24 Janeiro 2023
“A ultradireita latino-americana possui determinantes muito específicos. Acima de tudo, expressa a reação dos grupos dominantes contra as melhorias obtidas durante o ciclo progressista da década anterior. Não se limita a canalizar um descontentamento genérico aos efeitos do neoliberalismo, mas ao contrário, busca debelar a intensa mobilização social que prevalece na região”, escreve Claudio Katz, professor de economia na Universidade de Buenos Aires, em artigo publicado por Rebelión, 23-01-2022. A tradução é do Cepat.
A ascensão das novas direitas não provoca mais surpresas no mundo. Confirma uma tendência das últimas décadas, que inclui a captura de vários governos e sua presença como um ator recorrente no sistema político.
A onda de projetos reacionários canaliza parte do descontentamento gerado pela globalização neoliberal. Com mensagens contestatórias, recebe o cansaço provocado por um modelo que multiplicou a desigualdade, o desemprego e a precariedade trabalhista.
A ultradireita acusa “os políticos” pelos males que atingem a sociedade, mas se exclui dessa responsabilidade. Berra contra presidentes, legisladores e simples servidores públicos, acobertando o poder econômico, judiciário e militar que gera os sofrimentos populares.
Seus dirigentes empreendem um discurso demagógico que dissimula sua conivência com essa regressão. Jamais resistiram à deterioração do nível de vida popular imposta pelo capitalismo neoliberal, nem lutaram contra a desestruturação social gerada por esse esquema (Palheta, 2018).
Armaram-se na erosão do sistema político para lucrar com a descrença generalizada nos partidos tradicionais. Municiam a irritação contra as vítimas da crise para facilitar a perpetuação dos privilégios das classes dominantes.
A nova direita surgiu inicialmente na Europa ressuscitando os discursos xenófobos do nacionalismo. Adotou as bandeiras do soberanismo regressivo das regiões prósperas, que não querem dividir os recursos fiscais com as regiões atrasadas.
Também se conectou ao renascimento das religiões, ao recuo identitário e à nostalgia das conquistas perdidas. Essa nostalgia de um passado melhor foi transformada em um ódio persistente contra os setores acusados de causar as desgraças atuais. A ultradireita não julga os capitalistas, mas, sim, os segmentos populares mais desprotegidos. Concentra toda a sua artilharia contra essas minorias e supõe que a sociedade harmoniosa do passado foi corroída pela presença indesejada desses grupos (Forti, 2021).
Com essa distorção da realidade, absolve os poderosos e ataca os imigrantes que fogem das guerras ou da espoliação agrária. Exige a perseguição das vítimas dessas tragédias, criminalizando sua fuga desesperada com mais deportações, campos de concentração e militarização das fronteiras.
A extrema direita omite a hipócrita utilização capitalista dessas desventuras para baratear a força de trabalho. Também silencia a inoperância de suas promovidas penas para conter a explosão de refugiados gerados pelas guerras do imperialismo. O número desses desamparados já ultrapassa 70 milhões de indivíduos (Larsen, 2018).
Os direitistas europeus substituíram o velho antissemitismo pela nova islamofobia. Descarregam contra o mundo muçulmano a mesma fúria que seus antecessores dirigiram contra os judeus. Nesta associação do estrangeiro com a corrosão da identidade nacional, o judeu bolchevique do passado foi substituído pelo terrorista árabe (Traverso, 2016).
Nas metrópoles, a direita reativa os velhos preconceitos do colonialismo. Anuncia uma dramática substituição da população branca por outras variedades étnicas para impedir o acesso das novas minorias aos mais apreciados cargos públicos. Por todas as partes, difunde-se a mesma campanha de crispação para justificar políticas autoritárias contra os setores submersos.
Além disso, comandam uma reação neopatriarcal contra os direitos conquistados pelas mulheres. Essa contraofensiva é proporcional ao sucesso da gravitação do feminismo e à traumática reestruturação contemporânea do ambiente familiar. A nova direita almeja a velha e abalada estabilidade do patriarcado (Therborn, 2018).
Na pandemia, as vertentes libertárias desse conglomerado tiveram grande protagonismo em sua batalha contra as vacinas e as ações sanitárias. Lançaram advertências selvagens contra uma satânica elite governante que buscava aterrorizar a população mundial por meio de doenças imaginárias.
Tais formas de crenças inusitadas permeia toda a ultradireita do século XXI. Sua avaliação da pandemia como uma simples invenção se alimenta do negacionismo climático e da reação conservadora contra o movimento ambientalista.
Contudo a novidade é a apresentação de sua cruzada como um ato de rebeldia, ao lado de uma intensa defesa dos princípios conservadores (Lucita, 2023). Concretamente, retomam os velhos imaginários tradicionalistas com um tom de indignação e poses contestatórias. Flertam com o excêntrico para mascarar sua adesão ao status quo.
Os direitistas radicalizam os postulados do neoliberalismo na inconsistente modalidade do anarcocapitalismo. Este conceito é uma contradição, pois reivindica um ideal de liberdade plena, sob um sistema que funciona com normas estritas de regulação estatal.
Mas, nessa combinação de conceitos, a ultradireita nunca perde o fio condutor de sua estratégia: culpar os mais despossuídos pelas desgraças sofridas pelos assalariados e a classe média. Essa política de inimizade com os humildes e de justificação dos poderosos é o plano B do capitalismo, diante da aguda crise das formas convencionais de dominação.
Como seus antecessores, os direitistas contemporâneos estão atravessados por uma irresoluta tensão entre vertentes extremas e tradicionais. As correntes ofensivas disputam com as defensivas e os promotores da ação virulenta rivalizam com seus pares meramente transgressores (Mosquera, 2018). Nessas dissidências, a acomodação ao status quo convive com incursões audazes e aventureiras.
A tomada de prédios públicos por bandos mobilizados é a operação mais impactante das vertentes agressivas. O ataque ao Capitólio, em Washington (2021), e a ocupação dos Três Poderes, em Brasília (2023), foram os atos mais ressonantes de uma escalada que também incluiu simulações do mesmo tipo em Paris (2018), Berlim (2020), Roma (2021) e Ottawa (2022) (Ramonet, 2023).
Essa sequência indica um modus operandi compartilhado por um setor que combina a mensagem reacionária com a exibição de força. Sua captura dos lugares mais emblemáticos do poder político, por um brevíssimo tempo, é a antítese das revoluções populares que derrubaram monarquias, tiranias e ditaduras nos últimos dois séculos. Em vez de coroar uma dinâmica de emancipação, sustentam projetos contrapostos de opressão totalitária.
A nova direita se destacou com fortes avanços eleitorais na Europa, mas até agora não alcançou um status dominante (Löwy, 2019). O descontentamento gerado pelo ajuste imposto pela unificação regional generalizou uma frustração que os direitistas capturam se opondo a Bruxelas. Usufruem das reações nacionalistas geradas pela gestação de uma nova estrutura continental, sem a correspondente identidade europeia.
Contudo, essa canalização dos mal-estares não é mais uma novidade. As correntes marrons acumulam doze anos de governo na Hungria sob o comando de Orbán, que personifica a maior conversão de um líder liberal à moda direitista. Com a bandeira do cristianismo e o fomento do pânico identitário, corroeu os direitos civis, multiplicou o autoritarismo e transformou Budapeste em um centro de peregrinação do conservadorismo mundial (Sánchez Rodríguez, 2020). No entanto, os flertes de Orbán com Pequim e Moscou não removem seus compromissos com a OTAN e suas diatribes contra a União Europeia não alteram sua dependência financeira desse organismo.
Essas dualidades da ultradireita também servem para a Polônia, onde se consolidou um governo que corta direitos civis, subjuga o poder judiciário, bloqueia a entrada de imigrantes e resiste à preservação do meio ambiente. Contudo, a retórica inflamada de seus governantes não se traduz em medidas adequadas, quando está em perigo o apoio econômico de Bruxelas. Os mandatários da onda reacionária são muito pragmáticos e adaptam sua gestão às exigências do establishment.
Essa mesma adaptação aparece na Itália com a chegada de uma figura que reivindica Mussolini. De fato, a ultradireita italiana se incorporou totalmente ao manejo das cotas variáveis do poder estatal. Desde os anos 1990, Berlusconi e Salvini precederam Meloni nesse tipo de administração (Trucchi, 2022). A Itália é a terceira maior economia da União Europeia, integra o G7 e atua diretamente na OTAN. Por essa razão, certamente, a ultradireita encontrará uma adaptação ao roteiro combinado de Bruxelas e Washington.
Essas experiências de governo são muito ilustrativas do caminho percorrido pelos partidos reacionários. Em alguns países, seu exercício de governo oferece a pauta do que pode acontecer em nações onde conseguem avanços (Suécia) ou sofrem altos e baixos (Alemanha, Áustria, Espanha).
A França é o principal candidato a um ensaio de maior porte. Tem mais variantes do que o resto do continente e abriga um exótico conjunto de celebridades e influencers nas redes sociais (Febbro, 2022).
Em todos os países do Velho Continente, a ultradireita enfrenta duas contradições que não consegue resolver. Por um lado, pede a recuperação da soberania monetária sem sair do euro e, por outro, propõe restaurar a soberania militar sem abandonar a OTAN. Ambas as contradições retratam os enormes limites dessas formações.
O trumpismo se tornou a principal referência da nova direita. Seus pares na Europa (Le Pen, Orbán, Abascal Conde, Meloni) o adotaram como inspiração para os próximos passos. Essa centralidade é coerente com a contínua supremacia norte-americana no sistema imperial e com a pretensão estadunidense de recuperar a hegemonia internacional.
Os parceiros de Trump tentaram inclusive a formação de uma Internacional Marrom para ratificar essa liderança. Esse ensaio de Bannon fracassou, mas não foi arquivado e pode renascer, caso persista a primazia de Washington e a subordinação de Bruxelas (Conroy: Dervis, 2018). A ultradireita reproduz essa assimetria da relação euro-americana que se choca com o legado chauvinista e o alardeado nacionalismo dessa corrente no Velho Mundo.
Essa primazia norte-americana também obedece a seu maior manejo dos novos instrumentos para manipular o eleitorado. Demonstram grande capacidade de forjar o novo ecossistema de comunicação da direita 2.0. Especializaram-se em espalhar mentiras para convencer seus seguidores e neutralizar seus opositores.
Pelas redes sociais, exercem uma influência mental e psicológica sobre seus adeptos muito superior à imprensa, rádio e meios de comunicação do século XX. Nesse novo universo, é mais difícil distinguir o que é verdadeiro do que é falso, a realidade da ficção, ou o que é autêntico do que é manipulado. Nessa esfera, a nova direita encontrou um ambiente favorável para espalhar mensagens delirantes dos mais variados tipos.
Também sustentaram os experimentos da Cambridge Analítica para dividir o eleitorado em nichos estratificados e desenvolver estratégias de digitalização, com mensagens microdirecionadas a cada segmento (Serrano, 2020).
Contudo, nenhum desses instrumentos foi o suficiente para evitar o fracasso da presidência de Trump. Os descontroles do magnata minaram suas pretensões autoritárias, e essas atitudes levaram à sua fracassada tomada do Capitólio. O milionário também não conseguiu conter o declínio internacional dos Estados Unidos com agressividade discursiva, mercantilismo tarifário e brutalidades geopolíticas. Na verdade, evitou colocar à prova o reduzido poder da primeira potência e disfarçou essas vacilações com pomposas bravatas.
Trump também fisgou uma massa plebeia descontente com as elites globalistas costeiras e forjou uma base eleitoral duradoura em torno do Partido Republicano. Reúne inúmeras variantes de uma direita, que combinam a manipulação institucional com a pressão das milícias racistas. Conseguiu reciclar todos os mitos do individualismo, revitalizando crenças absurdas na genialidade (ou excepcionalidade) dos estadunidenses.
Diante da decepção com um presidente tão senil e inaudível como Biden, Trump aposta em um segundo mandato. No entanto, não conseguiu suscitar a esperada onda republicana nas eleições de meio de mandato. Os democratas mantiveram mais cadeiras no Congresso do que se imaginava e foi rompida a pauta histórica de recuo da situação governista em eleições assim. Não houve voto de punição, apesar da decepção gerada por Biden gerou no grosso de seu eleitorado (Morgenfeld, 2022).
Os candidatos mais malucos da ultradireita foram derrotados em seus distritos, em um marco de grande reação democrática contra a anulação judicial do direito ao aborto. Em muitos lugares, houve um alto registro de eleitores para sustentar essa conquista (Selfa, 2022).
Este fracasso de Trump foi aproveitado por seus próprios rivais que disputam com ele a próxima candidatura presidencial. São personagens do mesmo espectro reacionário, com expoentes como o governador DeSantis, que substituiu a educação sexual nas escolas por um dia de oração pelas “vítimas do comunismo”. Nesse cenário, o retorno da ultradireita à Casa Branca é muito incerto.
A influência do trumpismo é muito visível na ultradireita latino-americana. O ressurgimento deste último setor foi posterior à Europa e aos Estados Unidos e ganhou força durante a restauração conservadora (2014-2019) que sucedeu ao ciclo progressista.
Como em outras partes do mundo, durante a pandemia, consolidou sua pregação com inconsistentes discursos negacionistas e objeções medievais às vacinas. Compartilha com seus pares do Primeiro Mundo os comportamentos autoritários, a intolerância às minorias estigmatizadas e a recriação de uma ideologia conservadora.
Além disso, importou as técnicas de manipulação das redes sociais, com uma agenda reacionária de intrigas e fake news implementada por pelotões de trolls. Transformaram a conversa e o contraponto de opiniões em enganos para fidelizar um público cativo. Dessa forma, multiplicam sua captura de audiências, viralizando discursos de pura intolerância.
Com esse instrumental, conseguiram sair do confinamento de classe que afetava seus antecessores elitistas e conseguiram territorializar parte de sua atividade no campo popular. Atualmente, disputam presença em setores sociais que estavam fora de seu alcance, com posições demagógicas baseadas na depreciação do sistema político (López, 2022). Com esses pilares, possuem uma presença na rua maior do que a de seus colegas do mundo desenvolvido.
A ultradireita latino-americana possui determinantes muito específicos. Acima de tudo, expressa a reação dos grupos dominantes contra as melhorias obtidas durante o ciclo progressista da década anterior. Não se limita a canalizar um descontentamento genérico aos efeitos do neoliberalismo, mas ao contrário, busca debelar a intensa mobilização social que prevalece na região.
Por essa razão, também entra em confronto nas ruas com todos os movimentos, partidos e figuras ligadas a algum ideário progressista. Este perfil reativo e revanchista é o tom dominante da onda reacionária na América Latina (De Gori, 2017).
O tom vingativo contra as experiências revolucionárias (Fidel) radicais (Chávez, Evo) ou progressistas (Kirchner, Lula, Correa) explica seu ódio à esquerda e seu apego às modalidades clássicas do macarthismo. As diatribes contra a “ameaça comunista” renasceram com grande força no Novo Mundo e o discurso da guerra fria é repetido com a mesma meticulosidade do passado.
A direita regional também desenvolve sua própria agenda temática. A hostilidade aos imigrantes ou as perseguições às minorias étnicas não ocupam tanto espaço quanto as campanhas contra a criminalidade. A demagogia punitiva, a exigência de dureza policial e o apelo ao uso generalizado de armas são seus principais cavalinhos de guerra, em uma região afetada por altos índices de violência social (Traverso, 2019).
A América Latina tem estado à margem dos grandes conflitos bélicos, mas acumula recorde de violência cotidiana. Das 50 cidades mais perigosas do planeta, 43 estão localizadas na região. O neoliberalismo gerou uma grande rede de criminalidade. Acrescente-se aos velhos padrões da marginalidade urbana uma nova interação de máfias e redes de tráfico de drogas controladas a partir dos Estados Unidos. A mensagem de ordem repressiva busca ressuscitar a nostalgia de um passado mais tolerável.
A ultradireita regional repete a velha recitação conservadora contra os “políticos ladrões”, ocultando suas próprias fontes de financiamento. Conta com o apoio dos grupos capitalistas beneficiados pelo ajuste neoliberal e por isso aprova explicitamente o programa econômico desses setores. Não compartilha o distanciamento formal de seus colegas europeus do ideário neoliberal, nem seu disfarce com ingredientes de xenofobia. Na América Latina, defendem formas extremas de abertura comercial, liberalização financeira e desregulamentação trabalhista.
Seus principais porta-vozes abnegam o velho nacionalismo da direita, que ressaltava as virtudes do desenvolvimentismo e do intervencionismo estatal (Petras, 2018). Esse abandono confirma sua total sintonia com a restauração conservadora exigida pelas classes dominantes.
Os grupos reacionários também contam com o enorme apoio de muitas correntes evangélicas. O crescimento vertiginoso dessa comunidade colocou a Igreja Católica na defensiva e já possui contundentes correlatos políticos. Desenvolvem intensas campanhas contra a igualdade de gênero (Gatti, 2018) e conseguiram fazer com que o Brasil seja o país com a maior população pentecostal do planeta. Ungiram um presidente na Guatemala e formaram bancadas de parlamentares no Chile, México, Colômbia, Paraguai, Peru e Equador.
A subordinação ao trumpismo é um traço generalizado em todas as vertentes da região. O primeiro ensaio de articulação direitista na América Latina foi esboçado diretamente pelos assessores do magnata (Abrams, Rubio, Pompeo), que criaram o efêmero Grupo de Lima. A estreita e subordinada relação de Bolsonaro com Trump foi confirmada com o refúgio oferecido pela Flórida aos golpistas brasileiros.
O evento organizado por dois grupos do conservadorismo estadunidense (CPAC, ACU), no México, também retratou a primazia do Norte sobre seus pares na região (Majfud, 2022). Chegaram ao ridículo de expor na capital asteca o mesmo discurso anti-imigrante que propagam do outro lado da fronteira. O trumpismo não dissimula suas exigências de total submissão do Pátio dos Fundos.
Os reacionários da América Latina buscam também uma articulação com o falangismo espanhol do Vox para recriar o eixo ideológico hispano-americano. Ao discurso habitual contra o “perigo comunista”, acrescentam a reivindicação da conquista colonial e a consequente convalidação do massacre dos povos originários. Na abertura dessa cruzada, o levante franquista foi exaltado e edulcorado com uma alegre apresentação musical (Vamos a volver al 36).
Este alinhamento concorre com os elos mais tradicionais da Ibero-esfera (termo que substitui a abatida noção de Ibero-América). Esse nexo é impulsionado pelo Partido Popular espanhol e os intelectuais ultraconservadores do Novo Mundo (como Mario Vargas Llosa). Nessas formas de entrelaçamento, os direitistas latino-americanos retornam às suas raízes hispano-eclesiásticas, confirmando sua ausência de novidades substanciais.
A onda conservadora confirma que a direita não se abrandou, nem se modernizou na América Latina. As ilusões de um comportamento “civilizado” deste setor estão se diluindo, juntamente com a crescente influência dos aspectos extremos desse espectro (Campione, 2022).
A direita tradicionalmente sustentou todas as formas de violência utilizadas pelas classes dominantes para garantir seus privilégios. Essa função era garantida pelo Exército através de ditaduras ferozes.
Os fracassos acumulados por essas tiranias e a forte oposição democrática ao seu restabelecimento reduziram a viabilidade dessa receita. Para contornar essa limitação, a nova onda reacionária desencadeia formas substitutas do velho golpismo.
O imperialismo norte-americano é o principal sustentáculo dos regimes autoritários reforçados pela ultradireita com sua ideologia, seus aparatos e suas lideranças. Esteve particularmente envolvida nos complôs do lobby de Miami contra Cuba e Venezuela, mas enfrenta qualquer revolta popular genuína. Recuperou a gravitação como instrumento das elites para lidar com esses protestos.
Esta funcionalidade para enfrentar resistências, silenciar militantes e aterrorizar os descontentes é o seu principal traço. Os direitistas tomaram nota dos levantes sociais que nos últimos anos levaram a vitórias eleitorais do progressismo na Bolívia, Chile, Peru, Honduras e Colômbia. Também registraram as vitórias de mobilizações populares mais recentes no Equador e no Panamá e guinadas políticas na Argentina, México e Brasil.
A ultradireita volta à cena para buscar respostas reacionárias a esses desafios. A restauração conservadora não conseguiu enterrar o ciclo anterior e por isso ensaiam outros rumos para desativar a persistente luta popular. Contudo, diante de tantas variedades dessa contraofensiva, impõe-se também um esclarecimento teórico sobre o sentido desse espaço. Abordaremos esse problema no próximo texto.
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De Gori, Esteban; Vollenweider, Camila; Gómez, Ava; Bárbara, Ester (2017). Derechas outdoors, la marcha de los oposicionistas, 18-04-2017. Disponível aqui.
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Majfud Jorge (2022). Es el fascismo el futuro de la Humanidad? Por Jorge Majfud. Disponível aqui.
Campione, Daniel (2022). Entre derechas nuevas y viejas nos jugamos nuestra existência.
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O renovado formato da velha direita latino-americana. Artigo de Claudio Katz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU