08 Agosto 2023
O Vaticano está a organizar em novembro próximo em Abu Dhabi, um encontro para a paz com dirigentes religiosos de todo o mundo, segundo anunciou o Papa Francisco numa entrevista publicada esta sexta-feira, 4, pela revista católica espanhola Vida Nueva.
A reportagem foi publicada por 7Margens, 04-08-2023.
O encontro, que se articula com a “ofensiva de paz” que o Vaticano está a desenvolver, a propósito da guerra na Ucrânia, está a ser coordenado no mais alto nível pelo secretário de Estado da Santa Sé, o cardeal Pietro Parolin, e decorrerá imediatamente antes da Cimeira sobre o Clima, que as Nações Unidas organizam este ano no Dubai.
Na entrevista à Vida Nueva, Francisco passou em revista o conjunto de esforços que o Vaticano vem desenvolvendo em torno da busca de caminhos para a paz no conflito desencadeado pela Rússia, ao invadir a Ucrânia, no início de 2022, dando conta da intenção de designar um seu representante permanente “para servir de ponte entre as autoridades russas e ucranianas”. Confirmou, por outro lado, uma próxima deslocação à China do cardeal Zuppi, viagem que, juntamente com a que já fez a Washington, se justifica, do ponto de vista do Papa, “porque ambos têm também a chave para baixar a tensão do conflito”.
A entrevista à revista espanhola teve como pretexto o seu 65º aniversário e assumiu a forma de um “conselho de redação” (como os que semanalmente os responsáveis realizam), mas desta vez com a presença do Bispo de Roma e com o objetivo de lhe colocar questões e o escutar.
Um dos assuntos que veio à baila foi o Sínodo sobre a Sinodalidade, em vésperas de começar a fase central, em Roma, o chamado Sínodo dos Bispos. Francisco passa em revista o modo como, no pós-Concílio, com Paulo VI, percebeu-se que a Igreja ocidental tinha esquecido a sinodalidade. Refere algumas limitações da trajetória feita pelo Sínodo dos Bispos (por exemplo, como a máquina vaticana controlava o que era ou não era submetido a votação) e as experiências vividas já com ele como pontífice, em particular os sínodos sobre a família e sobre a Amazônia.
A certa altura, perguntam ao Pontífice se o atual sínodo não pretenderá abarcar tudo,– desde renovação litúrgica a comunidades mais evangelizadoras, acolhimento da comunidade LGBTQ, a opção pelos pobres…. E se ao Papa não terá ocorrido, em algum momento, dar-lhe forma de concílio. A resposta papal é enfática:
“As coisas não estão maduras para um concílio Vaticano III. Mas ele também não é necessário, neste momento, uma vez que ainda se não pôs em prática o Vaticano II. Este foi muito arriscado e há que pô-lo em marcha. Mas há sempre esse medo que a todos nos contagiou, de forma velada, por parte dos ‘velhos católicos’ que, já no Vaticano I, se consideravam ‘depositários da verdadeira fé’. Há que apear com argumentos claros todas estas propostas de resistência. É importante afrontar os sofismas”.
Sobre o clero, um membro da equipa de jornalistas, por sinal presbítero, suscitou a questão dos padres novos e da sua alegada rigidez.
Para o Papa, essa rigidez é de “gente boa que quer servir o Senhor” e que reagem desse modo porque “têm medo perante um tempo de insegurança que estamos a viver” e, por isso, precisam ser ajudados. Admitiu que o que designou por “couraça” possa esconder “muita podridão”, por vezes em resultado de facilitismo na admissão dos candidatos aos seminários, em vários casos acolhendo expulsos de outros seminários. “Não gosto da rigidez, porque isso é um mau sintoma de vida interior. O pastor não pode dar-se ao luxo de ser rígido. Ele precisa estar aberto ao que surja”.
A longa entrevista do Papa espraia-se por outros campos que a revista organizou em diferentes secções. Uma delas é a narrativa pormenorizada como o então cardeal Bergoglio se viu eleito pelos seus pares como Papa. Os interessados poderão estar interessados em aceder a ela através do site da Vida Nueva.
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Papa anuncia “encontro para a paz” com dirigentes religiosos em Abu Dhabi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU