23 Junho 2023
O número de membros da Igreja na Alemanha está diminuindo. Mas o congresso da Igreja Evangélica alemã em Nuremberg reiterou que os cristãos ainda existem. Eles são chamados para trazer esperança em tempos difíceis.
A reportagem é de Antonio Dall'Osto, publicada por Settimana News, 19-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Então, aqui estão eles novamente reunidos: 4 anos depois, aconteceu em Nuremberg o congresso da Igreja Evangélica alemã (Kirchentag). As pessoas participaram com seus lenços – desta vez verdes e amarelos – e em clima de festa. Durante os anos da epidemia de Coronavírus, muitos expressaram um grande desejo de poder se encontrar presencialmente de novo, o que finalmente se concretizou (7 a 11 de junho de 2023).
Sob o lema Agora é a hora, o 38º congresso, graças também ao agradável clima de verão, ofereceu uma boa oportunidade de propiciar numerosos momentos de encontro. E as pessoas aproveitaram. Com um total de 70.000 visitantes, o congresso - embora não tenha atingido as 120.000 presenças como em Dortmund em 2019 - foi bastante concorrido e, no final, o presidente do congresso, Thomas de Maiziere, declarou-se muito satisfeito: “Estamos de volta, estamos felizes." A atmosfera era relaxada, os corações abertos e a mente lúcida.
Uma placa com as palavras "Igreja superlotada" foi afixada nas portas da igreja de São Paulo. A referência dizia respeito tanto às numerosas propostas espirituais quanto ao denso programa cultural e à presença dos vários oradores.
A atenção do congresso focou a crise climática, a democracia e a ética da paz. O tema dos abusos foi abordado numa escala bastante reduzida. Os eventos relacionados a esse tema não despertaram grande interesse. A Igreja evangélica ainda parece estar com dificuldade a esse respeito e prefere considerar o problema olhando para os católicos.
Ao contrário dos agressivos programas de entrevista da televisão, o Kirchentag conseguiu criar um bom ambiente para debates delicados e desafiadores. "As pessoas - disse de Maiziere - dialogam aqui de maneira diferente do que nos espinhosos debates políticos". O Frankenhalle de 5.000 lugares no distrito das feiras estava lotado quando o chanceler Olaf Scholz (SPD) explicou com decisão porque a Alemanha está ajudando a Ucrânia, inclusive com as armas.
Quando um fogoso pacifista gritou em voz alta: “Negociar!”, Scholz reagiu à provocação afirmando: “Negociar é bom; o problema é quem deve negociar, com quem e sobre o quê”. Obrigar a Ucrânia a aceitar a agressão do presidente russo, Vladimir Putin, não é razoável. Ao mesmo tempo, Scholz anunciou que gostaria de falar novamente em breve também com Putin. No entanto - disse - deve ser claro o pressuposto, ou seja, que a Federação Russa deve primeiro retirar suas tropas da Ucrânia caso se queira negociar uma paz justa.
Também foi significativo o encontro do ministro federal da economia, Robert Habeck (Verdes), com a ativista climática Clara Hinrichs. Ambos concordaram que não era oportuno buscar os culpados que não reagiram a tempo à catástrofe anunciada há anos. Em vez disso, chegou o momento de agir.
Habeck encorajou a Alemanha a mudar para a energia verde. A mesma exortação veio de Joe Kaeser, presidente do conselho de supervisão da Siemens Energy. A Alemanha deve mostrar às outras nações, com seus engenheiros, como essa transição seja possível por meio de centrais eólicas e fotovoltaicas e outras tecnologias.
O CEO do Deutsche Bank, Christian Sewing, também se mostrou otimista: “Podemos reverter e influenciar as situações. Os cientistas na Alemanha conseguiram, por exemplo, encontrar uma vacina contra o Coronavírus muito rapidamente. Esse é um sinal de coragem e de eficiência. É importante continuar com o mesmo espírito".
Não foi esquecido o fato de que as instituições e os políticos cometeram erros com os quais deveriam aprender. “Apostamos na confiança e demos crédito a muitas pessoas”, confessou Thorsten Latzel, presidente da Igreja Evangélica da Renânia. "Sem perdão, não há futuro", declarou o primeiro-ministro da Baviera, Markus Söder (CSU). É um princípio fundamental da vida e das relações humanas.
O presidente federal Frank-Walter Steinmeier encorajou os cristãos a se engajarem. “Seja uma questão de como renovar o nosso país – declarou – ou de saber como será uma sociedade justa em um futuro em que convivem pessoas de religiões, origens e crenças muito diferentes, precisamos de suas contribuições, de suas ideias, de suas convicções, que têm o seu fundamento na fé".
O bispo regional da Baviera, Heinrich Bedford-Strohm, expressou o desejo de que o congresso da Igreja inspire esperança na sociedade e se torne uma espécie de central elétrica. "É o que aconteceu", disse com entusiasmo o prefeito de Nuremberg, Marcus König (CSU). Como católico, falou de uma "narrativa de fé do verão de 2023" com momentos de rara intensidade.
O Congresso da Igreja Evangélica alemã é um evento importante para os leigos protestantes. É celebrado em uma cidade diferente a cada dois anos. O programa inclui serviços religiosos, estudos bíblicos, debates, concertos e festivais.
O primeiro Kirchentag foi realizado em Hanover em 1949. Desde 1959 os encontros se alternam com o Congresso Católico, o Katholikentag, a cada dois anos. O ente jurídico que o representa é a "Associação para a Promoção do Congresso da Igreja Evangélica alemã" com sede em Fulda.
Não existe nenhuma concorrência e muito menos rivalidade entre o congresso protestante e católico. “Participamos dele como irmãos”, declarou a secretária geral, Kristin Jahn, em entrevista concedida por ocasião do congresso de Nuremberg. “Temos funcionários que trabalham conosco por um ano e depois passam para o congresso católico. Temos um depósito comum em Hünfeld onde todo o nosso material é armazenado. Somos ecumênicos no plano operacional, porque estamos cientes que ambos estamos organizando um grande evento. Claro que existem diferenças com outros entes e com uma forma diferente de representação das associações ou do voluntariado. Isso é o que nos torna diferentes. Mas não seríamos capazes de fazer isso se não cultivássemos boas relações. É um presente mútuo, em ambos os casos".
No próximo ano, 2024, será realizado o congresso católico, o Katholikentag. Acontecerá em Erfurt, cidade da ex-República Democrática Alemã, onde os católicos representam apenas 7,5% da população. O congresso será realizado de 29 de maio a 2 de junho de 2024 e terá como tema O homem de paz tem um futuro.
“Queremos saber quem é o homem no momento da inteligência artificial e pedir a Deus que conceda a paz à Ucrânia para que depois possamos discutir uma ordem de paz europeia. No Katholikentag esperamos poder dialogar especialmente também com os não-cristãos. Para mim - declarou o bispo evangélico Friedrich Kramer - é extraordinariamente importante que o congresso seja realizado em um novo estado federal, porque muitos cidadãos ocidentais não sabem como vivemos aqui".
Sobre a questão dos abusos, o bispo católico Ulrich Neymeyr disse que essa realidade lhe oferece a possibilidade de dialogar com as vítimas desse crime, vítimas que ele sempre acolhe de bom grado. Muitas vezes – ressaltou – são justamente elas que o convidam para as suas casas, e essas pessoas, acrescentou, “apreciam o fato de um representante da Igreja ir até elas porque se trata de um crime que clama aos céus. No passado, as feridas sofridas não foram tratadas de maneira adequada.
Neymey, juntamente com a presidente do Comitê Central dos Católicos, Irme Stetter-Karp, afirmou ainda: "Como cristãos, é nosso dever trabalhar pela paz sempre que possível". De fato, não há razão para que a Igreja não deva entrar nos debates sociais.
O congresso católico quer, portanto, ser um evento significativo tanto do ponto de vista ecumênico quanto para tornar a paz “política, social e eclesiasticamente forte”.
No encerramento do Kirchentag de Nuremberg, os evangélicos receberam o convite fraterno para participar do Katholikentag. Vejo vocês em Erfurt.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Congresso dos Evangélicos alemães - Instituto Humanitas Unisinos - IHU