A hipocrisia do celibato

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08 Outubro 2024

Pobreza, arrependimento e celibato: aos 27 anos, Marc faz seus votos e se torna padre. Por quinze anos, respeita a obrigação da castidade, mas em 2017 conhece Ingrid, uma paroquiana. Marc e Ingrid ficam amigos por dois anos, mas têm que se render à realidade: eles se amam e querem viver sua história de amor livremente. Marc, mas também Wolfgang, Pierre e Bernard... renunciaram ao seu compromisso com a Igreja Católica para parar de viver na mentira. Os diretores Rémi Bénichou e Éric Colomer falam sobre isso, documentando essas vidas duplas em Célibat des prêtres, le calvaire de l'Église.

A reportagem é de Lysiane Larbani, publicada por Temoignage Chretien, 03-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

O documentário, edificante e esclarecedor, se debruça longamente sobre as graves consequências da regra da castidade imposta pela Igreja Romana desde o século XII. Atualmente, muitos padres denunciam o vazio afetivo criado pela obrigação do celibato e os sofrimentos causados por sua transgressão - a sua própria, mas também a de mulheres e crianças escondidas. De acordo com os cineastas, quase metade dos padres europeus não respeita o celibato - são apenas estimativas, pois é impossível documentar o fenômeno com precisão.

“O empenho com a castidade é uma missão sagrada que mergulha muitos padres em um inferno humano”, afirma-se no documentário. A castidade dos padres seria uma “ficção”, uma “hipocrisia” que somente a Igreja Católica continua a impor, apesar da multiplicação de testemunhos de desconforto.

Esse segredo que não é mais tal está levando muitos padres a se desligarem, em uma instituição que está perdendo vocações: nos últimos vinte anos, o catolicismo perdeu metade de seus ministros na França. De acordo com o Papa Francisco, a Santa Sé deplora uma “hemorragia” nos últimos quarenta anos: há 70.000 padres a menos no mundo.

“Por que o Papa não põe fim à ilusão do celibato que está corroendo a sua Igreja?”, pergunta-se o filme. Em outubro de 2019, o Sínodo sobre a Amazônia considerou a possibilidade de ordenar homens casados, mas o campo conservador se opôs. Uma “oportunidade histórica” perdida. “Essa perspectiva disciplinar provavelmente não pode ser mudada, nem mesmo pelo Papa, porque levaria imediatamente a um cisma na Igreja”, afirma Marie-Jo Thiel, professora de ética na Faculdade de Teologia Católica da Universidade de Estrasburgo.

Referência

Bénichou, Rémi; Colomer, Éric. Célibat des prêtres, le calvaire de l'église, 1h40, arte.tv.

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