Brasil se junta à África do Sul no processo contra Israel pelo genocídio em Gaza

Foto: Wikimedia Commons

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24 Julho 2025

Lula da Silva foi declarado 'persona non grata' pelo governo Netanyahu em fevereiro do ano passado.

A informação é de Joan Royo Gual, publicada por El Pais, 24-07-2025

O Brasil se juntará ao processo movido pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça da ONU por um possível crime de genocídio na Faixa de Gaza. O Ministério das Relações Exteriores do governo Luiz Inácio Lula da Silva informou nesta quarta-feira que o país sul-americano está prestes a se juntar formalmente ao caso movido pelo país africano, argumentando que o faz porque é plausível que "os direitos dos palestinos à proteção contra atos de genocídio estejam sendo irreversivelmente prejudicados", em conformidade com a conclusão da corte em medidas cautelares anunciadas em 2024.

Em uma declaração contundente, a diplomacia brasileira enfatiza que a comunidade internacional "não pode permanecer inativa diante das atrocidades em curso", acrescentando: "O Brasil acredita que não há mais espaço para ambiguidade moral ou inação política. A impunidade mina a legalidade internacional e compromete a credibilidade do sistema multilateral". A declaração destaca que massacres de civis, especialmente mulheres e crianças, tornaram-se comuns durante a entrega de ajuda humanitária em Gaza e que a fome é usada "descaradamente" como arma de guerra. Também relembra ataques à infraestrutura civil, instalações das Nações Unidas e locais religiosos, como o ataque à única paróquia católica em Gaza.

Somando-se a "esses horrores", afirma o governo brasileiro, estão as constantes violações do direito internacional, como a anexação forçada de territórios e a expansão de assentamentos ilegais. As críticas do país sul-americano vão além de Gaza; critica também a "violência indiscriminada e o vandalismo" praticados por colonos extremistas na Cisjordânia, citando, como exemplo, o recente incêndio da Igreja Ortodoxa de São Jorge, na cidade de Taybeh.

Nos últimos meses, tanto o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, quanto o próprio Lula têm usado as palavras "massacre", "carnificina" e "genocídio" para se referir às ações do governo de Benjamin Netanyahu em Gaza. Declarações oficiais, publicadas quase semanalmente após cada nova onda de mortes, exigem a facilitação da ajuda humanitária, a retirada das tropas israelenses, a libertação de reféns do Hamas e o diálogo entre as partes.

No início deste mês, durante a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, Lula pediu mais ação aos países emergentes: "Não podemos ficar indiferentes ao genocídio perpetrado por Israel em Gaza, à matança indiscriminada de civis inocentes e ao uso da fome como arma de guerra", disse ele em um de seus discursos. Como é típico da postura diplomática tradicional do Brasil, ele também argumentou que uma solução para o conflito no Oriente Médio só será possível com o fim da ocupação israelense e o estabelecimento de um Estado palestino soberano dentro das fronteiras de 1967.

As críticas de Lula aos abusos de Netanyahu remontam a muito tempo e já desencadearam uma crise diplomática entre os dois países em fevereiro de 2024. Na época, o presidente brasileiro falou em genocídio, acrescentando que algo assim só poderia ser comparado ao momento em que Hitler decidiu matar os judeus. A comparação com o Holocausto provocou a indignação do governo israelense, que declarou Lula persona non grata. O Brasil respondeu convocando seu embaixador em Tel Aviv para consultas. Desde então, as relações entre os dois países têm sido praticamente inexistentes.

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