18 Outubro 2023
"A história da terra de Israel e da Palestina é intrincada e dolorosa. As visões religiosas – variadas e fascinantes – dos três monoteísmos que se reportam a Abraão e olham para o fim dos tempos, sempre se entrelaçaram com interesses políticos, guerras, fundamentalismos destrutivos e intolerantes, tanto que os cristãos estão hoje reduzidos a mínimos históricos", escreve Giovanni Maria Vian, historiador e ex-diretor do L'Osservatore Romano, em artigo publicado por Domani, 11-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Depois da Ucrânia, vítima há mais de um ano e meio da agressão russa que desencadeou uma guerra sangrenta e cruel, mais uma vez o Oriente Próximo se inflama. O novo estopim foi a inesperada e atroz ofensiva terrorista do Hamas em território israelense, lançada da Faixa de Gaza – com um número muito elevado de vítimas civis, nunca tantas depois do Holocausto – enquanto era celebrada a antiquíssima festa judaica dos Tabernáculos (Sukkot), muito importante. E mais uma vez a Santa Sé encontra-se em dificuldades, devido à aparente equidistância entre agressores e agredidos.
Pareceu demasiado genérica a declaração dos "patriarcas e chefes das igrejas em Jerusalém”, portanto das diversas confissões cristãs. Um texto de “imoral ambiguidade linguística", segundo a embaixada de Israel junto à Santa Sé, que de forma contundente o ligou a uma conferência em curso na Universidade Gregoriana sobre o significado dos documentos de Pio XII para as relações entre judeus e cristãos: “Algumas décadas depois, há quem que ainda não tenha aprendido as lições do recente passado sombrio”.
Quem condenou o ataque terrorista foram, por outro lado, dois importantes cardeais: o secretário de Estado Pietro Parolin, que falou na abertura da conferência na Gregoriana, e mais claramente o franciscano Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, que acaba de retornar à sede. O comunicado – explicou – foi publicado “quando ainda não havia plena consciência do que estava acontecendo”, e “é claro que esta barbárie não tem nenhuma justificação”.
Duríssima foi a condenação de todas as confissões religiosas presentes na Ucrânia.
O órgão que as representa denunciou assim o “ataque brutal e injustificado dos militantes do movimento terrorista Hamas ao Estado e ao povo de Israel” e comparou-o explicitamente à “situação dramática que a Ucrânia sofreu e continua a sofrer” pela agressão russa: civis mortos, ataques com mísseis, reféns capturados.
O atual leque de posições e a dificuldade das confissões cristãs e da Santa Sé face a um conflito intermitente que remonta a quase um século atrás, podem ser explicadas pela longa e dramática história da pátria judaica desde as épocas helenística e romana. À cristianização da "terra santa" da era constantiniana - mas já desde 170 meta de peregrinos – seguiram-se uma nova sacralização de Jerusalém, terceira cidade islâmica depois de Meca e Medina, as cruzadas, a dominação otomana, os mandatos das potências ocidentais, o nascimento e a história do estado de Israel depois do Holocausto.
A história da terra de Israel e da Palestina é intrincada e dolorosa. As visões religiosas – variadas e fascinantes – dos três monoteísmos que se reportam a Abraão e olham para o fim dos tempos, sempre se entrelaçaram com interesses políticos, guerras, fundamentalismos destrutivos e intolerantes, tanto que os cristãos estão hoje reduzidos a mínimos históricos.
Não é por acaso que a primeira viagem internacional de um papa depois da era napoleônica foi, em 1964, para Jerusalém e os lugares sagrados. Depois, após Montini, retornaram ao país Wojtyła, Ratzinger e Bergoglio. Com visões diferentes, mas em busca de uma coexistência com os outros cristãos, com os judeus – o judaísmo é a “raiz sagrada” para São Paulo – e com os fiéis muçulmanos. Uma coexistência que hoje parece quase impossível, mas que não deve renunciar a pedir “paz para Jerusalém”, como cantam judeus e cristãos num salmo.
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A antiga sombra de Pio XII sobre as relações entre o Vaticano e Israel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU