21 Novembro 2023
“É sabido que o neoliberalismo captura vidas para sacrificar no altar do mercado, mas, atualmente, não há um exemplo tão bem-sucedido como o argentino. Uma parte da sociedade se entregou ao jogo fatal da roleta-russa, cujo fim não representa nenhum enigma”, escreve Jorge Alemán, psicanalista e escritor, em artigo publicado por Página/12, 20-11-2023. A tradução é do Cepat.
É certo que existirão razões importantes e complexas para explicar como uma sociedade entrou na zona escura da autodestruição.
É verdade que a ultradireita se exibe pelo mundo, mas não deixa de ser uma surpresa sinistra que um país que havia sido impecável no tocante à sua memória histórica, que havia feito dos 30.000 um panteão sagrado e que, há décadas, é habitado por um movimento nacional e popular, tenha optado por dilapidar um tesouro simbólico tão importante em troca de um ultraneoliberal portador de um paupérrimo manual de pseudoargumentos e uma vice que levou a sério a batalha cultural em relação ao negacionismo da ditadura.
Há muitas explicações econômicas e políticas que já concorrem para interpretar o que está acontecendo.
No entanto, quando um país permite que desmorone um mundo simbólico em que muitas vidas eram tecidas até hoje, impõe-se admitir que é necessário voltar a pensar o país com novas perguntas.
Como quase se tratasse de um país desconhecido que tem uma parte da população que é difícil de entender, e com rumo escolhido absolutamente alheio às bandeiras históricas do peronismo.
É sabido que o neoliberalismo captura vidas para sacrificar no altar do mercado, mas, atualmente, não há um exemplo tão bem-sucedido como o argentino. Uma parte da sociedade se entregou ao jogo fatal da roleta-russa, cujo fim não representa nenhum enigma.
Resta esperar que surja alguma luz na triste escuridão destes dias, agora que, como nunca, as pontes que sustentam esta nação estão quebradas.
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Argentina. Imolação e perguntas. Artigo de Jorge Alemán - Instituto Humanitas Unisinos - IHU