07 Novembro 2023
"O antissemitismo sempre existiu em França, na Bélgica e também nos Países Baixos, certamente não é um problema recente." O escritor franco-marroquino Tahar Ben Jelloun, nascido em Fès há 78 anos, quando fala dos muitos episódios contra os judeus ocorridos na França após a eclosão da nova crise do Médio Oriente, volta no tempo para citar o caso Dreyfus: um caso político e social que remonta ao final do século XIX, quando um capitão judeu do exército francês foi injustamente acusado de espionagem. Desde aquele episódio "sempre houve racismo antijudaico nas mentalidades europeias", afirma Ben Jelloun, afirmando que "não se trata de um problema devido à Palestina."
Depois de 7 de outubro, data do ataque do Hamas a Israel, ocorreram cerca de mil casos de viés antissemita em França, dos quais 257 na região de Paris. "É um racismo que nunca parou de progredir na França nos últimos 20 anos", explica o escritor, que no final do mês lançará na Itália L'Urlo (O Grito, em tradução livre), livro publicado pela La Nave di Teseo, onde estão reunidas as suas reflexões sobre o conflito no Médio Oriente escritas nos últimos dias.
Falando da crescente ameaça contra os judeus na França, Ben Jelloun usa como exemplo o atentado ocorrido em 2012 em Toulouse, onde um terrorista franco-argelino, Mohammed Merah, matou 7 pessoas, entre as quais três crianças judias. A agressão que ocorreu na noite de sábado em Lyon contra uma mulher judia, que em sua casa recebeu duas facadas de um homem que ainda ontem era procurado, contribuiu para aumentar a tensão num país já abalado, embora o motivo do ataque ainda seja desconhecido.
A entrevista é de Danilo Ceccarelli, publicada por La Stampa, 06-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ben Jelloun, mas então na França não existe aumento da ameaça em relação à população judaica?
Claro que existe! Alguns idiotas aproveitam essa situação para semear o antissemitismo no país. Aqueles que recentemente cantaram hinos ao nazismo no metrô, cujas imagens circularam nas redes sociais, são adolescentes que nem sabem o que estão dizendo. As Estrelas de David encontradas em algumas casas são muito mais graves, como se fazia na década de 1930 para indicar as casas dos judeus. O antissemitismo na França é uma realidade que não deve ser encarada levianamente. Trata-se de um fenômeno grave, que sempre foi incentivado pela extrema direita.
E quais são as razões dessa escalada?
Na verdade, é muito difícil dizer. Alguns dizem que a crise em curso no Médio Oriente tem uma influência, mas acredito que tenha uma incidência mínima. O ódio aos judeus não precisa de causas porque o racismo nunca precisa delas. Quando se chama uma pessoa de 'árabe imundo' ou 'judeu imundo', certamente não há nenhuma referência ao que a pessoa fez, mas ao que ela é.
Os recentes atentados em Arras, no norte de França, e em Bruxelas levantam receios de uma nova onda de atentados na esteira das tensões no Médio Oriente. Estamos falando de um medo fundado?
O que acontece em Gaza preocupa os países vizinhos, como o Egito, a Jordânia ou o Iraque, porque estão ligados ao que acontece na região. Não vejo como o conflito possa ser trazido para a Europa.
Além dos aspectos de segurança, existem aqueles sociais. No sábado, em Paris, foi autorizada uma manifestação a favor da paz e do povo palestino depois das muitas proibições ocorridas nos últimos dias que impediram passeatas e reuniões desse tipo.
Na semana passada, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, decidiu multar em 135 euros quem saísse às ruas para se manifestar a favor da Palestina. Foi dado um passo à frente.
Entretanto, os ataques israelenses a Gaza continuam.
Estamos assistindo a uma guerra genocida. É uma vingança contra as populações civis palestinas.
É verdade que o Hamas cometeu um horror, mas agora Israel está punindo toda uma população.
Um massacre de civis, com crimes de guerra, está acontecendo diante da opinião internacional, denunciado também pelo secretário-geral das Nações Unidas, Antônio Guterres, e pela OMS.
Milhares de crianças morreram por causa de bombas, de feridas que não podem ser tratadas porque não há atendimento adequado no local, onde a água potável também é escassa. Tudo isso é indigno de um Estado que poderia ter feito a paz, mas nunca quis realizá-la. É um genocídio total e sem piedade perpetrado pelo governo de Benjamin Netanyahu, que hoje denuncio com firmeza.
Como chegamos a tal situação?
O ataque do Hamas foi preparado com muita antecedência. Mas também houve condições que levaram à agressão: o embargo a Gaza, as humilhações sofridas pelos palestinos, bombardeios lançados a cada movimento do Hamas. A responsabilidade deste último é importante, mas também há muitos erros cometidos por Israel.
A hipótese de uma trégua pedida com insistência pela comunidade internacional parece agora ser uma miragem.
Os únicos capazes de impor uma trégua a Israel são os Estados Unidos. Mas Joe Biden está muito cansado e delegou o diálogo a Antony Blinken. O primeiro-ministro Netanyahu, no entanto, é um homem intratável. Ele já humilhou Barack Obama quando era presidente e não vai aceitar o que lhe será dito por um Secretário de Estado. No entanto, os EUA deveriam pôr fim a esta guerra. É do interesse de todos, incluindo Israel.
A solução de dois Estados está definitivamente comprometida com esta nova crise?
Mas é impossível de realizar! Se você olhar para a distribuição do território, se parece com um queijo gruyere cheio de buracos. Os palestinos receberam apenas 18%. Um estado não pode ser criado em tal contexto. É necessário, em primeiro lugar, que Israel reconheça os direitos dos palestinos, negocie com eles um território e ponha fim à colonização e à ocupação. Hoje não vejo como se possa chegar a isso e a guerra só agravará a situação. Os massacres nunca resolveram nada.
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“Estamos assistindo a uma guerra genocida de Israel, uma vingança contra civis”. Entrevista com Tahar Jen Belloun - Instituto Humanitas Unisinos - IHU