16 Outubro 2024
"A expectativa para a COP 30 é que ela promova a defesa de uma governança global mais eficaz para proteger a biodiversidade e enfrentar as desigualdades que agravam os conflitos e a fome. A Amazônia, com sua riqueza genética e potencial para inovações científicas, pode oferecer alternativas para muitos desses problemas, desde que utilizada de forma sustentável e ética", escreve José Ribamar Bento da Silva Júnior, em artigo publicado por EcoDebate, 16-10-2024.
José Ribamar Bento da Silva Júnior é doutorando do PPGDAM/NUMA/UFPA. Mestre em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável pelo Programa de Mestrado em Uso Sustentável de Recursos Naturais em Regiões Tropicais da UFPA/ITV. MBA em Gestão Ambiental pela Fundação Getúlio Vargas. Psicanalista pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica. Graduado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural da Amazônia.
A decisão de realizar a COP 30 em 2025, na cidade de Belém do Pará, coloca o Brasil, e mais especificamente a Amazônia, no epicentro das discussões globais sobre alterações climáticas.
Este evento, de suma importância, traz a oportunidade de dar visibilidade a uma das regiões mais críticas para o equilíbrio ecológico planetário. A Amazônia, por sua vasta biodiversidade e capacidade de regular o clima, é essencial para o futuro da humanidade. No entanto, ao mesmo tempo que carrega a esperança de ser uma alternativa para as mudanças climáticas, a região enfrenta graves desafios ambientais e sociais, que precisam ser resolvidos com urgência.
Realizar a COP 30 em Belém do Pará tem grande significado simbólico e prático. A cidade é a porta de entrada para a Amazônia e representa a complexa realidade ambiental, social e econômica da maior floresta tropical do mundo. Estar no coração dessa realidade permitirá que os líderes mundiais e ativistas vejam de perto o que está em jogo.
Entre as vantagens está o fato de que a presença internacional pode gerar pressão para que o Brasil intensifique suas políticas ambientais e a proteção da Amazônia. Nos últimos anos, a região tem enfrentado desmatamentos crescentes, exploração ilegal de madeira e garimpo, além de conflitos fundiários envolvendo povos indígenas e comunidades tradicionais. A COP 30 pode impulsionar o desenvolvimento de acordos e compromissos mais firmes em torno de uma economia sustentável, com incentivo à bioeconomia e ao turismo sustentável, gerando alternativas econômicas para a população local, sem comprometer os recursos naturais.
Além disso, ao sediar o evento, o Brasil terá a oportunidade de atrair investimentos estrangeiros para projetos de conservação, restauração e inovação tecnológica na região amazônica. Empresas e nações comprometidas com a sustentabilidade podem ser incentivadas a colaborar mais diretamente com a proteção da floresta, criando modelos econômicos mais inclusivos e sustentáveis.
A expectativa é que o legado da COP 30 em Belém seja significativo para a política ambiental brasileira. Ao focar na Amazônia, a conferência pode deixar uma agenda significativa de compromissos para redução de desmatamento, recuperação de áreas degradadas e fortalecimento dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais.
Essa é uma oportunidade de reposicionar o Brasil como protagonista na luta contra as alterações climáticas, algo que se perdeu em meio a retrocessos nas políticas ambientais nos últimos anos. O estado do Pará pode se tornar um símbolo de uma nova era de sustentabilidade, com a implementação de projetos que conciliem desenvolvimento econômico e preservação ambiental, algo essencial para garantir a sobrevivência da floresta a longo prazo.
O legado também pode se estender à governança local. A partir da COP 30, espera-se o fortalecimento de mecanismos de fiscalização ambiental e a criação de políticas públicas que envolvam as comunidades locais em práticas de manejo sustentável. Isso poderia incluir, por exemplo, incentivos para a agrofloresta e sistemas de produção que não degradam o solo e os recursos naturais.
No entanto, a realização da COP 30 em Belém também destaca desafios. O estado do Pará enfrenta uma série de dificuldades, como a falta de infraestrutura, baixa capacidade de fiscalização ambiental e a enorme extensão territorial, o que torna a execução de políticas ambientais consistentes uma tarefa árdua. A região também sofre com a exploração ilegal de recursos, desmatamento acelerado e uma série de pressões externas que visam a exploração de sua biodiversidade, seja pela mineração, pecuária ou agricultura intensiva.
Outro grande desafio é o envolvimento político local. Embora a pauta ambiental seja urgente, muitos governos estaduais e municipais da Amazônia ainda têm uma relação ambígua com o desenvolvimento sustentável, muitas vezes priorizando atividades econômicas predatórias. A falta de ações consistentes pode minar os avanços que a COP 30 promete, e os compromissos firmados precisam ser rigorosamente monitorados para que não se tornem apenas promessas vazias.
O mundo em 2025 estará ainda mais pressionado por crises interligadas: a guerra, a fome e a exploração desmedida da biodiversidade. Esses desafios globais exigem que a COP 30 vá além de discussões técnicas sobre emissões de carbono. Espera-se que a conferência aborde as inter-relações entre conflitos globais e a degradação ambiental. A exploração de ecossistemas como a Amazônia não apenas influenciam alterações climáticas, mas também aumentam crises humanitárias, ao deslocar comunidades e reduzir a resiliência ambiental em regiões já vulneráveis.
A fome, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, está diretamente ligada ao colapso dos sistemas naturais e à exploração insustentável dos recursos. A biodiversidade da Amazônia tem um papel fundamental na segurança alimentar global, oferecendo potenciais alternativas para sistemas agrícolas mais resilientes. No entanto, sua exploração ameaça essa mesma segurança.
A expectativa para a COP 30 é que ela promova a defesa de uma governança global mais eficaz para proteger a biodiversidade e enfrentar as desigualdades que agravam os conflitos e a fome. A Amazônia, com sua riqueza genética e potencial para inovações científicas, pode oferecer alternativas para muitos desses problemas, desde que utilizada de forma sustentável e ética.
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A Amazônia no Centro do Mundo: COP 30 – 2025 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU