13 Junho 2023
"Das duas últimas eleições papais, o livro revela detalhes interessantes. Para aquela de 2005, quando apenas um nome se destacava dos outros 'dois ou três cardeais', Herranz escreve que a eleição de Ratzinger foi antecipada na Alemanha, antes do anúncio oficial, por 'alguém presente na Capela Sistina'. A situação foi diferente em 2013, porém, porque 'não eram apenas dois ou três, mas cerca de quinze cardeais considerados ‘favoritos’ por determinados grupos de eleitores'", escreve Giovanni Maria Vian, catedrático de Filologia Patrística na Universidade de La Sapienza e diretor do jornal L’Osservatore Romano nos anos 2007-2018, em artigo publicado por Domani, 11-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quem será o sucessor do Papa Francisco? Muitos meios de comunicação escreveram sobre isso novamente na ocasião da cirurgia sofrida por Bergoglio. Mas pouco antes previsões e especulações haviam se multiplicado por causa da saída do colégio dos eleitores em um futuro conclave, por limites de idade, do octogenário cardeal Crescenzio Sepe.
Por isso, há cerca de dez dias mais de dois terços dos atuais eleitores – a maioria exigida para a eleição de um papa – resultam escolhidos pelo pontífice argentino, e a circunstância reacendeu o tema da sucessão papal.
Previsões desse tipo, porém, são exercícios inúteis, como tem demonstrado, para se limitar às últimas décadas, a história do papado. Durante o pontificado de Wojtyła, as previsões de seus sucessores começaram em 1995, dez anos antes de sua morte, mas gradualmente todos os supostos candidatos foram sendo descartados.
Em 2013, a repentina renúncia de Ratzinger pegou todos os jornalistas de surpresa. Finalmente em 2020 The Next Pope (Sophia Institute Press), escrito pelo jornalista Edward Pentin, muito crítico de Bergoglio, examinou cerca de vinte candidatos à sua sucessão, alguns dos quais já falecidos.
“O próximo papa: o ofício de Pedro e uma Igreja em missão”, novo livro de George Weigel. (Foto: Divulgação)
Há poucos dias foi lançado na Espanha Dos papas (Rialp) de Julián Herranz, um livro também sobre tais aspectos definitivamente mais interessante e bem fundamentado. O autor, médico psiquiatra e depois jurista, expoente proeminente do Opus Dei, é um dos últimos cardeais de João Paulo II, e nessa qualidade foi um dos eleitores do conclave de 2005. Agora com 93 anos, ele não participou da eleição de Bergoglio devido aos limites de idade, mas esteve presente nas reuniões fundamentais – as congregações gerais abertas a todos os cardeais – que se realizam durante a sede vacante antes da votação.
Os dois papas de Herranz são Bento XVI e Francisco. Mas as quase quatrocentas páginas recém-publicadas pressupõem e continuam seu mais amplo Nei dintorni di Gerico (Ares). Publicado em 2006, o livro abordava muitos dos bastidores dos quarenta anos anteriores: de preparação do concílio até todo o pontificado de João Paulo II, que instituiu o Opus Dei como "prelatura pessoal" - única na Igreja, mas agora em revisão - e depois proclamou bem-aventurado e santo seu fundador, Josemaría Escrivá, que o autor conheceu em 1950.
Homem da Cúria discreto e respeitado, Herranz fez parte, com os Cardeais Tomko e De Giorgi (também com mais de oitenta anos e, portanto, não mais eleitores), da comissão restrita nomeada em 2012 por Bento XVI para investigar o incrível e escandaloso vazamento de documentos confidenciais.
Os autos e os resultados da investigação foram entregues apenas ao papa Ratzinger, que demonstrou - escreve agora o prelado andaluz – “tê-los lido com atenção”. O pontífice havia decidido transmiti-los apenas ao seu sucessor, e essa sábia decisão ajudou os três cardeais, "em meio às tensões" do conclave que estava para acontecer, a manter a confidencialidade do que haviam apurado.
Terminado o livro, Herranz enviou o texto ao Papa Francisco para pedir permissão para publicar partes de sua correspondência privada com o pontífice argentino. E Francisco, em 11 de fevereiro no ano passado, respondeu com uma carta pessoal de duas páginas manuscritas em espanhol reproduzida em fac-símile no livro.
“Caro irmão, seu gesto me comove” começa Bergoglio, que também lembra como – logo após a eleição de Ratzinger – o cardeal o havia convidado para almoçar com o colega brasileiro Hummes. "Herranz é muito inteligente: está pensando no próximo Conclave", comentou na ocasião um anônimo, citado pelo Papa Francisco.
Das duas últimas eleições papais, o livro revela detalhes interessantes. Para aquela de 2005, quando apenas um nome se destacava dos outros “dois ou três cardeais”, Herranz escreve que a eleição de Ratzinger foi antecipada na Alemanha, antes do anúncio oficial, por “alguém presente na Capela Sistina”.
A situação foi diferente em 2013, porém, porque “não eram apenas dois ou três, mas cerca de quinze cardeais considerados ‘favoritos’ por determinados grupos de eleitores”. Herranz lista oito: o brasileiro Scherer indicado pela cúria, Scola pelos italianos - não todos, para dizer a verdade - e depois O'Malley, Dolan e Ouellet pelos norte-americanos, Bergoglio pela América Latina, por fim o ganês Turkson e o filipino Tagle pelos outros continentes.
O cardeal espanhol critica duramente as atuais tentativas de "manipular o próximo conclave" de parte de grupos conservadores, como "em outros tempos faziam os monarcas de nações católicas". Entre essas operações, amadurecidas em círculos contrários ao Papa Francisco, menciona o projeto Red Hat Report - os "barretes vermelhos" são obviamente aqueles cardinalícios - lançado em 2018, mas também o livro do intelectual estadunidense George Weigel, The Next Pope, fortemente crítico em relação a Bergoglio.
Publicado em 2020 como o homônimo de Pentin, o livro de Weigel – biógrafo de João Paulo II – foi enviado a todos os cardeais do mundo por um seu colega estadunidense. "Eu o respeito por outras razões", conclui Herranz, mas, contudo, comenta: "Não me pareceu correto." O prelado espanhol não menciona seu nome, mas se trata de Dolan, o influente arcebispo de Nova York.
Com franqueza incomum, Herranz também escreve sobre o "processo do século" que está sendo realizado no Vaticano e envolve o cardeal Becciu, com uma fuga de "indiscrições" que acabam na mídia.
“Um fato que prejudica ou pode prejudicar a independência do Papa e causa danos à imagem da Igreja e do Pontificado é o vazamento de notícias relativas a condutas criminosas ainda em fase de investigação ou de processo”, escreveu Herranz em uma nota “sobre a administração da justiça”, definida como “uma simples reflexão pessoal, sem vínculo de segredo de ofício”, que o cardeal entregou a Francisco no último dia 17 de dezembro.
A própria "independência do processo" está em perigo, afirma o cardeal. E conclui: “Além disso, o fato de os tribunais do Estado do Vaticano serem compostos em sua maioria por juízes e promotores de justiça procedentes da Magistratura de uma determinada nação põe em dúvida se aquele foro seja o mais lógico e competente para julgar crimes que pela sua natureza dizem respeito ao bem comum da Igreja universal" e se referem a "membros da hierarquia eclesiástica e órgãos de governo da Santa Sé."
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Na sombra de São Pedro. O eterno conclave que prepara a sucessão do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU