31 Março 2025
Davi Kopenawa, xamã e porta-voz do povo Yanomami, dedica sua vida à proteção da Amazônia. Nasceu nos anos 1950, no território Yanomami, uma vasta região de floresta que abrange partes do Brasil e da Venezuela. Desde jovem, foi testemunha da devastação causada pelos garimpeiros e as epidemias trazidas por forasteiros. Sua comunidade sofreu doenças até então desconhecidas, e muitas famílias foram dizimadas.
A reportagem é de Guillem Pujol, publicada por La Marea-Climática, 11-03-2025. A tradução é do Cepat.
Sua luta política começou nos anos 1980, quando após inúmeras tentativas frustradas, conseguiu que o governo brasileiro reconhecesse oficialmente o território Yanomami, em 1992. “Vinte anos atrás, era muito difícil fazer com que o governo federal do Brasil fizesse um bom trabalho para reconhecer o território Yanomami. Nossa terra é fundamental para todos nós. Sem a terra, sem um lugar para viver, não existiríamos”, relembra Kopenawa em uma palestra no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB).
Contudo, aquele reconhecimento não garantiu a segurança de seu povo. Apesar do status legal, a invasão de garimpeiros ilegais nunca parou. Durante o governo de Jair Bolsonaro, a situação chegou a um ponto crítico: “Dizem que eram poucos garimpeiros, mas eu, que estava lá, vi 70.000 entrarem no território Yanomami, entre os anos 2020 e 2022. Vi parentes e crianças morrerem, infectados pelos invasores”.
A luta de Kopenawa não se limita a denunciar os abusos na Amazônia. Sua visão vai além e se torna uma crítica radical a um sistema econômico que destrói não só o seu mundo, mas o de todos. Em seu discurso, o líder yanomami desmistifica a ideia de que o problema é exclusivamente ambiental ou localizado na Amazônia.
Para Kopenawa, o desmatamento não é um acidente, nem um dano colateral do desenvolvimento, mas uma estratégia consciente do capitalismo global: “O povo da mercadoria não ama a vida, nem a água, nem a floresta. A Amazônia nos dá saúde, alegria. Tudo isto é muito bonito, mas a civilização não a está respeitando”.
Essa destruição corresponde a uma lógica extrativista que vê a floresta como um recurso comercializável. “O que o Estado quer? Pedra, rochas, madeira. Quer o desmatamento para plantar soja. Estão deixando pouca floresta, e os xapiri - um ser espiritual que ajuda os Yanomami a proteger a terra - estão bravos, porque nossa floresta no Brasil está sendo afetada”.
Para os Yanomami, a floresta não é apenas um espaço físico, mas um equilíbrio vital que, ao ser rompido, gera consequências desastrosas. Também denuncia o fato de a água ter se tornado apenas mais um produto dentro da lógica do mercado. “Agora, a água se tornou uma mercadoria: é engarrafada e vendida. A água não deve ser engarrafada, deve ser deixada como nasceu, nas montanhas”.
A mudança climática é outra das grandes preocupações de Kopenawa, e sua experiência como líder indígena lhe permite ver as consequências em primeira mão. “Ouvi os xapiri yanomami falarem sobre a mudança climática. Estamos lutando como nossos pais lutavam. Os xapiri se preocupam com o planeta Terra. E nós somos filhos dos xapiri, e continuamos lutando, porque se não lutarmos e ficarmos de braços cruzados, sem prestar atenção em nosso mundo, teremos muitos problemas”.
Esses problemas, no entanto, já estão aqui. Seca, incêndios descontrolados e o desaparecimento de espécies são sinais de um desastre iminente. “O clima está mudando. Onde não há chuva, as árvores morrem de sede. As folhas que caem no chão secam e, quando são incendiadas, permitem que tudo seja queimado. Estão queimando, inclusive, as árvores pequenas”.
Apesar da urgência do problema, Kopenawa é cético em relação às grandes cúpulas climáticas e os discursos vazios dos líderes mundiais. Sobre a COP30 no Brasil, ressalta: “Podem gastar muito dinheiro e organizar reuniões muito bonitas, mas isso não resolve nada. Mas também tenho que ir lá para que nos escutem. Eu também sou uma autoridade do povo Yanomami. Então, se formos convidados, aceitarei o convite”.
Davi Kopenawa não é apenas um líder indígena que defende a sua terra. Sua mensagem é uma advertência para o mundo inteiro. Sua luta contra a destruição da Amazônia é também uma luta contra um modelo econômico que coloca em risco o equilíbrio climático global. “Por isso, estou aqui: em defesa da terra, da água, dos peixes. Esta é a minha luta. Peço o apoio de vocês. É muito importante que vocês lutem também”.