27 Novembro 2023
"Deixando para trás a tensão pela nomeação do novo bispo de Xangai e as recorrentes (justificadas) denúncias de perseguições às comunidades cristãs (clandestinas e legais), o acordo entre a China e a Santa Sé sobre bispos é confirmado, assim como a atenção do Papa Francisco ao país. Na viagem à Mongólia (3 de setembro), Francisco lembrou o 'nobre povo chinês' e reafirmou sua convicção: 'pessoalmente, tenho grande admiração pela cultura chinesa'", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 24-11-2023.
O bispo de Pequim em visita a Hong Kong, quatro hierarcas chineses como convidados na Bélgica, a viagem do cardeal Zuppi a Pequim, dois bispos em sínodo: viagens e encontros renovam a atenção dos católicos ao império vermelho. Enquanto a distância entre os EUA (Ocidente) e a China se consolida, apesar do resultado positivo do encontro entre Xi Jinping e Joe Biden em São Francisco em 15 de novembro, e, apesar de repreensões e incompreensões, o diálogo entre a
China e a Igreja Católica continua.
Deixando para trás a tensão pela nomeação do novo bispo de Xangai e as recorrentes (justificadas) denúncias de perseguições às comunidades cristãs (clandestinas e legais), o acordo entre a China e a Santa Sé sobre bispos é confirmado, assim como a atenção do Papa Francisco ao país (cf. Settimana News aqui).
Na viagem à Mongólia (3 de setembro), Francisco lembrou o "nobre povo chinês" e reafirmou sua convicção: "pessoalmente, tenho grande admiração pela cultura chinesa".
Após a visita do bispo de Hong Kong, cardeal Stephen Chow, a Pequim em abril passado, foi a vez do bispo de Pequim, dom Joseph Li Shan, voar para Hong Kong (13-15 de novembro). Como presidente da Associação Patriótica Católica (estrutura estatal que regula a vida da Igreja local), Dom Joseph teve várias reuniões, algumas celebrações, encontros com o seminário e o Centro de Estudos Holy Spirit, além de participar de um congresso teológico sobre a sinodalidade. Quatro representantes da diocese de Pequim também participaram.
Estavam previstos cinco dias, depois reduzidos para três. Para alguns, devido à irritação chinesa com o pedido público de uma dezena de bispos e cardeais pela libertação do ativista democrático e católico Jimmy Lai. Assinada pelo cardeal T. Dolan (Nova York), G. Gruŝas (Vilnius, presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias), M. Millet (Vancouver) e outros, a petição solicitava a libertação de Lai, que está preso há mais de mil dias, aguardando o julgamento marcado para dezembro.
Entre os destaques mencionados por dom Joseph Li está a troca de informações sobre a funcionalidade da diocese ("Tivemos a oportunidade de visitar o centro diocesano, o seminário, a Casa da Caridade. Vimos o desenvolvimento concreto da diocese e aprendemos muito"), bem como a confirmação do consentimento ao processo de "sinização" das religiões promovido por Xi Jinping.
Sobre o tema, o bispo de Xangai, dom Shen Bin, presidente do conselho episcopal, falou em uma longa entrevista: "A sinização é uma orientação fundamental, um sinal e uma direção para se adaptar à sociedade socialista, bem como uma regra e um requisito fundamental para a sobrevivência e o desenvolvimento da Igreja Católica na China". Isso não significa "mudar as crenças religiosas", mas adaptar o patrimônio teológico, doutrinal e canônico ao contexto chinês, aceitando sua tríplice autonomia (gestão pastoral, administração, anúncio).
"Devemos aderir ao princípio do patriotismo e do amor pela Igreja, aderir ao princípio da independência e autonomia na administração da Igreja, aderir ao princípio da democracia e aderir à direção da 'sinização' da Igreja Católica. É uma fronteira que ninguém pode ultrapassar e também é uma linha sensível que ninguém deveria tocar".
É fácil imaginar que, sobre esse processo, surgiram perguntas e suspeitas: trata-se de inculturação ou migração para outra fé? Perguntou-se aos muçulmanos para reescreverem o Alcorão. Seria intolerável imaginar uma reescrita da Bíblia para agradar ao partido.
Aos problemas teóricos se juntam os desafios práticos. A Igreja na China registra uma diminuição significativa nas vocações. Em 2000, havia 2.400 seminaristas. Hoje são 420. Uma queda também devida à proibição de se filiar a qualquer religião antes dos 18 anos. Mas nada está definido ainda, e Roma vê com simpatia as trocas entre os bispos da China continental e os outros episcopados.
A convite da Fundação Verbiest, ligada à Congregação do Imaculado Coração de Maria (scheutistas), quatro bispos chineses (G. Guo Jincai, P. Pei Junmin, G. Liu Xinhong, G. Cui Qingqi) chegaram a Lovaina em 7 de setembro. Eles visitaram instituições locais que estão em contato com a China há muitas décadas e conduziram um seminário de formação para religiosos e leigos, preparando a renovação das relações interrompidas devido à Covid. Depois de uma conversa com o cardeal Jozef De Kesel, visitaram algumas abadias.
Passando pela Holanda, eles foram para a França para obter informações sobre a Igreja local. Encontros com instituições, mas também com pessoas, como o padre Jerom Heyndrickx, há muitos anos envolvido no diálogo com a Igreja na China.
A Santa Sé havia pedido a Pequim cinco representantes para o Sínodo sobre a Sinodalidade (Roma, 4-29 de outubro). Chegaram dois bispos (G. Yang Yongqiang e A. Yao Shun). Uma delegação chinesa já havia participado do anterior Sínodo sobre a Juventude em 2018. A atual delegação mostrou apreço pelo clima do sínodo e pela calorosa recepção recebida.
Em entrevista (Fides), dom Yao Shun indicou a tarefa prioritária da Igreja na China: "A primeira missão de nós católicos chineses é mostrar a misericórdia e o amor de Deus a todos os outros chineses. Estamos realmente preocupados com as necessidades da sociedade, especialmente dos pobres e dos que sofrem".
Quanto ao acordo China-Santa Sé, é opinião predominante que "é muito significativo e importante. Ele abre caminho para a promoção da integração e unidade entre a Igreja na China e a Igreja universal. Facilita o trabalho pastoral e o anúncio do Evangelho. Também é útil para melhorar as relações entre a China e a Santa Sé". Neste caso também, a estadia deles em Roma foi interrompida em 16 de outubro.
De natureza diferente foi a visita do cardeal M. Zuppi a Pequim (13-14 de setembro). Não pastoral, mas política: "o apoio às iniciativas humanitárias e a busca de caminhos para uma paz justa". A guerra russo-ucraniana o levou primeiro a Kiev, Moscou e Washington, e depois à China.
A intenção é chamar a atenção para algumas emergências humanitárias, mas em relação a Pequim, tratava-se de reconhecer o peso da China nos possíveis diálogos e reconhecer o papel do "império do meio" nos processos de paz. Apoiado pelo trabalho da Secretaria de Estado do Vaticano, ele pôde se encontrar com Li Hui, representante especial para assuntos euroasiáticos.
O diálogo "foi dedicado à guerra na Ucrânia... Também foi abordado o problema da segurança alimentar, com a esperança de que logo seja possível garantir a exportação de cereais, especialmente para os países mais vulneráveis".
Os resultados bastante escassos da viagem, no entanto, devem ser colocados em um contexto em que a China aumenta muito os controles internos devido à tensão com os EUA e ao medo de forças subversivas, inclusive em relação às fés, mas, por isso mesmo, o país precisa de um maior conhecimento do Ocidente e a "Igreja Católica pode contribuir para uma compreensão mais profunda da cultura ocidental e de uma religião tão importante em outras partes do mundo" (F. Sisci).
Em relação à China, outros elementos menores assumem um significado positivo. Como o prêmio concedido a uma freira em Nanchino (Zheng Yuequin) pelo partido comunista da cidade por seu trabalho em favor de centenas de crianças com deficiência intelectual, ou a afirmação do representante chinês na ONU, Geng Shuang, que reconhece e incentiva a ação das religiões para resolver o conflito russo-ucraniano.
De maior perspectiva é o possível início de uma universidade católica em Hong Kong como desenvolvimento de um instituto apreciado (Caritas Institute of Higher Education). Se a ratificação política ocorrer, seria a segunda universidade católica após a de Macau (Universidade de São José).
A Santa Sé espera um desenvolvimento mais consistente com o acordo assinado, muito exposto a mal-entendidos que uma relação mais rápida poderia facilmente evitar. Assim, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, diz: "Me parece que seria extremamente útil a abertura de um escritório de ligação estável da Santa Sé na China. Permito-me acrescentar que, em minha opinião, essa presença favoreceria não apenas o diálogo com as autoridades civis, mas também contribuiria para a reconciliação plena dentro da Igreja chinesa e para o seu caminho em direção a uma normalidade desejável".
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China: a temporada de visitas. Artigo de Lorenzo Prezzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU