16 Fevereiro 2024
Nas palavras do Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca de Jerusalém dos Latinos, a guerra entre Israel e Hamas “é também um divisor de águas no diálogo inter-religioso, que não poderá mais ser como antes": o mundo judaico "não se sentia apoiado", os cristãos "se distinguiram, se não dividiram, no apoio a um lado ou a outro", os muçulmanos sentem-se "considerados coniventes com os massacres cometido em 7 de outubro". Uma ferida profunda que levará tempo para cicatrizar.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Reppublica, 15-02-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sobre a qual cai como sal a declaração da embaixada de Israel junto da Santa Sé. Dando voz a um sentimento indescritível de decepção para com o Papa Francisco que foi amadurecendo já nas horas imediatamente seguintes ao pogrom do Hamas. Em 8 de outubro, quando o horror ainda estava se revelando, Jorge Mario Bergoglio no Angelus dominical diz para acompanhar “com apreensão e dor o que está acontecendo em Israel, onde a violência explodiu ainda mais ferozmente, causando centenas de mortos e feridos", espera que "se compreenda que o terrorismo e a guerra não levam a nenhuma solução”. Israel e o mundo judaico esperavam mais. Um vulnus que se aprofunda quando um mês depois, em 6 de novembro, o Papa recebe um grupo de rabinos europeus: interage com eles, parece preferir as relações pessoais aos raciocínios, comunica um mal-estar, não lê o texto do discurso (no qual dizia não ao antissemitismo e ao "ódio bélico"). À tarde reúne-se durante um bom tempo com um grupo de crianças de todo o mundo.
Quem esperava que aquela fosse a oportunidade de ouvir uma forte condenação moral do Papa em relação ao Hamas pelo mais grave massacre de judeus desde o final da segunda guerra mundo, ficou perplexo. Um desconforto que se aprofunda em Israel quando, após uma invasão terrestre agora avançado na Faixa de Gaza, Bergoglio, depois de protelar, recebe em 22 de novembro, separadamente, tanto alguns familiares de reféns israelenses nas mãos do Hamas quanto um grupo de parentes dos palestinos que vivem em Gaza. Com estes últimos, relatam, ele fala de “genocídio”. Para o Papa é a forma de demonstrar uma "equiproximidade" a dois sofrimentos absolutos, para a Assembleia de Rabinos da Itália um balanço feito de “acrobacias diplomáticas, equilibrismos e gélidas equidistâncias”, que põe em questão “décadas de diálogo judaico-cristão falando de amizade e fraternidade”. O Cardeal Parolin replica, então, que a Santa Sé “tenta de todas as maneiras ser justa com todos e levar em conta o sofrimento de todos”.
O Papa Francisco está numa posição incômoda, como toda a Igreja. Escuta uns e outros. Fez inúmeros apelos “pela Palestina e por Israel”. Ele se comprometeu, em declarações oficiais e conversas privadas, em apelar pela libertação dos reféns detidos pelo Hamas. Numa carta recente "aos irmãos e irmãs judeus de Israel", condenou sem rodeios "qualquer forma de antijudaísmo e antissemitismo" que possa ter sido originada pela guerra em curso. Mas também está horrorizado pelas mortes em Gaza. Telefona todos os dias para a paróquia católica de Gaza, onde centenas de deslocados se refugiaram. Foi atualizado continuamente sobre a morte de Elham Farah, uma senhora de 84 anos morta por atiradores israelenses quando tentava voltar para casa, de Nahida e Samar, mãe e filha mortas por uma incursão de soldados no complexo paroquial, de Hani Abou, um jovem que não conseguiu continuar a diálise porque o hospital já não existia mais. Lutos e dores que, alternando iniciativas espontâneas e a arte da diplomacia, Bergoglio e seus os homens tentam manter unidos. Conscientes, como disse o Cardeal Pizzaballa durante uma palestra na Universidade Católica de Roma, que “cada um vê a si mesmo como vítima, a única vítima, desta guerra atroz. Quer e pede empatia pela sua própria situação, e muitas vezes percebe, na expressão de sentimentos de compreensão para com os outros, uma traição ou, no mínimo, uma falta de escuta do seu próprio sofrimento”. E que o diálogo inter-religioso, que hoje parece destruído, “terá talvez que realizar uma passagem importante e partir dos atuais mal-entendidos, das nossas diferenças, das nossas feridas”.
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O distanciamento entre o Papa e o Estado Judeu começou em 7 de outubro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU