30 Janeiro 2023
Na Ucrânia "a situação está se agravando". Não é possível saber quando a guerra vai acabar. Mas todos os representantes religiosos do país agredido pela Rússia, reunidos no Conselho das Igrejas (que congrega 15 realidades ortodoxas, católicas, evangélicas, judaicas e muçulmanas) continuam a rezar por "uma paz justa". Recordaram-no ontem os representantes da entidade, que na Ucrânia é considerada uma ONG, ao encontrarem-se com jornalistas no final da visita que fizeram ao Vaticano nos últimos dias, que incluiu também um encontro com o Papa. Ontem também foi confirmado que os ortodoxos antes ligados a Kirill se separaram do patriarcado de Moscou.
A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada por Avvenire, 27-01-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Naturalmente, explicaram os presentes ao responder perguntas da mídia, foi renovado o convite a Francisco para ir ao seu martirizado país. “O Santo Padre - disse ao arcebispo Major de Kiev Sviatoslav Shevchuk - acompanha os desdobramentos da situação que se está agravando e espera o momento certo para vir. Ainda não temos uma resposta, mas o Papa é aguardado por todos os ucranianos, não apenas pelos católicos”. Nesse ínterim, porém, se priorizam as razões da defesa. Especialmente na presença de ataques com mísseis que ceifam vítimas civis e destroem infraestruturas de vital importância. Quando perguntado sobre como os líderes religiosos ucranianos veem os envios de armas ocidentais, Schevchuk respondeu: "Se vocês souberem como parar os tanques russos sem armas, ficaremos gratos". O arcebispo acrescentou: “A guerra é sempre uma derrota para a humanidade, um horror, e deve ser condenada por si mesma. Eu ensinei moral por muitos anos. Mas quando vi as valas comuns, os cadáveres das mulheres e dos jovens, pensei na doutrina católica que havia ensinado e me perguntei: o que podemos fazer agora para deter o agressor? Como podemos proteger a vida? Como podemos parar os tanques russos sem usar armas? É uma pergunta em aberto e se vocês souberem, ficaríamos gratos por uma resposta."
De acordo com Shevchuk, os ucranianos são "obrigados a se defender. Obviamente, essa autodefesa deve ser proporcional. Não sou um especialista militar e não posso dizer se o envio de armas agora é proporcional ou não, mas esperamos que o mundo nos ajude a nos defender porque desde que fomos agredidos não tivemos os meios para a defesa". O prelado então exemplificou. “Como Conselho de Igrejas, fizemos um apelo ao mundo para ter a possibilidade de defender nosso céu derrubando os mísseis russos.
Quando um míssil é abatido, ninguém morre nem na Ucrânia nem na Rússia. Mas quando um míssil cai sobre uma cidade, os mortos e feridos se contam às centenas."
Quais deveriam ser, perguntou-se novamente, as condições para uma paz justa? Schevchuk respondeu: “Discutiu-se sobre isso no encontro com o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin (que recordou a oração constante pela paz e as tentativas de ajudar a Ucrânia: “A guerra é uma ofensa a Deus”, disse o cardeal, ndr). A primeira condição é a liberação do território dentro das fronteiras reconhecidas pelo direito internacional. Isso significa libertar as pessoas que vivem sob ocupação e sofrem perseguições e torturas de todos os tipos (nos encontros dos últimos dias no Vaticano, falou-se também das crianças deportadas, ndr). Depois, a reconstrução do que foi destruído, dois terços do potencial econômico da Ucrânia. E depois ainda, a justiça deve ser feita com um Tribunal Internacional que julgue os crimes de guerra dos russos: não é uma questão de vingança, mas de verdade e justiça". Finalmente, o arcebispo maior de Kiev relatou o espírito com que as pessoas enfrentam a situação: “Vivemos no escuro, sem eletricidade e sem aquecimento. Mas também sem russos”. Os testemunhos dos outros participantes da conferência de imprensa também seguem essa linha: o bispo da diocese ucraniana da Igreja Armênia, Marcos, o arcebispo metropolitano de Lviv dos latinos, Miec-zyslaw Mokrzycki e Valery Antoniuk, chefe da união pan-ucraniana da Igrejas dos cristãos evangélicos batistas.
Este último em particular lembrou como por trás desta guerra está a ideologia Russkkij Mir (literalmente mundo russo, mas também provocativamente "paz russa"), que se propõe como o último baluarte dos valores cristãos no mundo, contra um Ocidente tomado pelas forças do mal. "Muitos soldados russos estão convencidos de que estão combatendo uma guerra santa", foi ressaltado.
Quanto às propostas de lei para banir a Igreja Russa da Ucrânia, os líderes destacaram que é necessário conciliar "liberdade religiosa e segurança nacional". "Que alguém use a religião para justificar esta guerra é trágico. Devemos aprender com os sábios muçulmanos que tomaram distância do Isis” frisou Shevchuk, colocando no mesmo plano o Daesh e a ideologia Russkkij Mir.
Antes da coletiva de imprensa, os representantes do Conselho de Igrejas haviam ido ao Hospital Bambino Gesù, como forma de agradecimento pelo acolhimento de quase 2.000 crianças ucranianas em fuga da guerra e necessitadas de cuidados. A presidente do hospital, Mariella Enoc, disse: “A missão do nosso hospital é ajudar as crianças do mundo. Elas não são apenas vítimas da guerra, mas protagonistas do nosso futuro e têm o direito de serem felizes”. O bispo Marcos observou: “Vocês não só abriram as portas do hospital, mas também o coração”.
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“Muitos russos convencidos que é uma guerra santa. Uma tragédia usar a religião para se justificar" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU