Irmã Jeannine Gramick: O ensino da Igreja sobre questões LGBTQ+ irá “mudar inevitavelmente”

Irmã Jeannine Gramick (Foto: Reprodução | NWM)

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13 Abril 2023

Irmã Jeannine Gramick, cofundadora do New Ways Ministry, escreveu um ensaio no National Catholic Reporter refletindo sobre o apelo do Papa Francisco para a descriminalização da homossexualidade. A religiosa avalia o envolvimento anterior da Igreja com a comunidade LGBTQ+ e ilustra uma visão de mudança positiva no futuro.

A reportagem é de Andru Zodrow, publicada por News Ways Ministry, 11-04-2023.

Gramick celebra o apelo do Papa Francisco pelo fim das leis que criminalizam as pessoas LGBTQ+. Ela também aponta que, como o papa expressou a declaração, “isso não é um crime, mas é pecado”, a questão poderia ter sido colocada de forma mais apropriada:

“A declaração do papa, 'isso é um pecado', fez eu e alguns de meus colegas pensarmos sobre a ambiguidade do uso de pronomes. 'Isso', como Francisco estava usando o pronome, obviamente se referia a atos homossexuais, que o ensino oficial da Igreja julga serem imorais. Mas muitas pessoas, incluindo muitos líderes católicos e pessoas em países onde as pessoas LGBTQ+ são criminalizadas, acreditam que 'isso' se refere simplesmente a ser homossexual. A doutrina católica não considera ser homossexual um pecado”.

Gramick afirma que o termo da hierarquia “objetivamente desordenado”, para se referir a uma orientação homossexual, é prejudicial e que não reflete as experiências vividas de pessoas queer ou dados científicos precisos: “Não é de se admirar que lésbicas e gays se sintam rejeitados pela Igreja quando tal linguagem é usada… Junto com muitos outros católicos, incluindo bispos, acredito que a linguagem 'desordenado/desordem' deva ser removida do catecismo e do ensino oficial da igreja”.

Um argumento conservador frequente contra a ideia de que a Igreja deveria atualizar sua atitude em relação à comunidade LGBTQ+ é que o ensinamento católico não pode mudar, mas Gramick aponta que essa ideia é falsa:

“Essa ideia é simplesmente errada. Em 2017, na celebração do 25º aniversário da publicação do catecismo, Francisco disse: 'A doutrina não pode ser preservada sem permitir que ela se desenvolva, nem pode ser amarrada a uma interpretação rígida e imutável sem diminuir o funcionamento do Espírito Santo'. É precisamente esse desenvolvimento de doutrina que os católicos LGBTQ+ e seus aliados têm pedido. Eles não querem uma interpretação da ética sexual que seja 'rígida e imutável' e que 'diminua a obra do Espírito Santo'”.

Os pontificados de João Paulo II e Bento XVI viram uma forte oposição a qualquer evolução no ensinamento católico sobre ética sexual. Teólogos, religiosas, padres e bispos que fizeram críticas ao ensino da Igreja sobre questões LGBTQ+ foram silenciados. Sob o Papa Francisco, houve um afastamento significativo da maneira como o Vaticano abordou o diálogo dentro da Igreja. Este papa permitiu conversas abertas sobre se os ensinamentos da Igreja deveriam ser mudados. Gramick argumenta que a capacidade de Francisco de ouvir “o sensus fidelium do povo de Deus” é particularmente importante no referente à forma como a Igreja institucional encontra as comunidades queer:

“A cada década que passa, os católicos ficam mais à vontade para aceitar pessoas LGBTQ+. Mais de três quartos dos católicos americanos apoiam seus direitos humanos e civis e mais da metade aprova as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. Essa aceitação social é semelhante entre os católicos em grandes partes do mundo ocidental”.

O Sínodo sobre a Sinodalidade é uma oportunidade para o Papa Francisco caminhar com seu rebanho e ouvir suas preocupações. Dado que muitos católicos percebem a necessidade de uma visão teológica mais justa sobre questões LGBTQ+, agora é a hora de os defensores fazerem ouvir suas preocupações. Gramick afirma que o ensinamento da Igreja sobre a sexualidade “irá inevitavelmente mudar” e, no entanto, isso só ocorrerá quando os católicos se manifestarem.

Ela conclui: “Aqueles que veem a necessidade de mudança devem seguir suas consciências… É preciso haver um coro de vozes em todo o mundo, rejeitando a linguagem insensível e desumana que feriu inúmeras pessoas LGBTQ+, fomentou sua degradação e provocou violência indescritível contra elas. Não podemos nos dar ao luxo de ficar calados. Milhões de vidas LGBTQ+ estão em jogo”.

O apelo do Papa Francisco para a descriminalização da homossexualidade é um passo empolgante em direção à plena emancipação das pessoas LGBTQ+. No entanto, a própria retórica da Igreja frequentemente perpetua a mesma discriminação que Francisco condenou. Na próxima assembleia do Sínodo em Roma, o povo de Deus tem a oportunidade de pedir uma solidariedade mais unificada com a comunidade queer, refletindo a aceitação radical de todas as pessoas por Cristo.

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