Novo secretário da CEI: bergogliano sim, martiniano não

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10 Fevereiro 2014

Além de bispo de Cassano all'Jonio e secretário-geral – nomeado motu proprio pelo Papa Francisco – da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Nunzio Galantino também é professor de antropologia da Pontifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional.

E, nessa veste acadêmica, organizou em dezembro de 2010, em Milão, um congresso sobre a alma, cujas atas foram publicadas pela editora Cittadella, com a participação de filósofos, teólogos e especialistas em informática e cibernética.

A nota é de Sandro Magister, publicada no blog Settimo Cielo, 05-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Um congresso sobre a alma, em Milão, com o cardeal Carlo Maria Martini ainda vivo, certamente não podia ignorar o best-seller de três anos antes, de Vito Mancuso, intitulado justamente L’anima e il suo destino [A alma e o seu destino], introduzido por uma carta de recomendação do ex-arcebispo da diocese ambrosiana.

Mas eis o que pensava e dizia então o atual secretário da CEI sobre o livro de Mancuso, como relatado por Andrea Galli no jornal Avvenire do dia de setembro de 2011:

"O suposto e sedutor – no sentido etimológico das palavras – teólogo abriu espaço com o seu panfleto carregando o termo 'alma' de conteúdos de teologia emprestados e de psicologismos baratos. O resultado é um produto mais ou menos fascinante, mas com pouca ou nenhuma coerência teórica e teológica".

Um julgamento, como se vê, nos antípodas do de Martini, que, na carta de abertura do livro, recomendava vivamente a sua leitura, dirigindo-se familiarmente ao autor:

"Será difícil falar desses assuntos sem levar em conta o que você disse com penetração corajosa. [...] Mesmo aqueles que consideram ter pontos de referência muito sólidos podem ler as suas páginas com fruto, porque ao menos serão induzidos ou a pôr em discussão as suas certezas, ou serão levados a aprofundá-las, a esclarecê-las, a confirmá-las".

Depois da morte do cardeal Martini, no verão de 2012, essa sua carta foi objeto de uma polêmica de armas brancas entre o próprio Mancuso e o jesuíta Gianpaolo Salvini, durante muitos anos diretor da La Civiltà Cattolica, ele também martiniano de ferro.

Ao lembrar o seu coirmão e amigo, Salvini lamentou que, "com muito pouca correção, foram [...] usadas como 'Prefácio' cartas privadas, não destinadas à publicação, com acenos de encorajamento, enviadas a um autor que lhe havia entregue os esboços de um livro seu".

Com clara alusão a Vito Mancuso e ao livro L’anima e il suo destino, ao qual justamente o "prefácio" do cardeal Martini abriu caminho ao sucesso.

Tocado na ferida, Mancuso desembainhou no La Repubblica um e-mail endereçado a ele pelo cardeal, do qual se informava, ao invés, que "foi Martini que me pediu os esboços e foi sempre ele que deu o seu consentimento à publicação da carta".

Mancuso concluiu o seu protesto escrevendo que, com "falsidades" como a produzida pela La Civiltà Cattolica, se queria abafar "as incômodas profecias do cardeal Martini".

Na realidade, essa polêmica projetou uma sombra de jesuitismo justamente sobre a figura do cardeal falecido, que, por um lado, escrevia a Mancuso para publicar a sua carta na abertura daquele que se tornaria o seu primeiro best-seller.

E, por outro, confidenciava ao coirmão e querido amigo Salvini que esse prefácio lhe havia sido arrancado "com muito pouca correção".

Mas essas são águas passadas. Dado o juízo liquidatório emitido por Galantino sobre o livro L’anima e il suo destino e sobre o seu autor, podemos pensar que o novo secretário bergogliano da CEI não deve ser enumerado nem mesmo entre os fãs de Martini.