06 Novembro 2023
Cerca de uma centena de líderes mundiais, protagonistas do mundo da tecnologia e estudiosos discutiram durante dois dias na cúpula sobre o desenvolvimento seguro da Inteligência Artificial, em Bletchley Park, nos arredores de Londres. Os participantes da cúpula, promovida pelo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, assinaram a primeira 'declaração internacional' no mundo sobre a chamada IA de fronteira, termo usado pelo governo inglês para indicar a Inteligência Artificial que poderia superar as capacidades dos sistemas mais avançados da atualidade.
A Declaração de Bletchley pede a cooperação global para enfrentar os riscos da IA, que incluem potenciais violações de privacidade e a eliminação de postos de trabalho. Assinado por 25 países e pela União Europeia, o documento afirma ainda que a Inteligência artificial deveria ser mantida “em segurança, para que seja centrada no ser humano, confiável e responsável’.
Pela Itália, a própria Primeira-Ministra, Giorgia Meloni, interveio e alertou para os riscos da Inteligência Artificial: “Prefigura um mundo em que o progresso já não otimiza mais as capacidades humanas, mas corre o risco de substituí-las”. Segundo a Primeira-ministra, a IA “está destinada ter um impacto marcante nos cenários geopolíticos e nos equilíbrios atuais, banalmente, porque é uma tecnologia que pode garantir a quem a administra e utiliza uma vantagem competitiva".
“Mais do que a Inteligência Artificial, deveríamos nos assustar com a estupidez natural que pode transformar esse instrumento de oportunidade em arma mortal para os seres humanos". Da irmã lua para o irmão algoritmo o passo é curto para o frei Paolo Benanti, quase em uma reescrita 2.0. do Cântico das criaturas que acaba por acolher com confiança as perspectivas das novas tecnologias, “na esteira do Concílio Vaticano II e da sua abordagem positiva à modernidade”. Religioso franciscano, o teólogo é um dos maiores especialistas mundiais em IA (Inteligência Artificial) a ponto de convencer o secretário General das Nações Unidas, Antônio Guterres, a incluí-lo entre os 39 especialistas do Novo conselho consultivo de inteligência artificial.
A entrevista é de Giovanni Panettiere, publicada por Quotidiano nazionale (Qn), 04-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Também desta vez, professor, o problema está mais na sua utilização do que no próprio meio?
Desde que pegamos pela primeira vez uma clava numa caverna, essa pode ser uma ferramenta para quebrar cocos ou para quebrar crânios, depende de nós. O mesmo vale para a IA que desperta grandes esperanças, mas também traz consigo riscos.
Quais?
A ideia de que o homem possa utilizá-la não para fins de bem, mas esteja condicionada por uma certa miopia que, em virtude de uma vantagem imediata ou egoísmo, lhe impeça de ver os enormes danos que causa aos outros. Essas máquinas são capazes de produzir imagens e textos indistinguíveis de documentos e fotos humanos, podem, portanto, mudar a opinião pública, convencer-nos a fazer algo em nosso detrimento ou de outros.
Como nos defender disso?
Por um lado, com uma formação, que nos eduque a procurar sempre a verdade, e uma cultura normativa composta por leis e regulamentos para proteger os neurodireitos, a começar pelo direito de não ser manipulados por uma máquina; por outro, evitando ficar isolados diante do grande fluxo de informações dos nossos tempos para reelaborá-las em outros em espaços reais de partilha, como as antigas praças medievais
O acordo de Bletchley Park, assinado ontem, vai na direção certa?
É um primeiro passo importante nessa nova história. Todo mundo agora percebeu que uma ferramenta tão poderosa precisa de regulamentação, a questão é o que ainda não sabemos exatamente como fazer.
Do ponto de vista ético, quais são as barreiras a colocar na diretriz para o emprego correto de Inteligência Artificial?
Prudência, transparência e busca do bem comum, sabendo que nós, católicos, somos chamados a caminhar junto com os outros homens de boa vontade, como nos ensina a Gaudium et spes do Vaticano II.
Há quem argumente que corremos o risco de perder postos de trabalho devido aos algoritmos...
Não é certo que o aumento da produtividade devido à AI engendre uma diminuição dos níveis de emprego. Vamos evitar os catastrofismos.
Que perspectivas você vê nos algoritmos?
Por exemplo, a possibilidade de intervir diretamente no domicílio de um doente crônico quando se constata, graças a um sistema de cálculo, que corre o risco de piorar. Isso significa menos hospitalizações e menos gastos para o Serviço de Saúde.
E o que Jesus pediria para escrever hoje ao ChatGPT?
Adão, onde você está, onde você se escondeu? A humanidade nunca deve ser posta de lado, também deve estar no centro da Inteligência Artificial.
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O frade escolhido pela ONU: “A inteligência artificial não deve nos assustar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU