08 Novembro 2019
Um estudo recentemente apresentado por pesquisadores da NASA, na revista Scientific Reports of Nature, explica que, nos últimos 20 anos, a atmosfera sobre a Amazônia se tornou mais seca, aumentando a demanda por água e fazendo com que os ecossistemas da grande bacia tropical sejam mais vulneráveis a incêndios e secas. A pesquisa também indica que essa secura do ar se deve principalmente às atividades humanas.
A reportagem é de Pere Iñigo, publicada por El Ágora, 06-11-2019. A tradução é do Cepat.
Cientistas do Jet Propulsion Laboratory (JPL) da NASA, em Pasadena, analisaram décadas de medições do terreno e da bacia do Amazonas para analisar duas questões relacionadas à umidade relativa do ar: qual é o grau de umidade do ar e quanto é necessário para manter as condições úmidas da floresta amazônica.
“Observamos que nas últimas duas décadas houve um aumento significativo na secura da atmosfera e também uma demanda crescente por água na parte superior da floresta amazônica”, afirma Armineh Barkhordarian, principal autor do estudo elaborado pelo Jet Propulsion Laboratory. “Se compararmos essa tendência com os modelos que estimam a variabilidade climática ao longo de milhares de anos, fica claro que as mudanças que estamos experimentando na umidade da atmosfera da Amazônia vão muito além do que esperaríamos de mudanças naturais no clima”, acrescenta o especialista.
Barkhordarian afirma que os altos níveis de gases do efeito estufa, a nível global, são responsáveis por aproximadamente a metade do aumento da aridez. O restante é resultado da atividade humana em andamento, especialmente a queima de florestas para liberar a terra para agricultura e pastoreio. A combinação dessas atividades está provocando o aquecimento da Amazônia, defende o cientista da NASA.
Quando uma floresta queima, libera partículas chamadas aerossóis na atmosfera, incluindo fuligem. Essas partículas absorvem a radiação solar e fazem com que o ar circundante aqueça. Além disso, interferem na formação natural de nuvens e, portanto, na chuva.
A Amazônia é a maior floresta tropical da Terra e também é um sistema com uma certa capacidade de autorregulação, que mantém as condições de umidade graças à interação entre as florestas e o ambiente físico em que crescem.
Em condições normais, a Amazônia absorve bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano através da fotossíntese, o processo usado pelas plantas para converter CO2, energia e água em alimentos. Ao eliminar o CO2 da atmosfera, a Amazônia ajuda a regular o clima da Terra, pois é um gás do efeito estufa que contribui para as mudanças climáticas.
No entanto, o ecossistema amazônico é vulnerável a alterações, como mudanças de temperatura e secura do ar, que podem transformar o equilíbrio dinâmico que mantém há milhões de anos.
Árvores e plantas precisam de água para a fotossíntese e também para esfriar quando ficam muito quentes. As árvores extraem água através de suas raízes e liberam o líquido através dos poros das folhas. Ao fazer isso, as plantas ajudam a resfriar o ar e formar nuvens. Por sua vez, as nuvens produzem chuva que reabastece a água no solo, permitindo que o ciclo continue.
A Amazônia - graças à sua densa vegetação - funciona como um motor contínuo para bombear e coletar água entre o solo e a atmosfera. De fato, estudos científicos demonstram que as florestas tropicais geram até 80% de sua própria chuva, especialmente durante a estação seca. Ou seja, não dependem dos ventos carregados de umidade de outros locais, mas são as florestas da Amazônia que geram nuvens e chuvas em uma contínua recirculação da água.
“É uma questão de oferta e demanda. Quando a temperatura aumenta e o ar seca sobre as copas das árvores, estas precisam transpirar mais para se resfriarem, bombeando mais água do solo e colocando mais vapor no ar. Mas, o solo nem sempre tem água suficiente para as árvores recorrerem a ela”, explica o estudo do Jet Propulsion Laboratory.
“Nosso estudo mostra que a demanda por água na Amazônia está aumentando e a oferta está diminuindo e se isso continuar, as florestas não serão capazes de se sustentar”, diz Sassan Saatchi, coautor da pesquisa.
A equipe de Barkhordarian e Saatchi observou que a tendência ao ressecamento da atmosfera está ocorrendo especialmente na região sudeste da Amazônia, precisamente onde está ocorrendo a maior parte do desmatamento e expansão agrícola.
No entanto, também detectaram episódios de secagem na parte noroeste da Amazônia, uma área que geralmente não tem estação seca. Embora seja geralmente uma região muito úmida, o noroeste da Amazônia sofreu severas secas nas últimas duas décadas, uma indicação adicional da vulnerabilidade de toda a floresta ao aumento da temperatura e do ar seco, afirmam os autores.
Se essa tendência continuar ao longo dos anos e a floresta tropical atingir o ponto de não retorno, onde não será capaz de funcionar adequadamente e manter o ciclo de recirculação da água entre o solo e a atmosfera, é muito provável que grande parte da espécies e habitats não sejam capazes de resistir as novas condições.
Além disso, quando as árvores morrem, especialmente as maiores e mais robustas, liberam CO2 na atmosfera, contribuindo assim para o aquecimento. Da mesma forma, quanto menos árvores houver, menos CO2 a Amazônia poderá absorver e, portanto, se perderá a sua contribuição para a regulação climática. Esses tipos de elementos que se retroalimentam são muito estudados pelos cientistas, que definem como tipping points ou pontos de inflexão aqueles momentos em que, uma vez que as condições iniciais mudam, as mudanças começam a ocorrer de maneira acelerada e em processos que se retroalimentam e crescem de forma exponencial.
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A atividade humana está secando o ar sobre a Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU