10 Novembro 2023
O Vaticano olha com preocupação para a evolução de um conflito que corre o risco de se prolongar por muito tempo. Teme-se que a guerra possa ter efeitos devastadores em nível social e humanitário, deixando milhares de palestinos sem casa e sem meios de subsistência - "A única solução possível" para o conflito Israel-Palestina é a obtenção de um acordo "baseado na união dos dois estados", que "exige a cessação das atuais hostilidades e a redução das tensões" em toda a região do Médio Oriente.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 31-10-2023.
“É importante que as autoridades legítimas do Estado da Palestina e as autoridades do Estado de Israel, com o apoio de toda a comunidade internacional, demonstrem a audácia de renovar o seu compromisso com uma paz baseada na justiça e no respeito mútuo”. Esta é a posição do Vaticano, reafirmada no passado dia 6 de novembro pelo Observador Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas em Nova York, Dom Gabriele Caccia.
No Vaticano começamos a lidar com as consequências de uma guerra cujo prolongamento indefinido se teme, que teria um impacto social e humanitário dramático na comunidade cristã já reduzida ao mínimo na Terra Santa. Cresce a preocupação com a ausência de uma "estratégia de saída" do conflito em curso por parte do governo israelense liderado por Benjamin Netanyahu, enquanto, na frente oposta, para "contornar" o problema do Hamas, estão sendo feitas tentativas para criar espaço político para a fraca Autoridade Nacional Palestina, liderada pelo idoso líder Abu Mazen, para que possa ter um papel na gestão do "depois", ou seja, no governo de Gaza e no inevitável trabalho de reconstrução.
As incertezas e dúvidas suscitadas no Vaticano pela nova fase da crise no Médio Oriente foram bem resumidas na última edição da Civiltà Cattolica, publicada no início de novembro, cujos projetos são revistos pela Secretaria de Estado. "Israel, ao qual o direito internacional e a maioria dos países ocidentais reconhecem o direito de se defender de forma proporcional e com o direito humanitário em mente, deve demonstrar que a sua luta é contra os terroristas, contra o Hamas, que pretende destruir o Estado israelense, e não contra o povo de Gaza. Deveria garantir um novo começo depois da guerra, apoiando um programa sério de reconstrução e prometendo não 'estrangular' a economia da Faixa de Gaza, mas sim propor projetos de cooperação".
Além disso, do lado político, foi ainda afirmado, "deveria apoiar uma nova constituição palestina e apoiar os novos líderes eleitos pelo povo. Isto, segundo alguns intérpretes, seria mais fácil com um novo governo israelense eleito após o fim da guerra". Uma conclusão que não foi propriamente um ato de fé na atual liderança israelense.
Numa entrevista concedida ao Osservatore Romano, Yagal Carmon, especialista em inteligência e ex-conselheiro de segurança de dois antigos primeiros-ministros israelenses, como Yitzhak Rabin e Yitzhak Shamir, e um dos poucos que previram o ataque do Hamas e a eclosão do conflito, afirmou: "Como pretendem sair daí? Estão pensando voltar a antes de 2005 e administrar Gaza? Loucura. Estão pensando em libertar Gaza para devolvê-la à ANP? Isto é, pensam seriamente que Mahmud Abbas poderia regressar a Gaza a bordo de um tanque israelense?"
"Poderia ser uma solução", acrescentou, "a de uma força de interposição dos países árabes, que também assuma o encargo de gerir a Faixa. Mas me parece que os dois principais intervenientes, a Jordânia e o Egito, não têm qualquer intenção de se envolver. Então? Então tudo permanecerá como antes. Com um Hamas mais concentrado no sul da Faixa, e no norte com soldados israelenses guardando uma pilha de escombros". Em tudo isto, a próxima viagem do Papa ao Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 1 a 3 de dezembro, por ocasião da cimeira mundial contra o aquecimento climático (COP28), poderá constituir um encontro diplomático informal importante, mas inesperado para discutir o conflito Israel-Hamas.
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O alarme da Santa Sé e as hipóteses sobre a situação pós-Netanyahu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU