A falsa sacralidade na Igreja. Artigo de Nunzio Galantino

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12 Janeiro 2015

"Eu me pergunto e lhes pergunto: vivemos ou não o estilo do mundo, quando a nossa preocupação não é a formação séria do povo de Deus, e não os pobres e as suas necessidades, e, em vez disso, gastamos excessivamente conosco, com decorações chamativas?"

Publicamos aqui um trecho de uma homilia de Dom Nunzio Galantino, do dia 30 de dezembro de 2014. O bispo italiano de Cassano, secretário-geral da Conferência Episcopal Italiana, ajuda a entender o mal-entendido com que muitas vezes se fala do "mundo" no modo de se expressar de muitos crentes: a Bíblia não o entende como a história e a sociedade externas à Igreja – das quais a comunidade cristã e os fiéis claramente se distinguem e se distanciam –, mas como uma atitude interior que pode ser encontrada em todos nós, que requer a vigilância e a luta interior.

A homilia, proferida na ordenação sacerdotal de Carlo Russo, foi publicada no blog Sperare per Tutti, 10-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Não é preciso um bispo para dizer a um padre que as pessoas devem ser respeitadas nas relações, que não são nossos súditos e que nós não fomos postos lá para mandar. Acabou o tempo dos sátrapas. Não é sacerdotal o estilo daqueles que, explícita ou implicitamente, afirmam: o pároco sou eu e aqui sou eu que mando. Essas afirmações pertencem apenas àqueles que não rezam e àqueles que o Evangelho reduziu a um tapume para dar vazão às próprias frustrações. (…)

Um bispo que ordena um diácono ou um presbítero o faz porque têm confiança neles. Mas antes de invocar o Espírito de Deus sobre você e antes lhe impôr as mãos, caro Carlo, sinto a necessidade de acompanhar este ato de confiança com as palavras de João: "Não amem o mundo e nem o que há no mundo. Pois tudo o que há no mundo são coisas que não vêm do Pai, mas do mundo".

"Não amem o mundo." É óbvio que João assume o termo "mundo" no sentido de uma realidade marcada pelo pecado, pela cobiça, pela inveja, pelo predomínio do aparecer sobre o ser. E, se esse é o mundo do qual devemos nos proteger, então, ele existe realmente para todos.

E, se vocês me permitirem, o Papa Francisco está dizendo isso com força para a nossa Igreja, particularmente para nós, sacerdotes e bispos. Não amem – ele está nos dizendo – o estilo do mundo!

E o estilo mundano, aquele que Paulo VI chamava de "fumaça de Satanás", na Igreja, existe. Digo isso com muita dor. E é um estilo muito difícil de vencer, porque traz, muitas vezes, as cores e o sabor do sagrado, melhor, da falsa sacralidade. Eu me pergunto e lhes pergunto: vivemos ou não vivemos o estilo do mundo quando a exterioridade assume o controle da substância das coisas?

Eu me pergunto e lhes pergunto: vivemos ou não o estilo do mundo, quando, por exemplo, a nossa preocupação não é a formação séria do povo de Deus, e não os pobres e as suas necessidades, e nos demoramos, em vez disso, gastando excessivamente conosco, com decorações chamativas?

É ou não é o estilo mundano o de uma pastoral que se contenta om o existente e não aceita de se desapegar de modos de fazer que hoje não transmitem o Evangelho, mas transmitem apenas caprichos sem conteúdos? (…)