01 Novembro 2023
O Sínodo demora nas reformas. Como seria de esperar, o relatório sumário da primeira fase da assembleia dedicada à sinodalidade não faz nenhuma proposta ao Papa para ordenar mulheres ao diaconato, nem homens casados ao sacerdócio. Tudo está congelado, tudo permanece em aberto, mesmo sobre os gays, pelo menos até 2024, quando o processo sinodal se encerrará e estes temas, que animaram o debate na Sala Paulo VI, voltarão a ser relevantes. As 1.125 formas (emendas) para “corrigir” (reescrever, para ser mais preciso) um texto que os liberais até consideraram “muito brando” no seu projeto inicial foram de pouca ou nenhuma utilidade.
O documento, votado em todos os seus parágrafos por maioria qualificada de 2/3 pelos 350 membros do Sínodo, incluindo 54 mulheres pela primeira vez, consiste em cerca de quarenta páginas. Encoraja-se uma renovação da linguagem litúrgica e reitera-se a opção preferencial da Igreja pelos pobres. O texto sublinha como surgiram “posições diferentes” no debate sobre o diaconato feminino, mas propõe-se continuar a “investigação teológica e pastoral” sobre o tema, aproveitando os resultados – ainda não divulgados – das duas comissões ad hoc estabelecidas pelo Papa nos últimos anos. A questão da superação do celibato obrigatório também permanece em cima da mesa, com uma curiosidade. É neste ponto e na valorização da liderança feminina que surgiu o maior número de votos contra.
"Nem mesmo com o Papa Francisco na Igreja eles conseguem aprovar as reformas sobre o papel da mulher, a contracepção, o casamento dos padres, tudo isso não pode ser adiado, se quisermos evitar perder o trem da história e contato com os homens do nosso tempo. Apesar das promessas dos primeiros anos de pontificado, permanece uma situação de impasse, ditada por um certo medo e ambivalência até por parte do próprio Pontífice que, por exemplo, ao responder às dúvidas dos cardeais tradicionalistas, legitima um estudo teológico sobre a questão do sacerdócio feminino e depois, num livro recente, respondendo de coração às perguntas dos autores, rejeita completamente a hipótese das mulheres sacerdotes”. É o que afirma o teólogo Vito Mancuso na entrevista a seguir.
A entrevista é de Giovanni Panettiere, publicada por QN, e reproduzida por Il Sismografo, 30-10-2023.
O Sínodo não defende nem o diaconato feminino nem a ordenação de homens casados. O que você acha?
É bom que o órgão seja consultivo, visto que as decisões definitivas pertencem ao Papa, mas aqui foi apenas uma questão de fazer propostas. A impressão é que em quase um mês nas congregações gerais e nos círculos menores tudo foi falado para não mudar nada.
Digamos que foi o primeiro semestre, o Sínodo terminará com a assembleia do próximo ano...
É claro que as premissas, porém, não são um bom presságio.
No entanto, pela primeira vez na história houve um Sínodo com cardeais, bispos, leigos e leigas sentados à mesma mesa e no mesmo nível. Um ponto de inflexão, não é?
Ter aberto a assembleia episcopal a quem não é bispo só pode ser positivo. O problema está nas conclusões. Acredito que nunca se poderá dizer que o Sínodo está adequadamente encerrado se não forem definidos procedimentos transparentes de colaboração com a justiça civil na luta contra a pedofilia.
Como podemos explicar este forte debate na Sala Paulo VI sobre o papel da mulher?
É o sinal de uma consciência inquieta na Igreja sobre o tema. Estamos cada vez mais conscientes do fosso entre a comunidade eclesial e a sociedade. No segundo, as mulheres alcançaram posições de topo, na vida pública e privada; no primeiro, porém, ainda não conseguem sequer ter acesso ao diaconato.
No entanto, havia diáconas na Igreja primitiva, mas Paulo nos convida a superar as divisões entre homens e mulheres, sem mencionar que a primeira a anunciar a Ressurreição foi Maria Madalena, e não os apóstolos.
É verdade, mas não esqueçamos que nas Cartas Paulinas lemos sempre que as mulheres devem permanecer caladas na assembleia... Quer dizer, Hegel tinha razão ao afirmar que “a Bíblia é como um vaso de barro que pode ser moldado ao seu gosto”. O que importa não é imitar as tendências dos costumes de hoje, mas sim interpretar as Escrituras no seu contexto histórico e à luz daquilo que o Vaticano II chamou de “sinais dos tempos”. Hoje, um dos mais significativos é, sem dúvida, a igualdade de gênero.
Aqueles que se opõem ao acesso das mulheres às ordens sagradas afirmam que querem evitar a sua clericalização.
É a objeção formalista de quem diz querer dar espaço, mas não dá poder. Dado que a estrutura da Igreja se baseia nos ministérios ordenados, ou seja, diaconato, sacerdócio e episcopado, ao impedir o acesso das mulheres a eles, são-lhes negados os próprios espaços que afirmam querer conceder.
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Apesar das promessas dos primeiros anos de pontificado, permanece uma situação de impasse. Entrevista com Vito Mancuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU