Padres casados: “O jogo ainda não acabou”. Entrevista com Massimo Faggioli

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17 Fevereiro 2020

Uma abertura fracassada mais do que um fechamento. Essa é a interpretação do historiador da Igreja Massimo Faggioli sobre a exortação apostólica pós-sinodal “Querida Amazônia”, na qual o papa prefere não enfrentar abertamente as propostas do diaconato feminino, da ordenação sacerdotal de homens casados e da instituição de um rito amazônico específico, que foram levantadas no Sínodo dos Bispos em outubro.

A reportagem é de Giovanni Panettiere, publicada por Quotidiano.net, 16-02-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Para o professor de 50 anos de Teologia e Estudos Religiosos da Villanova University, na Filadélfia, Estados Unidos, a situação, após a publicação nos últimos dias do documento, “é fluida. Muito dependerá dos próximos movimentos das Igrejas locais da região: estamos no ponto de virada do papado bergogliano”.

 

Eis a entrevista.

Professor, você esperava uma exortação tão precisa no diagnóstico da situação socioambiental na Amazônia e, ao mesmo tempo, tão limitada sobre as soluções pastorais para o anúncio do Evangelho na floresta?

A primeira parte político-ecológica situa-se no rastro da produção anterior do papa, começando pela Laudato si’. Por outro lado, surpreende o último capítulo, sobre os ministérios, porque não recebe as propostas votadas pelo Sínodo, mas também não as rejeita. Francisco não anula o relatório final da assembleia: apoia-o.

O que você acha da polêmica sobre o suposto valor magisterial do relatório?

Do ponto de vista formal, acredito que apenas a exortação do papa é um ato de magistério, não o documento de encerramento da assembleia, que contém as propostas que passaram em silêncio. Falta uma aprovação explícita daquele texto, como exigido pela constituição Episcopalis communio sobre a disciplina da instituição sinodal. No entanto, Bergoglio quis reconhecer um valor ao documento aprovado em plenário em outubro. Ele diz claramente que não quer substituí-lo e convida a lê-lo integralmente.

Você teve a impressão de que a exortação foi escrita antes do debate sinodal?

Essa é uma boa pergunta. Provavelmente, em 100 anos, se conhecerá a gênese do procedimento. A impressão é que o quarto capítulo não foi escrito pelas mesmas pessoas que produziram os outros três.

“Querida Amazônia” está em tendência contrária às outras exortações pós-sinodais de Bergoglio que, a seu modo, respondem às solicitações das assembleias episcopais correspondentes?

Sim, esse é um texto que se coloca de modo diagonal, não paralelo nem frontal, diante das propostas do Sínodo. O estilo do papa é diferente do de seus antecessores Paulo VI e João Paulo II, que se expressaram em termos definitivos, quase infalíveis. Por sua parte, Francisco deixa o processo sinodal em aberto, embora não esteja claro como isso poderá se desenvolver no futuro próximo.

Em suma, a exortação é mais uma abertura fracassada do que um fechamento?

Isso mesmo. Há vislumbres sobre a introdução de um rito amazônico. Não é o mesmo sobre os viri probati e sobre o diaconato feminino. É como se o papa tivesse querido pausar o caminho das reformas na Amazônia. Muito dependerá de como as Igrejas locais daquela região vão reagir: se continuarem apresentando a Roma seus pedidos sobre os ministérios, será difícil não dar respostas pontuais.

Dentro do episcopado brasileiro, alguns preveem que poderão ser publicados, nos próximos meses, documentos papais ad hoc sobre as questões individuais sobre a mesa.

É algo que poderia acontecer. Nesses anos, Bergoglio nos acostumou a surpresas. É claro que a diferença entre a sua exortação e o relatório final do Sínodo sobre a Amazônia criou um vazio. Que deve ser preenchido imediatamente... Francisco não tem à sua frente mais 10 anos de pontificado, e, depois dele, tudo poderia ser fechado de modo definitivo. Encontramo-nos diante de um ponto de virada desse pontificado. No episcopado sul-americano, que apoia Bergoglio e trabalhou duro antes e durante a assembleia de outubro, há uma certa decepção com as conclusões do papa.

Francisco teve medo de um cisma à direita ou se opõe pessoalmente a qualquer hipótese de revogação do celibato obrigatório?

Acredito que o temor de uma ruptura da unidade católica teve o seu peso. É certo que a trégua com católicos conservadores, que hoje dão um suspiro de alívio pelo perigo evitado, vai durar pouco. Assim que ele recomeçar a falar dos pobres e dos últimos da Terra, eles vão recomeçar a criticá-lo.

Mas o que o papa realmente pensa sobre o celibato?

Com a sua exortação, ele deu a entender que não considera prioritárias para a Igreja aquelas reformas estruturais que, na comunidade católica, muitos desejam. Estão em andamento o Concílio Plenário da Igreja na Austrália, o Caminho Sinodal na Alemanha. A situação está em evolução.

 

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