04 Abril 2020
“O ceticismo dos democratas em relação ao presidente pode ter salvado suas vidas, enquanto a confiança dos republicanos no presidente pode ter colocado a deles em risco”, escreve Thomas Reese, jesuíta estadunidense, ex-editor-chefe da revista America, dos jesuítas dos Estados Unidos, de 1998 a 2005, e autor de “O Vaticano por dentro” (Ed. Edusc, 1998), em artigo publicado por Religion News Service, 02-04-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O presidente Trump está colocando a vida de seus apoiadores em risco por causa da sua frouxidão contra a epidemia de coronavírus?
Embora hoje ele esteja dizendo que 100 mil mortes será uma vitória, por meses o presidente ignorou os alertas dos profissionais e disse que o país não precisava se preocupar.
Em janeiro, ele disse que a situação estava “sob controle” e que “tudo sairá bem”. “Nós temos um problema muito pequeno no país”, disse na ocasião. Mais tarde, em 05 de março, disse “somente 129 casos”. Em 12 de março, ele afirmou que nós temos “muitos poucos casos” comparado a outros países. Numerosas vezes ele comparou o vírus com uma gripe.
Republicanos estão inclinados a acreditar e defender qualquer coisa que o presidente diz, enquanto os Democratas são céticos com relação a qualquer coisa proferida por ele.
Isso também se aplica ao coronavírus. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center em meados de março, "59% dos democratas e independentes de tendência democrática dizem que o surto é uma grande ameaça à saúde da população dos EUA como um todo; apenas 33% dos republicanos e os simpatizantes republicanos afirmam o mesmo".
A mesma pesquisa constatou que 76% dos republicanos achavam que a mídia exagerava os riscos do vírus, enquanto apenas 49% dos democratas pensavam da mesma maneira.
É lógico que, como resultado, os democratas eram mais propensos a tomar precauções no início da epidemia do que os republicanos. O ceticismo dos democratas em relação ao presidente pode ter salvado suas vidas, enquanto a confiança dos republicanos no presidente pode ter colocado a deles em risco.
Da mesma forma, cristãos evangélicos. A mesma pesquisa do Pew descobriu que, em meados de março, 77% dos evangélicos brancos estavam confiantes de que Trump estava fazendo um bom trabalho respondendo ao surto de coronavírus. Outros grupos religiosos eram mais céticos. Apenas 52% dos católicos, por exemplo, sentiram o mesmo. Para os não afiliados, o número foi de 28%.
Quando a epidemia de coronavírus terminar, os cientistas sociais terão um dia de campo, examinando o impacto da liderança de Trump, ou a falta dela, no contágio.
Os republicanos foram infectados e morreram a uma taxa mais alta que os democratas? Os estados vermelhos (ou municípios) apresentaram taxas de infecção mais altas do que os estados azuis? Os evangélicos fizeram pior do que outros grupos religiosos? Os espectadores da Fox News foram infectados em uma taxa mais alta do que aqueles que assistiram à CNN?
Tais estudos terão que controlar muitos outros fatores, como idade, ocupação e renda, mas os resultados certamente serão interessantes de uma maneira ou de outra.
Até agora, a evidência é mista. Os dados da Pew indicam que os republicanos estão arriscando suas vidas porque confiam no presidente. Mas a cidade de Nova Iorque é muito azul e está muito doente.
Por outro lado, ainda estamos no início da epidemia.
Profissionais de saúde pública temem que a Flórida seja um desastre, porque o governador republicano esperou até 1º de abril para impor ao estado as restrições de “ficar em casa”, depois de dizer que o faria apenas quando a Casa Branca o dissesse.
No Texas, foram os prefeitos das grandes cidades que se uniram para apoiar o “fique em casa” e o distanciamento social depois de cansarem de esperar que o governador republicano do estado agisse. As restrições desiguais podem significar que as taxas de mortalidade variam de acordo com o município do Texas.
Certamente, haverá mais mortes nas cidades, tradicionalmente democratas, do que nas áreas rurais, porque mais pessoas vivem nas cidades. Mas o número de mortes por mil residentes varia significativamente? As áreas rurais e as pequenas cidades (o país de Trump) têm menos médicos e leitos hospitalares por mil pessoas do que as cidades. Elas provavelmente serão atingidas mais tarde, mas ainda será duro à medida que o contágio se espalhar.
Cada vez mais e mais republicanos e evangélicos adoecem e morrem. Desafiarão Trump ou seguirão o apoiando até o fim? “Não depositar a verdade nos príncipes”, alertou o salmista.
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Trump está matando seus apoiadores? Artigo de Thomas Reese - Instituto Humanitas Unisinos - IHU