15 Outubro 2024
Estado com o maior número de conflitos fundiários no Brasil em 2023, o Pará volta a registrar casos de violência policial contra trabalhadores sem-terra.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 15-10-2024.
O Pará vem se desdobrando para refazer sua imagem de modo a se colocar como um protagonista no debate sobre clima às vésperas de receber a COP30, programada para daqui a um ano. No entanto, um dos obstáculos mais contundentes a este esforço é a realidade no campo, especialmente em áreas sob algum tipo de conflito fundiário. Nessas áreas, os fantasmas do massacre de Eldorado do Carajás são mais fortes do que os sonhos verdes de Belém.
Um exemplo disso aconteceu na última 6a feira (11/10). Agentes da Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (DECA) da Polícia Civil paraense realizaram a operação Fortis Status em uma fazenda no município de Marabá. Segundo os policiais, as equipes foram recebidas a tiros por um grupo de 13 homens “fortemente armados”. No tiroteio, dois suspeitos acabaram morrendo alvejados.
De acordo com o delegado-geral Walter Resende, a operação mirou um grupo criminoso responsável por tentativas de homicídio, extração ilegal de madeira, queimadas irregulares, furto qualificado, porte ilegal de armas e desobediência a ordens judiciais.
No entanto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) contestou essas informações. De acordo com eles, os policiais entraram na propriedade de forma criminosa, sem apresentar nenhum mandado judicial e com violência. Cinco pessoas, número maior do que o total confirmado pela Polícia Civil, teriam morrido na ação policial.
“O relato dos acampados é de que os ‘policiais’ já entraram atirando, fazendo várias vítimas. Pela ação cometida, as características da abordagem policial nos levam a supor tratar-se de uma chacina contra os acampados disfarçada de operação de busca e apreensão”, afirmou o MST.
O acampamento em questão é o Terra Prometida, na fazenda Mutamba, em disputa judicial há alguns anos. O pedido de reintegração de posse da propriedade tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sob responsabilidade do ministro Cristiano Zanin. Segundo o MST, pelo menos 200 famílias vivem na área.
O Pará Terra Boa lembrou um relatório recente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) que colocou o Pará no topo da lista dos estados com o maior registro de conflitos fundiários do Brasil em 2023, com 266 conflitos confirmados. De 2014 a 2023, o acumulado é de quase 2 mil ocorrências no estado.
“Mais grave ainda é a indicação de que as principais vítimas desses conflitos são pequenos agricultores, indígenas e trabalhadores sem terra, que fazem parte dos grupos que estão na linha de frente em defesa da Amazônia e das soluções sustentáveis para o futuro do planeta”, destacou.
Os portais A Nova Democracia, Fato Regional e Ponto de Pauta abordaram a denúncia do MST. Já o jornal O Liberal repercutiu a ação policial em Marabá.
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Violência no campo é desafio no caminho do Pará para a COP30 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU