25 Outubro 2023
O Sínodo chega ao âmago das discussões e no sábado aprovará e entregará ao Papa um relatório-síntese do trabalho feito. Pela primeira vez também os leigos poderão votar no documento resultante do debate na Sala Paulo VI que não está fugindo a nenhum dos temas quentes para o futuro de uma Igreja voltada à sinodalidade. Estão tendo amplo espaço a discussão sobre o maior envolvimento das mulheres, as questões da formação dos padres, da prevenção e da luta contra os abusos sexuais, sem esquecer a pastoral LGBTQ+ e o acolhimento dos migrantes. Menos incisiva a discussão sobre a ordenação de homens casados, apesar de, como esperava o bispo de Essen, Franz-Josef Overbeck, “com tão poucos seminaristas devemos fazer alguma coisa”.
A entrevista é de Giovanni Panettiere, publicada por Quotidiano Nazionale, 23-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Talvez seja devido ao layout incomum do salão - mesas circulares onde se sentam juntos madres e padres sinodais, cardeais e catequistas - e pelo método do diálogo no espírito, mas no vértice não se registram polarizações particulares. As opiniões, porém, continuam sendo múltiplas, entre aqueles que pedem o diaconato feminino, por exemplo, e aqueles que, no máximo, são a favor das homilias também para as mulheres.
Como resultado, espera-se que uma síntese interlocutória apresente propostas mais concretas apenas na última parte do Sínodo, daqui a 12 meses.
As mulheres e a homossexualidade também serão temas que monopolizarão o circuito mediático sobre o Sínodo, como previsto pelos vértices da atual assembleia vaticana, mas dentro da Igreja estão longe de ser ignorados. Já há tempo sobre essas questões fora do Vaticano foi se polarizando o debate entre católicos liberais e conservadores. Dos primeiros, a Irmã Jeannìne Gramick, 81 anos, é um dos pontos de referência graças ao seu empenho de mais de quarenta anos pelos direitos dos homossexuais. Sancionada em 1999 pelo antigo Santo Ofício, então governado por Joseph Ratzinger, a religiosa foi reabilitada pelo Papa Francisco que a recebeu há poucos dias em Santa Marta. O encontro, longo e cordial, realizou-se no meio de um Sínodo que, apesar da prudência dos seus líderes - funcional para evitar a polarização na sala - também aborda as questões da condição das mulheres e dos homossexuais. E quem sabe, talvez num futuro próximo se possa celebrar um casamento gay na igreja e ter uma mulher cardeal, como almeja a irmã Gramick, feminista arco-íris.
O que a inspirou a iniciar um ministério pastoral para as pessoas LGBTQ+?
Comecei em 1971 depois de conhecer uma pessoa gay e seus amigos. Eu era estudante na Universidade da Pensilvânia. Acompanhei-o, ouvi as suas histórias de rejeição por parte da família e da Igreja. Reuni os padres para celebrar missa em sua casa para seus amigos gays e lésbicas.
Acredita que a Igreja tenha ferido as pessoas LGBTQ+?
Sim, a Igreja instituição e os membros da Igreja os condenaram ao ostracismo, fazendo com que se sentissem como modernos malditos. Tudo isso por falta de conhecimento ou compreensão.
O que sentiu ao encontrar o Papa Francisco?
Fiquei feliz e emocionada por ser recebida por alguém que é realmente um pastor para o seu povo. Ele nos ama com o amor de Deus. Você pode ver isso em seu rosto e em seus olhos.
Você foi sancionada durante o pontificado de Ratzinger. Agora, como a Igreja mudou?
Bento XVI preocupava-se em manter a verdade da fé. Francisco considera que isso é muito importante, mas também percebe que o mundo mudou e que a Igreja precisa pregar e viver a fé de uma forma que as pessoas hoje possam compreender. Agora temos muito mais compreensão sobre os homens e mulheres LGBTQ+ do que no século passado.
Por que, porém, Bergoglio não encontra coragem para mudar também a doutrina, o Catecismo sobre a homossexualidade?
Não é tarefa de um Papa mudar o ensinamento da Igreja. O Pontífice – e cada líder da Igreja – deve proclamar a fé do povo. Somente quando souber em que as pessoas acreditam é que ele poderá pronunciar-se oficialmente. Como na Igreja primitiva, as pessoas devem de se reunir, falar com base nas suas experiências e ouvir umas às outras.
O Papa abriu-se ao discernimento sobre a bênção dos casais LGBTQ+: a Igreja nunca poderá aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Um dia isso acontecerá, mas essa é apenas a minha opinião. É necessário que o povo de Deus discuta essa questão em futuros sínodos.
Qual é a condição das mulheres na Igreja?
Elas ainda são de ‘segunda classe’. Em muitos lugares são proibidas de anunciar ou pregar a Palavra de Deus. Devemos viver de acordo com a advertência de São Paulo: ‘Não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus” (Gl 3,28).
Concorda com o sacerdócio ou diaconato feminino?
Sim, sou a favor.
Consegue imaginar uma Igreja com uma mulher cardeal?
Certamente.
E o que responde para aqueles que a atacam, dizendo que apoia os gays, porque você também é homossexual?
Não importa se eu, ou qualquer outra pessoa, sou homossexual ou heterossexual. Todos nós deveríamos apoiá-los, porque Deus ama todos nós.
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“Casamento homossexual e mulheres cardeais. Eis a Igreja do futuro”. Entrevista com Jeannine Gramick - Instituto Humanitas Unisinos - IHU