26 Agosto 2019
“Nós devemos mudar radicalmente a nossa relação com os povos e a natureza da Amazônia”, escreve dom Emmanuel Lafont, bispo de Cayenne (Guiana Francesa), em artigo publicado por La Croix, 24-08-2019. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
O que a Igreja Católica vê primeiramente são os povos que vivem na Amazônia. Porque, como disse o Papa Francisco na Laudato Si’, “tudo está interligado”. A vida humana não pode ser separada do ambiente do qual depende e que ela deve proteger para se proteger a si mesma. Devemos adotar uma visão holística que leve em consideração os territórios, mas, primeiramente, as pessoas que aí vivem e que, de maneira pura e bela, são seus guardiões.
Reconhecemos que, quando fomos ao encontro dos povos da Amazônia, ao longo da história, não foi em primeiro lugar para aprender sua sabedoria, mas para nos aproveitar de seu território e de seus recursos. Hoje ainda permanece a tentação de superexplorar essa natureza, em benefício de algumas multinacionais e à custa do bem comum.
Ao nos aproximarmos do Sínodo sobre a Amazônia, em outubro próximo, em Roma, a Igreja pede uma mudança radical na nossa relação com esses povos cujos direitos nós não respeitamos. Precisamos ouvir sua experiência e a qualidade da relação que eles sempre mantiveram – e continuam a manter – com sua terra. A Igreja pode e deve assumir hoje um “rosto amazônico”!
A Igreja Católica também pede uma mudança radical na nossa relação com a natureza. O Papa Francisco, visitando o Peru em janeiro de 2018, disse que esta terra é uma terra sagrada! Então, sim, certamente, a Igreja considera que a floresta amazônica faz parte do patrimônio universal. Da mesma forma que a Bacia do Congo ou as selvas do Sudeste Asiático.
Em todos esses assuntos, um dos grandes momentos da tomada de consciência da Igreja foi o Concílio Vaticano II, que resultou em uma infinidade de encontros dos bispos do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). Desde 2013, graças à experiência sul-americana do Papa Francisco, toda a Igreja se beneficia desse movimento. Este papa representa algo extremamente forte, o que não deixa de provocar um certo número de resistências. Mas o Evangelho sempre provocou resistências: a mensagem de Jesus é um verdadeiro desafio para este mundo em que prevalece, muitas vezes, o amor ao dinheiro e ao consumo.
Quer estejamos na Amazônia ou em Paris, é urgente que todos nós, cristãos, assumamos um olhar espiritual sobre a Criação e que este olhar nos conduza a uma maior frugalidade de vida.
Para o Dia de Oração pelo Cuidado da Criação, domingo, 1º de setembro, eu fiz um chamado à oração e à colocação em prática desta sobriedade, tornando-a urgente diante dos incêndios desastrosos e para que a preparação do Sínodo desperte ainda mais a consciência de que temos que viver para preservar o presente e o futuro.
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A Igreja vê a Amazônia como um patrimônio comum da humanidade? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU