11 Junho 2025
Israel mobilizou milícias de Gaza concorrentes do Hamas para desencadear uma guerra interna a seu favor. Agora é o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu quem admite: "O que há de errado nisso?"
A reportagem é de Nello Scavo, publicada por Avvenire, 06-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
As admissões do primeiro-ministro levantam novas questões sobre o modus operandi do governo de Tel Aviv, por tempo acusado de ter contribuído no passado para fortalecer o Hamas e seu líder Yayha Sinwar para enfraquecer a Autoridade Nacional Palestina e comprometer o nascimento de um estado único da Palestina.
Isto ocorreu até, mais tarde, ele perder o controle dos fundamentalistas que massacraram 1.200 israelenses e fizeram dezenas de reféns em 07-10-2023. Sombras que também pairam sobre a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), que, segundo os planos israelense-estadunidenses, deveria substituir o sistema de ajudas da ONU e que ontem fechou dois dos quatro locais na Faixa, após ter reconhecido que as condições de segurança do lado de fora das estruturas são proibitivas, suspendendo as operações até a tarde.
Enquanto isso, investigações jornalísticas internacionais e israelenses confirmam o papel das forças armadas de Tel Aviv nos massacres de civis que iam retirar as ajuda. E ontem, também a associação de transportadores parou os caminhões. As rotas atribuídas pelas forças israelenses aos motoristas encarregados de entregar as ajudas são uma armadilha constante.
Entrementes, Israel anunciou a recuperação dos corpos de dois reféns israelenses-estadunidenses de dupla nacionalidade em Gaza. Gadi Hagi e sua esposa, Judy Weinstein-Hagi, foram mortos e levados para Gaza após o ataque do Hamas em 07-10-2023. O Hamas e grupos afiliados mantêm 56 reféns, 20 dos quais estão vivos.
O exército israelense intensificou as operações em Gaza, enquanto as negociações estão estagnadas. Pelo menos 37 palestinos morreram ontem, segundo fontes médicas locais. Drones também mataram quatro pessoas, entre as quais três jornalistas do Palestina Oggi – afirma o Al-Jazeera – no hospital Al-Ahli, ao norte da Cidade de Gaza.
Em terra, Israel efetivamente isolou as Nações Unidas, mas imagens de satélite e vídeos publicados online nas últimas semanas mostram que a milícia palestina liderada por Yasser Abu Shabab expandiu sua presença no sul da Faixa, operando em uma área sob controle direto das Forças de Defesa de Israel (IDF), como o jornal israelense Haaretz escreveu ontem. Abu Shabab, filho de uma poderosa família beduína, é conhecido por atividades criminosas e saques. Como o Avvenire documentou nos últimos dias, a gangue roubou repetidamente os carregamentos, que foram então colocados no mercado negro de alimentos a preços exorbitantes.
Muitos dos saques ocorreram em áreas onde o exército israelense estava a curta distância. Antes da admissão de Netanyahu, fontes da Defesa israelense confirmaram ao Times of Israel o fornecimento de armas ao grupo de Shabab. "Israel armou uma gangue criminosa de jihadistas para fortalecer a oposição ao Hamas no enclave", escreve o jornal, que recebeu "confirmações após as declarações do ex-ministro da Defesa, Avigdor Liberman". Agora na oposição, Liberman revelou "que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aprovou unilateralmente a transferência de armas para o clã Abu Shabab", também conhecido por seu histórico de apoio ao ISIS.
O Haaretz lembra que, nas últimas semanas, Abu Shabab abriu duas páginas no Facebook onde foram publicadas mensagens contra o Hamas e a Autoridade Nacional Palestina, enquanto afirma estar operando "para garantir a segurança e distribuir ajuda aos civis".
Para complicar a situação para o governo Netanyahu, alguns vídeos da CNN sobre o massacre de deslocados atingidos por uma série de rajadas de tiros enquanto se aproximavam de um dos centros de distribuição da “GHF” no domingo. Não só as testemunhas oculares afirmaram que as tropas israelenses atiraram contra a multidão, mas a própria Fundação Humanitária de Gaza afirmou que forças israelenses estavam operando na área ao mesmo tempo que mais de 30 pessoas foram assassinadas.
Vários vídeos geolocalizados pela rede televisiva estadunidense situam os tiroteios perto de uma rotatória, onde centenas de palestinos haviam se reunido a cerca de 800 metros do posto de ajudas militarizado de Tel al-Sultan em Rafah, em uma área sob o controle das IDF, que têm uma base nas proximidades. As Forças israelenses inicialmente negaram ter aberto fogo contra os civis. Uma fonte militar admitiu posteriormente que as tropas haviam disparado "tiros de advertência". O exército israelense se recusou a responder aos pedidos de esclarecimento da emissora internacional.