A nova era dos bispos italianos e os males da Igreja. Artigo de Alberto Melloni

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23 Mai 2016

Francisco nomeia bispos inesperados, dá e nega as púrpuras com precisão cirúrgica? Os bispos italianos não fazem nada. Francisco faz um discurso em Florença, em novembro, que rotula como uma heresia (pelagiana) o politicar politicante de muitos anos? Nada. Francisco pede para entrar em estado sinodal? Nada. Francisco faz um discurso sobre o padre descalço que parece o retrato do missionário que ele gostaria de nomear como presidente dos bispos italianos do período pós-Bagnasco? Nada.

A opinião é do historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 19-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A assembleia que está prestes a ser concluída é a última assembleia da Conferência Episcopal Italiana da era Bagnasco, nomeado no dia 7 de março de 2012 por Bento XVI.

Uma conclusão dramática, na qual o presidente da Conferência Episcopal demonstrou que a Igreja italiana ainda está doente dos mesmos males que fizeram com que ela parecesse, nos dias do conclave, como a causa da desordem sistêmica que abalara o papado romano.

Bagnasco herdou a CEI em 2007 em um momento preciso. Ou seja, depois que Ruini tinha obscurecido a possibilidade de um apelo canônico aos parlamentares católicos para derrubar os Dico [projetos de lei sobre as uniões gays] do governo Prodi.

Bertone captou a gravidade de um ato que punha em discussão o princípio de que as instituições democráticas e os princípios constitucionais são a única garantia em que todos devem se reconhecer. Por isso, ele reivindicou à Secretaria de Estado as relações com o governo (embora continuando a confiar em uma direita desintegrada da qual Berlusconi era a única cola). E confiou a Bagnasco uma transição que nunca começou.

Naquele momento, em 2007, começou a guerra a golpes de dossiês, calúnias e revelações. Depois, houve a eleição de Francisco. O novo papa deixou que Bagnasco terminasse o seu mandato como presidente, mas mudou o secretário-geral. Crociata foi mandado para Latina, com uma nomeação que cheira a exílio imerecido, e escolheu Galantino como "comissário", retomando a sistematização dos tempos de Paulo VI.

No entanto, a CEI permaneceu imóvel, permanece imóvel. Francisco nomeia bispos inesperados, dá e nega as púrpuras com precisão cirúrgica? Nada. Francisco faz um discurso em Florença, em novembro, que rotula como uma heresia (pelagiana) o politicar politicante de muitos anos? Nada. Francisco pede para entrar em estado sinodal? Nada. Francisco faz um discurso sobre o padre descalço que parece o retrato do missionário que ele gostaria de nomear como presidente da CEI do pós-Bagnasco? Nada.

Nesses "nadas", insere-se o discurso de Bagnasco. Ele deve ser inscrito nas tensões não resolvidas com a Secretaria de Estado, que tinha pedido para reservar a palavra "matrimônio" ao heterossexual. Polariza-se em relação ao movimento preventivo com o qual a revista La Civiltà Cattolica enunciou um "sim, mas" às reformas constitucionais, muito exigente tanto para Renzi quanto para os seus opositores.

Ele deve ser ser lido sob o pano de fundo da distância mantida por Galantino e pelo papa em relação ao "Family Day". É uma tentativa autodestrutiva de negar ao esforço parlamentar de Alfano e de Lorenzin a dignidade política que eles conquistaram no governo, para dar confiança aos extremistas de centro.

E, de fato, abre a busca do novo presidente da CEI. Aquele que, para ser claro, se tiver dois mandatos, chegará à Itália de 2027: a Itália do pós-Renzi, do pós-Mattarella, do pós-Europa, do pós-Francisco. O homem que deverá despertar de novo a Igreja italiana e o seu episcopado do torpor resmungão em que permanece absorvido.

Daqui até o dia 7 de março de 2017, os bispos deverão buscá-lo: e mostrar, diante da Igreja, do conclave e do país, que sabem ir além de arrependimentos e astúcias, que sabem ver de modo sinodal as questões de fundo: o ministério de um catolicismo que já se confia ao clero produzido pelos movimentos e por estes "pré-marcados"; a penitência em uma Igreja que aceitou também o discurso sobre a misericórdia, a fim de oferecer soluções de baixo custo para a fadiga do caminho da vida; a caridade feita com as próprias mãos e não com os fundos públicos; a construção de culturas e saberes em uma Igreja em que o hiperdevocionalismo se solda com um cristianismo reduzido a analgésico ou a condimento do poder.

Em um ano, a CEI terá um novo presidente: a decantação da era Bagnasco acaba com frases deselegantes (nem mesmo Pio XII jamais pediu a objeção para celebrar casamentos civis que a Igreja considerava como turbe concubinato); mas abre aos bispos um tempo para falar, pensar, rezar e, depois, de novo, pensar. Será um tempo curto e duro.