07 Agosto 2023
Vieram do Tejo, e em barcos engalanados, os símbolos maiores para a festa: a cruz da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, transportados desde a margem sul do rio até ao lugar onde iria ser celebrada a vigília da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023.
A reportagem é de Antônio Marujo e Clara Raimundo, publicada por 7Margens, 05-08-2023.
Colocados no altar, o sol já se punha por trás dos prédios quando o Papa Francisco chegou ao Parque Tejo. Recebido em euforia pelas centenas de milhares de jovens que ali se encontravam, o Papa atravessou, desta vez, apenas um dos arruamentos, obrigando muitos dos participantes a correr, para encontrar o melhor ângulo para o poder ver.
Fonte do Vaticano, não identificada, mas citando “as autoridades portuguesas”, referiu à Renascença que estaria no local perto de um milhão e meio de pessoas.
Mesmo assim, muitos continuavam ainda a chegar, num movimento que começara de manhã cedo, transformando Lisboa num mar de romaria: todos os peregrinos da JMJ e muitas outras pessoas que, em alguns casos à última hora, decidiram participar neste que era um dos momentos centrais da Jornada.
Do Campo da Graça, como foi baptizado o Parque Tejo para estes dias de JMJ, os jovens regressarão às suas terras ou aos seus países. Por isso, a caminhada era feita já de mochila às costas, com sacos-cama e refeições que os participantes recolhiam em pontos assinalados ao longo do caminho.
“É uma alegria ver-vos, obrigado por terem viajado, caminhado, por estarem aqui”, começaria por dizer o Papa, referindo depois o lema da JMJ de Lisboa: Maria também viajou, levantou-se para ir depressa ver a sua prima. “Em vez de pensar nela, pensa na outra [pessoa], porque a alegria é missionária.”
A alegria seria o tema forte da intervenção do Papa. Os rostos que são as raízes da alegria de cada um, converter a própria alegria em raiz de alegria para outros, a obrigação de ajudar quem cai – “a única ocasião em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudá-la a levantar-se” – foram ideias sugeridas pelo Papa. Que também usou a linguagem do futebol – “quem gosta de futebol? Eu gosto!” – para dizer que por trás de um golo está muito treino. E para (ajudar a) levantar-se depois de cair, deve estar também muito treino, uma aprendizagem com os avós, os pais, os amigos.
“Com vontade de ganhar, caminhemos na esperança, olhemos as nossas raízes e caminhemos, sem medo. Não tenham medo”, concluiu o Papa, depois de, como já fez várias vezes nos últimos dias, ter começado a improvisar em relação ao discurso que trazia preparado.
Medo foi o que Marta Luís, de Cabo Delgado (Moçambique) sentiu por várias vezes nos últimos anos, com a sua mãe e três irmãs (o pai morreu quando ela tinha sete anos), por causa dos ataques terroristas na região. Em Abril de 2021, teve de fugir para o mato, depois de um ataque à aldeia; meio ano depois, voltou a fazê-lo. “Caminhámos muito sem saber o que fazer”, até chegar mais a Sul, à província de Nampula, sem nunca ter perdido a fé.
Nos écrans, passarão, em várias línguas, muitos nomes e a frase “Estou a falar contigo”. Quando chega a custódia com o Santíssimo Sacramento, a hóstia consagrada na eucaristia, muita gente se coloca de joelhos. Uma multidão em silêncio, para deixar ouvir as cigarras.
A vigília, dizia o guião da celebração, pretende contar a “história de um encontro transformador” através da música e da dança contemporânea. Um encontro que deve levar a outros encontros que possam mudar vidas. E, na reflexão diante do Santíssimo, foram evocados os doentes, refugiados, reclusos, prostitutas, toxicodependentes, cristãos perseguidos, os povos em guerra, as crianças martirizadas e “todos os que, devido ao egoísmo dos homens, não verão a luz do dia”.
Carminho, de vestido branco, cantou Estrela, voltada para a custódia. “Tu és a estrela, eu sou um peregrino.” A noite refrescara, os jovens preparavam-se para fazer do Campo da Graça o seu acampamento nocturno. Nesta manhã de domingo, celebrarão com o Papa a missa do envio.
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“A alegria é missionária. Olhem de cima para os outros só para ajudar a levantar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU