversas manifestações econômicas, financeiras, políticas, ecológicas. E para realizar aquela mudança radical de rota – uma “reorientação da civilização” – sem a qual, aponta Zanchetta, não poderemos nos salvar.

Atento à evolução dos instrumentos que haviam acompanhado o percurso do Homo sapiens ao longo dos milênios, Illich havia intuído que o instrumento, entendido como um meio que o ser humano pode empregar para um determinado fim e depois “deixá-lo segundo sua própria vontade”, foi se transformando, a partir do fim do século XX, em algo diferente, instaurando uma nova relação com o corpo e tornando-o parte de um sistema que o engole, o fagocita, o torna parte de si mesmo.

Daí o conceito de “contraprodutividade”, “isto é, o fato – escreveu Illich – de que um dado instrumento (por exemplo um sistema de transportes), quando supera uma certa intensidade, inevitavelmente frustra o escopo para o qual havia sido criado, penalizando mais pessoas do que aquelas que conseguem se beneficiar de suas vantagens”.

E daí também o desafio de conseguir, segundo as palavras de seu amigo Jean Robert, “recolocar o instrumento moderno dentro de um conjunto de limites políticos definidos a partir de limiares dimensionais rigorosos”.

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