O ensinamento da Igreja em relação à homossexualidade é uma fonte de leis anti-homossexuais em lugares como Uganda, disse a professora Mary McAleese.

A reportagem é de Sarah Mac Donald, publicada por The Tablet, 06-09-2023.

Falando sobre os direitos humanos e a Igreja, ela disse que a Igreja “pratica, incorpora e ensina coisas que promovem o ódio, o desprezo, a exclusão, a intolerância, o preconceito, a discriminação, a vergonha das vítimas, o encobrimento”.

O ex-presidente da Irlanda é um dos oradores principais da assembleia sinodal liderada por leigos em outubro, organizada pela rede internacional de reforma Spirit Unbounded. A assembleia, sobre o tema dos direitos humanos na Igreja Católica, terá lugar em Roma, Bristol e on-line, de 8 a 14 de outubro, e está aberta a todos.

Outra oradora que discursará na assembleia, Marianne Duddy-Burke, diretora da DignityUSA, apelou ao Papa Francisco e ao Vaticano para serem mais eloquentes e se manifestarem contra as leis anti-homossexuais de Uganda.

Ela disse ao The Tablet que os membros da comunidade LGBTQI+ em Uganda vivem temendo pelas suas vidas. Ela se referiu ao comentário do Papa Francisco em janeiro passado, quando ele disse: “Ser homossexual não é crime” e criticou as leis que criminalizam a homossexualidade como “injustas”. Duddy-Burke disse que o Papa deve acompanhar isso “com diretrizes claras aos bispos e católicos sobre o nosso dever moral de honrar a dignidade e os direitos humanos das pessoas LGBTIQ+. As vidas de muitos estão em jogo, na África e noutros lugares”.

Ela manifestou que, através do seu trabalho como copresidente da Rede Global de Católicos Arco-Íris e da DignityUSA, ela estava “ouvindo histórias horríveis de intensificação dos ataques” desde que a lei que aumenta as penas para ser gay entrou em vigor no Uganda.

Segundo ela, “há tantos lugares na África onde a situação das pessoas LGBTQI se tornou terrível”.

Mary McAleese acrescentou que o Papa Francisco disse uma série de “coisas vagamente úteis” sobre o assunto, como a sua observação: “Quem sou eu para julgar?” “Isso foi interessante e útil, exceto que ele julga e seus juízes da Igreja e, lamentavelmente, o documento do Dicastério para a Doutrina da Fé sobre bênçãos para pessoas do mesmo sexo que [Francisco] assinou, usava esta expressão terrível de que os católicos gays casados não poderiam receber a graça de Deus”.

Ela acrescentou: “Francisco tenta ter as duas coisas em relação à legislação antigay. Foi útil que ele tenha pedido aos seus colegas bispos, especialmente aos países africanos, que não apoiassem a legislação que proibisse a homossexualidade, mas sim que a descriminalizassem. Mas com todo respeito pelo Papa Francisco, esse é o tipo de coisa que dizíamos há 40 ou 50 anos. Está pelo menos quatro décadas atrás da curva onde o povo de Deus está em relação à homossexualidade.

“Para mim a questão mais premente é o que faz o magistério internamente; como isso muda o ensino, por exemplo, em relação aos gays dentro da Igreja; como isso muda o ensinamento e a prática da Igreja em relação à inclusão ou exclusão das mulheres. A verdade é que, em termos dessas questões, ele [Francisco] não fez praticamente nada que fosse credível”.

A questão de onde os direitos humanos se enquadram internamente na Igreja é “crucial”, disse ela, porque “define a agenda sobre como nos reunimos e como nos reunimos. Nos encontramos como iguais? O Sínodo será um discipulado de iguais? E a resposta parece ser não, o magistério ainda está no controle. O magistério ainda definirá a agenda, decidirá o que pode ser discutido e decidirá quais serão os resultados”.

O denunciante e ex-padre, Brian Devlin, um dos organizadores da assembleia Spirit Unbounded, disse ao The Tablet: “Há um problema real com os direitos humanos na Igreja Católica que precisa ser resolvido. Somos uma assembleia de cristãos que estão tentando fazer da Igreja um lugar melhor, um lugar mais amável e mais seguro para cada um de nós viver e abraçar”.

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