28 Junho 2018
Na terça-feira, Francisco nomeou um aliado leal, embora que pouco testado para assumir o principal centro financeiro de poder no Vaticano. É o movimento, ao mesmo tempo mais reconfortante e arriscado que já vimos do pontífice até o momento.
A reportagem é de John Allen Jr., publicada por Crux, 27-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
O Papa nomeou o bispo Nunzio Galantino para assumir a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA), que controla tanto as vastas propriedades imobiliárias e significativamente subvalorizadas do Vaticano, quanto sua cartilha de investimentos.
Visto de fora, muitas vezes se assume que o grande negócio em termos de finanças é o Instituto para as Obras de Religião - IOR, mais conhecido como o "Banco do Vaticano". Na realidade, isso é um mal-entendido por dois motivos.
Primeiro, a maior parte dos US$ 8 bilhões do banco não pertencem ao Papa. Em vez disso, são fundos pertencentes a ordens religiosas, associações e movimentos católicos dos quais o Vaticano não pode simplesmente usar para cobrir suas despesas operacionais.
Em segundo lugar, o processo de reforma do Banco do Vaticano começou sob o comando do Papa Emérito Bento XVI, e agora está quase completo. Indivíduos que não deveriam ter contas foram eliminados do sistema, e sob o olhar atento da Autoridade de Informação Financeira do Vaticano, transações suspeitas são cuidadosamente monitoradas.
Por outro lado, muitos informantes entendem que o controle da grande maioria da verba da qual o Papa tem a disposição está na APSA, que possui reputação de ser transparente e responsável.
Nos últimos meses, muitos especialistas concluíram que Francisco tinha a ideia de reforma financeira. Seu novo Conselho para a Economia, destinado a estabelecer políticas financeiras, tem lutado para encontrar um porta voz. A Secretaria da Economia, destinada a implementar políticas não tem liderança, pois o cardeal, australiano George Pell está novamente lutando contra acusações “históricas” de abuso sexual. A posição do Auditor Geral, supostamente independente, ainda está desocupada depois que seu titular foi mandado embora sob circunstâncias ainda obscuras.
Em uma recente entrevista à agência de notícias britânica Reuters, no entanto, o Papa pareceu mostrar nova determinação. Ele reconheceu francamente que “não há transparência” na APSA em termos de propriedades imobiliárias do Vaticano, e disse que o cardeal italiano Domenico Calcagno, chefe anterior da APSA - acusado de envolvimento em um esquema de peculato em sua diocese anterio r-, estava de saída. "Temos que avançar na transparência, e isso depende da APSA", ressaltou Francisco.
Na entrevista permaneceu a questão do que Francisco estava preparando para fazer a respeito disso. Na terça-feira, nomeou Galantino, de 69 anos, para tomar as rédeas na APSA.
Amplamente visto como o aliado mais próximo do pontífice na conferência dos bispos italianos e o maior porta voz de sua agenda nos assuntos da Itália, Galantino foi reconhecido por Francisco quando atuava como bispo na pouco conhecida diocese de Cassano all’Jonio, Itália.
Em dezembro de 2013, Francisco surpreendeu o clero italiano ao nomear Galantino como Secretário da Conferência Episcopal italiana (CEI). Na época, Galantino tinha sido bispo em Cassano all’Jonio, na região da Calábria, no sul da Itália, por dois anos, e ninguém jamais imaginou esse trabalho com uma plataforma de lançamento.
No início do mesmo ano, Francisco pediu ao presidente da CEI, cardeal Angelo Bagnasco, de Gênova, que fizesse uma pesquisa entre os bispos sobre os candidatos à posição de secretário. Bagnasco ofereceu uma lista completa de todos os bispos italianos. Alguns nomes surgiram como candidatos consensuais, enquanto Galantino supostamente tinha apenas um voto dos quase 500.
No entanto, Francisco decidiu por Galantino, dando um passo inusitado ao escrever ao povo da diocese pedindo emprestado seu bispo para um mandato de cinco anos.
Por que Francisco se apegou a Galantino? Bem, quando ele foi nomeado bispo em 2011 pelo Papa Bento XVI, pediu que o dinheiro gasto pelas pessoas na compra de presentes para a ocasião fosse convertido aos pobres.
Galantino optou também por viver no seminário diocesano em vez do palácio do bispo em Cassano all’Jonio. Ele também não queria um secretário e nem um motorista, e pediu às pessoas que o chamassem de "Padre Nunzio" em vez de "Sua Excelência". Até onde se sabe, Galantino tem um histórico pessoal impecável, sem registros de atividades que possam comprometer sua credibilidade.
O beato Papa Paulo VI, por exemplo, criou a Prefeitura de Assuntos Econômicos, em 1967, como um esforço para modernizar e racionalizar as finanças do Vaticano. Mesmo assim, uma série de presidentes se mostrou incapaz até mesmo de elaborar um relatório financeiro anual abrangente. O Papa João Paulo II tentou trazer para a função um cardeal americano, Edmund Szoka, de Detroit, mas ele também não conseguiu fazer uma verdadeira transformação.
Em meio a essas grandes tentativas de mudança, o ponto em questão é claro: agências do Vaticano como a APSA têm uma longa história de absorver supostas reformas e permanecer essencialmente inalteradas.
Galantino é um administrador pouco testado, de uma pequena diocese, que então assumiu um papel na Conferência Episcopal, a qual exigia que ele articulasse as propostas do Papa, mas não implementasse nenhum sentido administrativo ou gerencial. Em outras palavras, do ponto de vista da tarefa que ele foi solicitado a assumir, não há muito o que fazer para avaliar se Galantino está à altura do trabalho.
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Papa Francisco avança na reforma financeira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU