O prelado maronita Dom Samir Nassar ressalta que há 12 anos a população síria vive “em uma situação de perigo incessante”. A vã expectativa pela paz é despedaçada por conflitos, pobreza, pandemia e terremoto. Sem as novas gerações, “a Igreja perde suas bases e não tem futuro”, assim como o restante do país. A partir de janeiro, o Programa Mundial de Alimentos da ONU suspenderá o programa de ajuda alimentar.
A reportagem é publicada por AsiaNews, 07-12-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Estamos assustados” com o conflito em Gaza, que representa uma ameaça para todos, mas torna a vida ainda mais “preciosa e digna”. Há 12 anos, “vivemos em uma situação de perigo incessante, à espera de uma paz” que tarda a chegar.
É o que disse à AsiaNews Dom Samir Nassar, arcebispo maronita de Damasco, ao descrever o clima que se respira na capital síria nestas semanas de profunda tensão em toda a região do Oriente Médio. Um quadro de violência e terror, que se sobrepõe a uma realidade já crítica devido às profundas dificuldades económicas, políticas e sociais.
“Justamente pensando no que está acontecendo na Faixa de Gaza – acrescenta o prelado – decidimos cancelar as festividades e as comemorações ligadas ao Natal, mantendo apenas as celebrações religiosas.”
Há muito tempo, os sírios, especialmente a população civil que não teve nenhum papel ou interesse no conflito, tiveram de sofrer punições coletivas injustas devido às sanções internacionais e ao Caesar Act imposto pelos Estados Unidos, umas principais causas da crise.
E, nos últimos dias, o Programa Mundial de Alimentos anunciou o fim do programa de assistência alimentar no país a partir do fim de janeiro de 2024, devido à falta de fundos, como já denunciado no passado pela agência da ONU.
Guerra, economia de joelhos, terrorismo, pandemia, terremoto e, por último, o conflito em Gaza: são muitas as sombras sobre o futuro do país e dos jovens, que optam cada vez mais pelo êxodo, pela fuga para o exterior, não encontrando horizontes e perspectivas na própria pátria. E esse é o tema principal da mensagem de Advento de Dom Nassar, enviada à AsiaNews, na qual ele ressalta que, sem as novas gerações, “a Igreja perde suas bases e não tem futuro”.
Eis a mensagem.
Não tendo nem a possibilidade nem os meios para ir à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Portugal, mais de mil jovens sírios reuniram-se de 1º a 4 de agosto de 2023 no Santuário de Nossa Senhora de Sidnaya, a norte de Damasco. Para todos eles, o objetivo comum era celebrar uma espécie de “JMJ síria” à distância, mas em plena comunhão com os jovens de Lisboa.
Esses belíssimos jovens, durante os encontros, mostraram que, na realidade, 95% dos jovens gostariam de deixar o país, manifestando em alta voz sua angústia e seu desespero pela situação e pelas perspectivas atuais.
Para eles, o futuro parece estar completamente bloqueado: além da situação económica extremamente precária e da drástica falta de trabalho, soma-se há algum tempo uma falta crônica de moradias e até de eletricidade.
Novas ameaças, além das anteriores, pairam sobre a sociedade há três anos [com a pandemia ligada à Covid-19 que agravou a situação], e é raro encontrar uma única família completa. Por fim, há outros dois elementos que se somaram neste ano em curso e que está prestes a terminar: o devastador terremoto do dia 6 de fevereiro de 2023 na Turquia e na Síria, e a sangrenta guerra que eclodiu em Gaza, que obscureceram ainda mais as perspectivas.
Uma hemorragia testemunhada pelos números: o dado relativo à comunidade cristã de Aleppo caiu de 160 mil em 2011, às vésperas do conflito, para 30 mil em 2018. Depois do sismo, assistiu-se a mais uma fuga, tanto que hoje são apenas 19 mil.
Mas é possível imaginar uma Igreja sem os jovens?
Por isso, peço que a luz do Natal resplandeça no coração desses jovens e possa lhes devolver um pouco de esperança.
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“A guerra em Gaza é assustadora. Os jovens estão fugindo”, afirma arcebispo de Damasco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU