22 Agosto 2019
O fogo reflete a irresponsabilidade do presidente com o bioma que é patrimônio de todos os brasileiros, com a saúde da população amazônida e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso, afirma nota da coordenação do Observatório do Clima, publicada em seu portal, 21-08-2019.
Eis a nota.
O número de queimadas no Brasil é o recorde para os oito primeiros meses do ano desde 2013. Até dia 19 de agosto, o país registrava 72.842 focos de calor, um aumento de 83% em relação ao ano passado. Considerando apenas o bioma Amazônia, eram 38.227 mil focos de calor até o dia 19 – um aumento de 140% em relação ao ano passado e de 70% em relação à média dos três anos anteriores. Dois Estados criticamente atingidos, Rondônia e Acre, registram emergência de saúde devido à poluição do ar. A pluma de fumaça atingiu a cidade de São Paulo e várias outras no Centro-Sul do país.
Nota técnica publicada no último dia 20 pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) mostra que a estiagem de 2019 não explica o problema: neste ano, o bioma Amazônia viu menos dias consecutivos sem chuva do que a média entre 2016 e 2018: menos de 20 contra mais de 30, respectivamente. A análise de dados do Ipam para o bioma Amazônia mostra que o fator que melhor explica o aumento nos focos de calor é o desmatamento. Os dez municípios mais desmatados em 2019 são também os dez que mais queimaram na região.
As queimadas são apenas o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do governo de Jair Bolsonaro e de seu ministro do Meio Ambiente, o improbo Ricardo Salles, que turbinou o aumento da taxa de desmatamento no último ano. O fogo reflete a irresponsabilidade do presidente com o bioma que é patrimônio de todos os brasileiros, com a saúde da população amazônida e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso.
Desde que assumiram, Bolsonaro e Salles têm se dedicado a desmontar as estruturas de governança ambiental e os órgãos de fiscalização. Extinguiram o órgão responsável pelos planos de controle do desmatamento na Amazônia e no cerrado, sem ter até hoje apresentado nenhum plano alternativo contra a destruição; cortaram um quarto dos recursos do Ibama; deixaram 8 de 9 superintendências regionais do órgão na Amazônia acéfalas até hoje, o que inibe operações de fiscalização; e desmobilizaram o Grupo Especial de Fiscalização, a unidade de elite do Ibama, que não foi a campo na Amazônia ainda neste ano.
Também sinalizaram a falta de interesse em combater o desmatamento e prover alternativas econômicas sustentáveis para a região ao suspender o Fundo Amazônia, que banca esse tipo de atividade. Ao mesmo tempo, empoderam criminosos ambientais, sinalizando, por exemplo, a abertura das terras indígenas à exploração e a tolerância com a impunidade. Alguns governos estaduais também ajudaram a acender o pavio, ao reduzir a participação de suas PMs nas operações de fiscalização ou sinalizar que desmatadores não seriam punidos.
A combinação de autoritarismo e fanatismo ideológico do presidente e de seu ministro transformam em fumaça não apenas as árvores da Amazônia e a reputação do Brasil, mas também o bem-estar de uma população que o governo federal deveria proteger e o nosso acesso a mercados internacionais e a investimentos. É bom já ir fazendo algo a respeito.
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Recorde de queimadas reflete irresponsabilidade de Bolsonaro. Nota do Observatório do Clima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU