14 Dezembro 2021
O Pe. Gianni Criveller, missionário do Pontifício Instituto das Missões Exteriores (Pime), organizou uma vigília de oração em Monza, Itália, em concomitância com a ordenação episcopal, no dia 4 de dezembro, de Dom Stephen Chow Sau Yan: “A sua primeira tarefa será reconstruir a unidade em uma comunidade dividida pelo drama político em curso. Muitas lideranças católicas foram jogadas na prisão, e quem pode, foge para escapar de um sistema opressor e desprovido de liberdade”.
A reportagem é de Famiglia Cristiana, 09-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As últimas notícias que chegam de Hong Kong falam da condenação do magnata católico da mídia Jimmy Lai e de outros dois expoentes do movimento pró-democracia por acusações ligadas à vigília em memória do massacre da Praça Tiananmen no ano passado. Jimmy Lai, 74 anos, proprietário do já fechado jornal Apple Daily, foi condenado por aglomeração ilegal e com ele também a ex-jornalista Gwyneth Ho e a ativista pelos direitos humanos Chow Hang-tung.
No sábado passado, na Catedral da Imaculada Conceição, o padre jesuíta Stephen Chow Sau Yan foi ordenado bispo, escolhido pelo papa para liderar a diocese chinesa com o maior número de fiéis no mundo, que finalmente voltou a ter o seu bispo ordinário, quase três anos após a morte de Dom Michael Yeung Ming Cheung, que ocorreu no dia 3 de janeiro de 2019.
A escolha de um candidato idôneo não foi fácil, mas problemática, também devido aos eventos sociais e políticos que abalaram a metrópole asiática. Por isso, paralelamente à ordenação episcopal, foi organizada a “Grande Oração por Hong Kong”, que ocorreu na Catedral de Monza e foi promovida pelo Seminário Missionário Teológico Internacional do Pime de Monza, cujo reitor é o Pe. Gianni Criveller, que viveu em Hong Kong por 26 anos e conhece muito bem aquela realidade.
Por que vocês quiseram organizar essa vigília de oração em concomitância com a consagração episcopal do novo bispo?
O reitor do seminário e eu, o decano dos estudos, somos missionários em Hong Kong e compreendemos bem a gravidade dessa passagem histórica. Queríamos ir lá pessoalmente, mas as severas normas de quarentena ainda em vigor em Hong Kong nos impediram de fazê-lo. Nós, missionários do Pime, amamos muito Hong Kong, uma das nossas missões mais antigas e prestigiosas, iniciada em 1858. Os missionários do Pime ainda estão lá para testemunhar o Evangelho. Idealmente, queríamos levar os 60 estudantes do seminário internacional de Monza, os nossos amigos e os fiéis do território para dentro da catedral de Hong Kong. As imagens da ordenação projetadas no telão dentro da maravilhosa catedral de Monza nos fizeram sentir, de uma forma realmente sugestiva e eficaz, em comunhão com a comunidade católica de Hong Kong reunida em torno do seu novo bispo. Nós cremos na força da oração e na comunhão de quem confia a própria vida não aos cálculos humanos, mas ao Senhor Jesus.
Como está a situação agora naquela região onde muitas liberdades foram restringidas?
Hong Kong é uma região da China administrada por um estatuto especial. Segundo os acordos e as promessas de 1997, ano do retorno à China, Hong Kong gozaria de 50 anos de “alto grau de autonomia” e poderia se encaminhar para uma plena democratização. E a comunidade civil de Hong Kong, uma das mais conscientes da Ásia, estava preparada para a plena liberdade e para a democracia. A lei de segurança nacional introduzida em 1º de julho de 2020 rompeu esse processo depois de apenas 23 anos e mergulhou a cidade na depressão, na tristeza e na desconfiança. Mais de 10 mil pessoas foram presas, mais de mil ainda estão na prisão por crimes de opinião. Os jovens são os mais afetados: as suas esperanças foram destruídas, e muitos deles sofrem consequências muito graves, também em nível psicológico. Há muita autocensura, ansiedade pelo futuro, e muitos deixam a cidade para tirar os filhos de um sistema governado com a opressão política.
Que trabalho aguarda o novo bispo?
A melhor imagem, a meu ver, para descrever o bispo é a do “bom pastor”. Como Jesus, o bom pastor guia o povo para a unidade, reunindo as ovelhas dispersas. A primeira tarefa do bispo Stephen é reconstruir a unidade em uma comunidade dividida pelo drama político em curso. O pastor não foge diante dos perigos e dá a vida pelas pessoas. Dar a vida não significa apenas morrer – isso também, é claro, se a violência se abate sobre a comunidade –, mas também significa se dedicar exclusivamente ao bem do povo, sem nenhum cálculo humano pelos próprios interesses e pela própria carreira. Oxalá a Igreja tivesse tantos bispos assim! Estou confiante de que Dom Stephen Chow Sau Yan será um bispo que guiará a comunidade imitando Jesus pastor, sacerdote e profeta. Ser profético não significa fazer política, mas não se calar diante da injustiça e da opressão.
Você acha que o mundo católico se esqueceu um pouco de Hong Kong?
No momento em que essa região vive a fase mais dramática da sua história, ela quase desapareceu do radar da atenção internacional e, em alguns casos, até mesmo eclesial. Sinceramente, não consigo entender isso. Depois de Hong Kong, a tragédia se abateu sobre o Mianmar. Este nosso tempo não ama a liberdade e a democracia, é conquistado com fascínio perverso pelos ditadores. Nós certamente não nos esquecemos de Hong Kong. Nem mesmo um dia. Fizemos de tudo para honrar o testemunho de inúmeras lideranças católicas, homens e mulheres de extraordinário valor moral civil, que foram condenados à prisão. Como Lee Cheuk-yan, que no dia 17 de novembro passado escreveu da prisão uma “carta aos juízes” que é um testamento político, moral e religioso de uma extraordinária nobreza. Que fique claro: eles foram condenados não por serem cristãos, mas por serem democratas. Mas são democratas e amam a liberdade porque são cristãos. Nas nossas paróquias, escolas e associações, eles aprenderam que os fiéis em Jesus não pensam em si mesmos, mas se comprometem com o bem comum. Eu continuo reiterando que a liberdade é um bem evangélico fundamental, e o autor da nossa liberdade é Jesus. Não se vive sem liberdade. Agrada-me que o Papa Francisco, em Atenas, tenha reiterado que a democracia também é um grande valor para o nosso tempo e para as nossas nações.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Novo bispo de Hong Kong não se calará diante da injustiça e da opressão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU