De Roma, o padre e advogado Marcelo Gidi garante que o Sumo Pontífice fará uma mudança na hierarquia da Igreja chilena com vistas a “renovar um pouco o ambiente”.
A entrevista é de Dierk Gotschlich, publicada por El Mercurio, 14-04-2018. A tradução é de André Langer.
Morando em Roma, o padre jesuíta Marcelo Gidi diz que ali não se percebe a tensão que “provavelmente se sente no Chile”. No entanto, apesar da distância, o advogado da Universidade do Chile e doutor em Direito Canônico tem medianamente claro o que poderá acontecer com a cúpula eclesiástica nacional: “Haverá as mudanças que alguns bispos estavam esperando, mas (o Papa) também fará as nomeações apropriadas para melhorar a situação da Igreja chilena, com vistas a renovar um pouco o clima por lá”, disse o também professor da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Eis a entrevista.
Essa renovação será uma mudança profunda?
Sim, são as nomeações mais importantes que estiveram na base do problema que ele [o Papa] encontrou e que consegue compreender melhor agora, mas não antes. Portanto, pode haver mudanças principalmente na hierarquia, de pessoas que estão no governo da Igreja, e isso pode ajudar. É possível prever que em Osorno fará algo mais do que apenas nomear um novo bispo: é uma diocese que está bem abalada. Por isso, caso queira reformar e, eventualmente, remover dom Barros, não vai nomear apenas um novo bispo, mas terá em vista um maior cuidado e proximidade.
Poderia haver uma punição extraeclesiástica em relação ao bispo Barros?
É preciso ver com base em quais informações o Papa vai tomar a decisão. Ele disse que na carta que recebeu (N. da R.: o relatório do arcebispo Charles J. Scicluna) há pontos de vista pastorais e jurídicos. Em relação à pergunta se do ponto de vista jurídico há elementos que para a Igreja são não apenas um erro, mas uma falta, um crime, a Igreja tem os meios para punir qualquer tipo de pessoa que se tenha envolvido nessa situação, que não é a situação exclusivamente de Barros. Há tantas situações às quais o Papa faz referência.
Como você acredita que os bispos vão encarar essas mudanças?
Bem, pelo que eu li daqui, estão bem disponíveis. Tenhamos presente que entre o dito e o fato há uma pequena distância. Eu espero que essa boa disposição realmente os ajude a se sentirem bons pastores e não perseguidos por tantas situações que, direta ou indiretamente, os afetaram em seu governo pastoral. São pessoas boas e todos se viram afetados por situações nas quais nem todos participaram.
Segundo Gidi, as mudanças que a Igreja chilena sofrerá não servirão para nada se não houver a colaboração de todos os seus membros.
“O mais importante é o apoio da sociedade chilena, dos fiéis católicos, mas também do episcopado. Eles precisam se sentir responsáveis por fazer uma reestruturação e isso representa uma mudança de mentalidade e de estilo”, conclui.
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"Em Osorno, o Papa fará mais do que nomear um bispo: é uma diocese bem abalada" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU