09 Julho 2025
Francesca Albanese, relatora especial das Nações Unidas para os Territórios Palestinos Ocupados, divulgou um relatório detalhado sobre os lucros multibilionários obtidos por empresas ao redor do mundo em relação à grave situação na Palestina.
A reportagem é de Carlo Cefaloni, publicada por Città Nuova e reproduzida por Settimana News, 07-07-2025.
Francesca Albanese, relatora especial das Nações Unidas para os Territórios Palestinos Ocupados desde 2022, apresentou um relatório sensacional em 01-07-2025 com um título longo, mas muito claro: Da economia da ocupação à economia do genocídio: os lucros multibilionários obtidos por corporações ao redor do mundo no apoio e manutenção do projeto colonial de assentamentos de Israel.
O trabalho da jurista italiana é uma resposta de fato àqueles que falam da crise da ONU 80 anos após sua fundação. Não há outro lugar no mundo onde seja possível trazer à tona a questão dos direitos humanos apenas com a força da razão e dos fatos.
O documento está disponível em inglês no site da ONU (você pode baixar o documento aqui) e agora pode ser lido em diferentes idiomas graças aos sistemas de tradução online amplamente difundidos.
É certo que um texto deste tipo, capaz de examinar a cumplicidade generalizada, não apenas do sistema econômico, com a tragédia em curso na Palestina, está destinado a criar mais problemas do que o relatório anterior produzido por Albanese em março de 2024, intitulado Anatomia de um Genocídio, sobre a situação dos direitos humanos nos Territórios Palestinos ocupados desde 1967.
Uma grande campanha de apoio a Albanese foi promovida em 2023 pela Anistia Internacional para responder ao pedido de sua destituição do cargo feito pelo ex-embaixador e ex-ministro das Relações Exteriores da Itália, Giulio Terzi di Sant'Agata (atual senador da Fratelli d'Italia) e pelo ministro israelense para a diáspora, Amichai Chikli.
Mas o desfavor em relação ao relator da ONU era evidente, por exemplo, já em julho de 2022, ou seja, antes da catástrofe que eclodiu com o massacre de 07-10-2023, durante a audiência de Albanese na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, em particular pelo presidente da mesma comissão, o membro do Partido Democrata Piero Fassino.
Albanese nunca parou de apelar à comunidade internacional para "prevenir e proteger as populações de crimes atrozes" e para assumir "responsabilidades por crimes internacionais cometidos pelas forças de ocupação israelenses e pelo Hamas".
O relatório de julho de 2025 examina cerca de mil empresas, mas, por enquanto, apenas 48 das maiores são mencionadas, que também foram informadas sobre a investigação em andamento pela ONU.
A empresa italiana Leonardo aparece lá, junto com Google, Amazon, HP, Microsoft, IBM, BlackRock, Chevron, Caterpillar, Volvo, Hyundai, Lockheed Martin, Airbnb e Booking.com, além das empresas israelenses diretamente envolvidas, como a indústria de armas Elbit, a empresa de gestão de águas Mekorot e a produtora de spyware NSO.
Os riscos do relatório da ONU para grandes corporações não são apenas danos potenciais à sua imagem e reputação, mas também responsabilidade civil e criminal direta. Como afirma o relatório na tradução disponibilizada no site La Via Libera, "quando entidades corporativas continuam suas atividades e relações com Israel – com sua economia, suas forças armadas e os setores público e privado vinculados ao território palestino ocupado – pode-se considerar que contribuíram conscientemente para: violação do direito palestino à autodeterminação; anexação de território palestino, manutenção de uma ocupação ilegal...; crimes de apartheid e genocídio... Tanto as leis criminais quanto as civis em diversas jurisdições podem ser invocadas para responsabilizar entidades corporativas ou seus executivos por violações de direitos humanos e/ou crimes de direito internacional."
No que diz respeito a armamentos, o relatório de Albanese afirma que o Estado "se beneficia do maior programa de aquisição de defesa já realizado – para o caça F-35, liderado pela Lockheed Martin, sediada nos EUA, juntamente com pelo menos 1.650 outras empresas, incluindo a fabricante italiana Leonardo". Esse "poder aéreo sem precedentes" teria permitido o lançamento de aproximadamente 85 mil toneladas de bombas, causando a morte ou ferimentos em mais de 179 mil palestinos. Mas, além das armas, parece haver, por exemplo, colaboração na destruição de assentamentos palestinos com o fornecimento de maquinário pesado por empresas afiliadas a capitais públicos e privados de diversos países.
Segundo o relatório, o crescimento dos gastos com armas pelo governo Netanyahu também foi possível graças à compra de títulos do tesouro israelense por algumas das maiores instituições financeiras do mundo (BNP Paribas, Barclays, Blackrock, Vanguard…).
Em suma, uma reportagem com conteúdo explosivo, ainda que amplamente conhecida no mundo da economia e das finanças.
A intenção de Albanese é solicitar às autoridades estatais e supranacionais que suspendam acordos comerciais relacionados às cadeias de suprimentos expostas no relatório, começando pela de armas. Uma decisão apoiada pelo governo espanhol liderado por Pedro Sánchez, mas não por outros países da União Europeia, em particular pela Itália.
Além dos relatórios oficiais, Francesca Albanese sabe que um dos fatores determinantes para orientar a opinião pública continua sendo o fator narrativo que permite entrar na vida de pessoas reais, além dos números dos relatórios oficiais.
A jurista italiana publicou recentemente, pela Rizzoli, o livro "Quando il mondo dorme. Storie, parole e ferita della Palestina", um volume de relatos ligados à sua atividade como relatora especial da ONU, que o relatório que acaba de entregar certamente torna cada vez mais instável devido à decisão de denunciar a responsabilidade generalizada e compartilhada pelo que acontece naquela terra disputada.