12 Abril 2022
Da mesma forma que os católicos clericais de monsenhor Carlo Maria Viganò, antiglobalista de matriz trumpiana-putiniana, também Sua Santidade Kirill agora convoca o diabo e o Anticristo para as forças que se opõem à guerra do czar Vladimir na Ucrânia.
O comentário é de Fabrizio D'Esposito, publicado por Il Fatto Quotidiano, 11-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
No sermão de 7 de abril (festa da Anunciação da Santíssima Theotokos, a mãe de Cristo), o patriarca ortodoxo de Moscou e de todas as Rússias disse, detendo-se sobre os acontecimentos bélicos:
"Não há nada mais vil, terrível e repugnante que a provocação interna de conflitos, mas muitas vezes as pessoas, sob forte pressão da propaganda, perdem a orientação na vida e ficam tão enredadas na rede do diabo a ponto de não conseguir distinguir a verdade da mentira e estão prontas a agir por instigação do maligno." E depois, reiterando mais uma vez a identidade russa e cristã da Ucrânia: “Nossa oração hoje é que a unidade espiritual da terra russa seja preservada. E por que as forças externas se levantaram em terras russas? Por que tentam destruí-la, dividi-la, colocando irmão contra irmão? Há uma menção na Escritura de uma certa força que anuncia a vinda do Anticristo ao mundo”.
No mesmo dia, 7 de abril, o patriarca foi condenado em uma resolução do Parlamento Europeu. Sob acusação está o papel de Kirill no sistema de poder e repressão de seu amigo Putin: "Ele condena o papel do patriarca de Moscou Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, em fornecer cobertura teológica para a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia".
Completamente isolado no mundo ortodoxo por seu cesaropapismo neoczarista, o patriarca de Moscou exalta quase diariamente seu apoio à ideologia ultranacionalista da Grande Mãe Rússia. Eis outro sermão de Kirill, aquele proferido no funeral do inapresentável profeta de guerra na Ucrânia Vladimir Zhirinovsky, em 8 de abril: "Ele possuía muitas habilidades e talentos, era uma pessoa brilhante e convincente (...)". Mas a razão do “alto respeito” conquistado em vida “no nosso povo, e entre muitos, o amor” foi “a sinceridade com que defendeu as suas convicções”.
Em outra mensagem, de 5 de abril, o patriarca não esquece o imperialismo político-espiritual pan-eslavista, felicitando Aleksandar Vucic por sua reeleição como presidente da República da Sérvia: "Os povos da Sérvia e da Rússia, unidos pela fé, pela cultura e pelas tradições ortodoxas, estão ligados por antigos laços de fraternidade e, em tempos históricos difíceis, sempre estiveram prontos a ajudar-se mutuamente. Hoje, diante de pressões políticas e econômicas sem precedentes vindas de fora de nossa pátria, o apoio da liderança e do povo sérvio é particularmente caro para nós”.
Sobre essas bases, então, resta entender que efeitos concretos poderá ter o segundo encontro histórico entre Kirill e o papa Francisco, depois daquele em Havana em 2016. Provavelmente acontecerá em junho e, de acordo com o secretário de Estado vaticano Pietro Parolin, será novamente em território neutro, no Oriente Médio. Há duas hipóteses: Beirute, no Líbano, ou até mesmo Jerusalém.
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Cesaropapismo. A guerra santa e cotidiana do Patriarca Kirill, condenado pelo Parlamento da UE - Instituto Humanitas Unisinos - IHU