15 Outubro 2024
"Sobre o que eles estão falando?" Um resumo dos primeiros oito dias da segunda sessão do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade.
A reportagem é de Mikael Corre, publicada por La Croix, 14-10-2024.
Errata. Ao contrário do que escrevi no meu Diário do Vaticano de 5 de outubro, a Sala Paulo VI, onde estão ocorrendo as discussões do Sínodo sobre a Sinodalidade, em Roma, não estava decorado com 12 palmeiras de plástico. "Eu verifiquei antes, as palmeiras não são de plástico, são reais", corrigiu um atento membro da Assembleia Plenária.
Este ano, o clima está mais relaxado do que em outubro de 2023. Os cerca de 350 participantes já se conhecem, e apesar das diferenças de cultura e sensibilidade, a maioria está feliz por se reencontrar. "Ei, como você está? Tudo bem?", perguntou um bispo asiático a um de seus colegas sul-americanos no meio-dia de 4 de outubro. Os dois homens passaram juntos pelas grandes portas do auditório, flanqueados por guardas suíços. "Café?"
No ano passado, o papa pediu aos padres e mães sinodais – cerca de 50 mulheres estão presentes – que não respondessem aos jornalistas. Este ano, ele não disse nada sobre o assunto. Deve-se dizer que a pressão da mídia diminuiu. Quando questionado, o Vaticano não forneceu ao La Croix o número de jornalistas credenciados em 2023 e este ano. Mas a diferença é notável: "É bom que haja menos de vocês, estamos menos incomodados", brincou um bispo anônimo, descrevendo uma genuína "serenidade" nas discussões, com um ambiente mais calmo e "mais orante".
No entanto, a cobertura reduzida da mídia também reflete certo desinteresse. Na França, as buscas no Google pela palavra "sínodo" caíram 77% entre 04-10-2023 e 02-10-2024, os dias de abertura das duas sessões romanas. "Muitos perderam o interesse quando o papa anunciou a remoção de temas como o diaconato feminino e o celibato sacerdotal", disse a irmã francesa Christiane Joly De Envoyés ensemble ! Le rôle des femmes dans la mission de l’Église, Saint-Léger Editions. citada por minha colega Malo Tresca. De fato, em 22 de fevereiro, o Papa Francisco anunciou a criação de uma dúzia de "grupos de estudo" paralelos ao sínodo, encarregados de explorar certos temas discutidos em outubro passado, até junho de 2025. "Então, sobre o que estão falando este ano?", perguntou-me esta semana um leitor conservador, preocupado "com o que está sendo tramado neste sínodo secreto".
Aqui está um resumo do que aconteceu desde o início desta segunda sessão, particularmente os primeiros oito dias, durante os quais o papel das mulheres permaneceu um tópico de discussão.
Quarta-feira, 2 de outubro: Diaconato feminino "não está pronto"
O sínodo foi reaberto no auditório Paulo VI. Após algumas palavras introdutórias, os representantes dos grupos de estudo criados pelo papa se apresentaram à assembleia. Os temas incluíam: "Relações com as Igrejas Católicas Orientais" (Grupo 1), "Ouvir o Clamor dos Pobres" (Grupo 2), "Missão no Ambiente Digital" (Grupo 3) e "Formação Sacerdotal" (Grupo 4).
Leitura adicional: Sínodo: advertências do Papa Francisco para evitar tensões.
Ao contrário dos outros grupos, o Grupo 5 – encarregado de estudar "O Papel das Mulheres na Igreja" Intitulado: “Algumas questões teológicas e canônicas sobre formas ministeriais específicas”. – não é composto por especialistas de todo o mundo, mas foi confiado exclusivamente ao Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF). Ao dirigir-se à assembleia, seu prefeito, o cardeal Victor Manuel Fernández, lembrou aos participantes que a questão das diaconisas "não está pronta", segundo o Papa Francisco.
Quinta-feira, 3 de outubro: Grupos de Estudo abertos
A apresentação do dia anterior gerou algumas críticas dentro da assembleia. Alguns membros se sentiram excluídos do trabalho dos grupos de estudo e solicitaram participação. A Secretaria Geral do Sínodo tentou aliviar a situação: "Até junho de 2025, qualquer pessoa pode enviar contribuições" aos diversos grupos, declarou o cardeal Mario Grech durante a sessão. Isso incluía membros da assembleia, bem como "qualquer fiel, grupo, associação ou comunidade", esclareceu o Pro-Secretário Geral do Sínodo.
Primeiras discussões em torno de pequenas mesas redondas (circoli minori) de cerca de dez pessoas. Tema: "Os Fundamentos da Sinodalidade".
Sexta-feira, 4 de outubro: Mulheres no Grupo 5
36 intervenções abertas no auditório Paulo VI. 90 minutos. Um participante do Sínodo descreveu como uma "lacuna" o fato de que as mulheres são vistas pela Igreja apenas como consoladoras e não como indivíduos. Outro lembrou que algumas mulheres se sentem chamadas "a serem ordenadas". Várias vozes pediram que o diaconato feminino permanecesse na agenda e solicitaram que as mulheres fossem incluídas no Grupo 5, encarregado de estudar a questão.
De maneira mais ampla, o tema do dia focou no desenvolvimento de uma "espiritualidade de sinodalidade".
Sábado, 5 de outubro: Sem descanso à tarde do dia 18
Foi realizada uma votação. A assembleia votou com quase 75% de aprovação para transformar a pausa da tarde programada para 18 de outubro em uma reunião com os representantes dos grupos de estudo. Aqueles que desejarem discutir o papel das mulheres na Igreja serão recebidos no DDF, onde a coordenação do trabalho deste tema foi confiada ao secretário da Seção Doutrinal, Dom Armando Matteo. Um documento está sendo preparado.
Pergunta do dia: "Como a Igreja pode melhor cumprir sua missão por meio da sinodalidade?"
Domingo, 6 de outubro: Carta ao Oriente Médio
Sem sessão. Oração do rosário pela paz na Basílica de Santa Maria Maior. Publicação de uma carta do papa aos católicos do Oriente Médio.
Segunda-feira, 7 de outubro: €62.000 para Gaza
O trabalho foi retomado no auditório Paulo VI, onde um dia de oração e jejum foi realizado em memória do ataque do Hamas a Israel. Foi organizada uma coleta dentro da assembleia para apoiar a paróquia de Gaza. Foram arrecadados $67.758.
Leitura adicional: Sínodo: uma vigília de perdão pelos "pecados" na igreja, na véspera da segunda sessão.
Mudança de tema: "Relações" dentro da Igreja. Após refletir sobre os fundamentos da sinodalidade, os membros da assembleia agora são convidados a fazer propostas concretas.
Terça-feira, 8 de outubro: Almoço com católicos LGBTQI
Durante o intervalo para o almoço, um punhado de participantes do sínodo (cardeal Stephen Chow, de Hong Kong, a estudante Julia Oseka, de Filadélfia...) se reuniu no auditório da Cúria Jesuíta, perto do auditório Paulo VI. O jesuíta americano padre James Martin, também membro do sínodo, convidou-os para se encontrarem com católicos LGBTQI e compartilharem experiências.
No auditório Paulo VI, algumas intervenções pediram maior inclusão das pessoas homossexuais, enquanto outras criticaram o movimento LGBTQI como um grupo de pressão.
Quarta-feira, 9 de outubro: Eleição do Comitê de Redação do Documento Final
Eleição na manhã do comitê de sete membros que supervisionará o documento final do Sínodo, com um representante por área geográfica Austrália e Oceania, Ásia, Oriente Médio, África, América do Sul, América do Norte e Europa. O cardeal francês Jean-Marc Aveline foi eleito após três rodadas de votação para representar os europeus. Do lado africano, o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM), foi eleito por maioria absoluta na primeira rodada.
Os católicos do Oriente Médio serão representados pelo bispo libanês D. Mounir Khairallah. O documento final do Sínodo, que deve ser publicado no fim de semana de 26 de outubro, visa fazer propostas concretas para tornar a Igreja mais sinodal.
Continua...
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