A cheia de setembro alcançou ontem a condição de maior das últimas oito décadas em Porto Alegre. Desde a célebre e arrasadora enchente de 1941, o nível do Guaíba não subia tanto como nesta quarta-feira.
A reportagem é publicada por Matinal, 28-09-2023.
No meio da tarde, no Cais Mauá, a água atingiu a marca de 3,18 metros, 18 centímetros acima do limite a partir do qual o lago transborda naquela zona e começa a inundar a região central. Fazia mais de 50 anos que a cota de inundação não era ultrapassada. A última vez foi em 1967, com 3,13m. Na cheia de 1941, o índice foi de 4,75m. Hoje pela manhã, o nível já havia baixado para 2,92m.
O que se viu ontem foi um cenário que as gerações mais novas nunca haviam presenciado. O Guaíba avançou para cima do cais, cercou os armazéns e só foi contido pelo Muro da Mauá. As operações portuárias foram suspensas. Todas as 14 comportas do sistema contra cheias estavam fechadas, o que só havia ocorrido uma vez antes, em 2015. Sacos de areia, perfazendo 190 toneladas, foram empilhados junto às comportas para limitar vazamentos.
É a primeira vez que o muro, construído em 1971 como parte de um amplo sistema de proteção contra cheias, demonstra sua utilidade. A partir de agora, a discussão sobre a sua derrubada, tema recorrente nas últimas décadas, terá de incorporar novos termos, ainda mais num cenário em que grandes cheias devem se tornar cada vez mais comuns, em razão das mudanças climáticas. A retirada do muro, prevista no edital de concessão do Cais para a iniciativa privada, exigiria uma alternativa contra cheias.
Na orla turística, o Guaíba ganhou fúria de mar, com as ondas batendo forte no concreto. Boa parte da estrutura de lazer – passarelas, deques, quadras esportivas, praças infantis e trilhas – ficou submersa. A água chegou perto de atingir os bares do local. O lago também transbordou na zona sul da cidade, alagando bairros como Lami, Belém Novo, Tristeza, Guarujá e Ipanema. Na manhã de ontem, o corpo de um homem foi localizado dentro do Guaíba, na zona da orla. A provável causa da morte é afogamento, mas ainda não se sabe se ele foi vítima da enchente.
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Cheia em Porto Alegre é a maior desde a superenchente de 1941 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU